O primeiro grande lançamento do Nintendo Switch 2 é Mario Kart World. O novo jogo de corrida de Mario e sua turma chegou ao mercado no mesmo dia que o novo console da Nintendo, em 5 de junho de 2025.
Desde a sua aparição no first-look trailer do Nintendo Switch 2 até o momento em que seu nome e mais detalhes foram revelados no Direct dedicado ao novo console em abril, Mario Kart World nunca deixou de estar na boca do povo. E na ponta de dedos exaltados também, visto que nem toda repercussão nos comentários em redes sociais foi positiva nesses meses antes do seu lançamento.
O primeiro motivo pelo qual o game foi muito falado é a proposta inédita na franquia Mario Kart: um mundo aberto para correr livremente. Mas essa característica logo foi acompanhada por um gosto agridoce: o título foi o primeiro da Big N a adotar a política de preço no valor de US$ 80.
Para a comunidade brasileira, o clima também foi de festa seguido de descontentamento: o jogo é o primeiro da franquia a ter o português brasileiro como opção, mas o preço não foi localizado para a realidade do Brasil, chegando ao nosso mercado por R$ 499,90, valor acima de outros games que praticam a faixa de US$ 80 no exterior e também superior a uma conversão direta, considerando o dólar entre US$ 5,50 e US$ 5,70 (faixa que a moeda tem flutuado nos últimos 30 dias), o que seria algo entre R$ 440 e R$ 456.
Se você acompanha minhas análises aqui na Emerald Corp sabe que eu raramente menciono preço como um fator para estabelecer o veredito. Mas no caso de Mario Kart World é fato que se trata de um atributo que deve ser levado em consideração, dado o contexto.
Isso porque se trate de um jogo lançado junto a um novo console e com uma proposta de mundo aberto (algo visto pela indústria como riqueza de conteúdo – será que se aplica aqui?), pontos que precisam ser somados à adoção de uma nova política de preços e uma conversão consideravelmente acima do que até então era praticado no Brasil e, inclusive, superior à flutuação do dólar atualmente, até mesmo para o game na versão digital.
Vale lembrar que o único jogo da Nintendo que praticou o preço base de US$ 70 no console anterior foi The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom (2023), que no Brasil chegou um tanto adaptado e custava inicialmente R$ 357,99. Após as recentes mudanças da política de preços, agora o praticado aqui é R$ 399,00 na versão digital (mais próximo da flutuação recente do dólar, em conversão direta).
O argumento da Nintendo perto do lançamento de Tears of the Kingdom a US$ 70 foi bem claro: esperem e verão que o jogo tem muito mais conteúdo do que seu antecessor de sucesso, The Legend of Zelda: Breath of the Wild (2017). A comunidade inicialmente não recebeu bem o valor, obviamente, mas assim que foi lançado ficou evidente que o game realmente era muito maior em escopo e muito mais ambicioso em mecânicas do que Zelda BOTW.
Eu concordo com a percepção de que o jogo realmente é tudo o que a Nintendo prometeu, e você pode ler minha análise completa aqui ou assistir ao vídeo de review. Com reviews super positivos e milhões de pessoas em posse do jogo, a experiência positiva de modo generalizado foi suficiente para nunca mais se tocar no assunto “preço do TOTK”.
E agora, Mario Kart World também entrega algo superior ao sucesso de crítica e vendas Mario Kart 8 Deluxe (2017) e será capaz de passar ileso se a Nintendo decidir vendê-lo a US$ 80 / R$ 499,90 apenas individualmente, e não mais com o bundle junto ao Nintendo Switch 2?
Não tenho certeza, mas neste momento diria que não. Continue lendo para entender os motivos para a incerteza a respeito desse jogo que tem ótimos méritos, mas também questões que deixam a desejar.
Mario Kart World: mundo aberto não é a cereja do bolo
O gênero mundo aberto sempre chama a atenção, não importa se é um jogo de aventura, RPG de ação, ou corrida. O novo Mario Kart faz questão de trazer a palavra world (mundo) já em seu nome justamente porque a Nintendo (e a indústria gamer num geral) sabe que liberdade para explorar um grande mapa é algo fácil de vender.
No entanto, o mundo aberto do Modo Livre (Free Roam) não é exatamente a cereja do bolo aqui. Há outras inovações que se destacam mais do que o belo e vasto mapa do jogo, alguns pontos por méritos das próprias novidades criadas, outros por conta de escolhas de desenvolvimento que não casaram bem com a ideia de liberdade.
O primeiro ponto que merece destaque é a gameplay aprimorada e bastante fluida. O jogo é uma bela porta de entrada para mostrar o poder de processamento e performance a 60 quadros por segundo (frames per second – fps) e a beleza gráfica realçada também pela tela de 120hz do Nintendo Switch 2.
A jogabilidade também se destaca por conta de novidades como a liberdade para atirar itens em qualquer direção, melhor controle da câmera e mais possibilidades nas corridas, em especial andar pelas paredes (wallride) e deslizar por superfícies.
Gameplay mais fluida e com diversas opções para atingir os adversário torna Mario Kart World um jogo de corrida frenético e muito viciante, especialmente no modo online. Claro, também é uma forma de passar aquela raiva quando você está prestes a vencer e é deslealmente atingido por tudo o que é possível e… cai para as últimas posições num piscar de olhos.
Outro motivo que supera o mundo aberto é o Modo Eliminatória (Knockout Tour). Essa novidade traz elementos de Battle Royale à franquia, tornando ainda mais desafiadora e viciante a gameplay, especialmente online por conta das melhorias que mencionei antes.
Sabe aquela história de “vou jogar só uma partidinha e desligar”? Isso não existe se você gostar do Eliminatória e/ou de jogar multiplayer (online ou local).
O modo Eliminatória é bem interessante. São 6 fases em sequência divididas em competições diferentes às que existem nas competições tradicionais da franquia. É preciso ficar sempre até determinada posição ao cruzar pontos específicos de cada rota.
Primeiro, você precisa ficar em 20º ou acima, depois 16º ou acima e assim por diante, até que a última rodada mantém apenas os 4 primeiros, para que só um possa vencer. O jogo acaba para você caso fique abaixo de cada linha de corte.
Esses são os grandes méritos que fazem o Modo Eliminatória ser superior e mais viciante do que o Modo Livre. Agora, bora falar sobre o mundo aberto em si, suas virtudes e problemas.
Modo Livre tem uma grande limitação
É curioso e divertido o fato de que o Modo Livre pode ser iniciado já no menu de abertura do jogo, com uma transição suave para que a jogatina se inicie exatamente de onde o último personagem utilizado se encontra no vídeo que passa ao fundo da tela de seleção inicial.
Isso mostra uma capacidade de processamento interessante do Nintendo Switch 2, possibilitando que longos segundos de carregamento fiquem no passado. Além disso, também evidencia que transições suaves agora podem ser uma realidade facilmente viabilizada por desenvolvedores de jogos para o novo console da Big N.
O Modo Livre apresenta um lindo mapa colorido e cheio de vida, que pode ser atravessado em cerca de 10 minutos andando em linha reta de um lado a outro. Cada pista também pode ser facilmente acessada por meio de viagem rápida via menu. Há diversos personagens espalhados no mapa que também podem ser controlados rapidamente da mesma maneira.
O mundo aberto possui uma quantidade satisfatória de atividades para serem feitas. As principais envolvem coletar moedas Peach, ativar painéis “?” e botões “P”, que ativam pequenos desafios à sua frente. No geral esses desafios são simples, como pegar 8 moedas azuis dentro do tempo estipulado, mas há alguns especiais que envolvem ações mais profissionais, como ter 10 segundos para deslizar pela parede numa curva enquanto passa por checkpoints para chegar no arco final.
Há também alguns veículos “especiais” que mudam a gameplay, como por exemplo caminhões com “?” que você pode entrar e controlá-los temporariamente, e discos voadores que você pode ser abduzido para também pilotá-los por um tempo. No caso dos discos voadores, isso também é útil para chegar a pontos mais altos do mapa, onde pode haver moedas Peach, botões e painéis escondidos.
Embora tenham diversos painéis e botões P espalhados pelo grande mapa, considero que rapidamente essas atividades deixam de ser interessantes. Há também outras ações que ocorrem aleatoriamente pelo mundo vivo, entre elas o encontro com o Ledrão. É preciso “brincar de pega-pega” com ele, mas ao capturá-lo, o personagem simplesmente deixa cair moedas. E, bem, moedas não servem para nada muito útil nesse modo de jogo, apenas ganhar adesivos colecionáveis.
O que particularmente mais gosto no Modo Livre é circular por aí em busca das lancherias Yoshi’s, das barraquinhas de comida comandadas por Toads e dos lanches aleatórios que podem ser encontrados nas pistas. Pegar as diferentes opções de comida desbloqueiam diversos trajes, sendo que uns personagens possuem mais visuais do que outros.
Acontece que uma hora essas roupas se esgotam, e se você levar isso muito a sério, esse momento não demora a chegar. Isso evidencia que, no fim das contas, as atividades do Modo Livre não são tão interessantes assim. Os torneios e as batalhas que já são amplamente conhecidos na franquia, assim como a ação frenética do Eliminatória, acabam sendo muito mais divertidas e com potencial de prender a atenção por horas e horas.
Mas o ponto realmente fraco do Modo Livre é a (quase) impossibilidade de jogar em dupla. Eu digo quase porque ao natural você não consegue jogar com mais uma pessoa, mas há algumas maneiras de viabilizar isso. Uma delas é criar uma sala no modo online e o player 2 entrar no lobby (que será o mundo aberto) enquanto espera alguém entrar na sala. Como ninguém vai entrar se você não convidar, é possível ficar andando por aí em tela dividida.
Você deve estar pensando: tá, mas se é possível jogar em dupla, então qual é o problema?
O problema é a estranha escolha criativa de retirar as atividades envolvendo os painéis “?” e os botões “P”. Ou seja, o Modo Livre não é tão livre assim ao jogar no multiplayer local, pois ele não foi pensado para ser jogado assim. Mas sim, ele também foi pensado para jogar assim.
Confuso né?
Eu realmente não entendi a decisão de deixar o mundo aberto (a grande inovação de Mario Kart World) limitado no multiplayer local, sendo que jogar junto com amigos e familiares é um dos pontos mais fortes que a franquia cativou desde o game para Super Nintendo. Até quem não é gamer conhece Mario Kart e topa se divertir se tiver a oportunidade de compartilhar a ocasião com mais pessoas no mesmo ambiente.
Num console que tem até a agregadora nova função GameChat, criada justamente para integrar pessoas que estão distantes, impossibilitar que o mundo aberto seja aproveitado plenamente com quem estiver ao seu lado é um grande ponto negativo.
Por fim, mas não menos importante, é preciso falar da Rainbow Road.
Ahhhh, a Rainbow Road de Mario Kart World… que coisa mais linda! Que visuais fantásticos! Que transições maravilhosas ao longo dessa que é a mais lendária das pistas da franquia. A Nintendo mais uma vez acertou em cheio, e arrisco dizer que essa é a versão mais especial de todas.
Porém…
Ela não está disponível no Modo Livre! Ao menos por enquanto…
Essa é outra escolha que não faz sentido, mas eu particularmente nutro uma esperança que, de alguma forma, ela seja disponibilizada pela Nintendo pontualmente, como em eventos sazonais.
É verdade que a maneira como a Rainbow Road é construída não permitiria uma boa exploração como a que se tem no mundo aberto, mas também vale destacar que o acesso a ela acontece por meio de uma belíssima transição saindo a partir do Estádio Peach. Logo, essa mudança de cenário subindo aos céus poderia alterar também a gameplay, como por exemplo fazer com que seja usado um avião todo o tempo ao invés de trocar para um veículo de rodas.
Trilha sonora e aspectos de qualidade de vida
Outro ponto negativo diz respeito ao acompanhamento dos veículos desbloqueados e das atividades realizadas no mundo aberto. Não existe um tracking que informe qual é o total de botões “P”, moedas Peach e painéis “?”, nem de qual é o total de veículos disponíveis. O único aspecto que se tem ideia de quanto falta para desbloquear tudo são os trajes, cujas silhuetas dos personagens aparecem no menu.
Por outro lado, se tem algo que é a cara da Nintendo é a qualidade da trilha sonora. Mario Kart World é mais um exemplo de músicas lendárias que vão ficar na sua cabeça por muitos anos, além de trazer diversas trilhas antigas remodeladas para entregar aquele agradável sentimento de nostalgia misturada com novidade. A Rainbow Road, que eu tanto enalteci antes, também é épica justamente por causa da trilha sonora.
Veredito
Mario Kart World traz boas inovações à lendária franquia de corrida e se destaca especialmente pela gameplay estilo Battle Royale no Modo Eliminatória. Apesar do mundo aberto ser o carro-chefe, esse modo limita a exploração no multiplayer local, algo difícil de entender o motivo e que vai contra o fator agregador que é uma das marcas mais importantes da série.
Se Tears of the Kingdom conseguiu superar a desconfiança pela mudança na política de preços à sua época, o caminho para Mario Kart World fazer o mesmo agora parece muito mais cheio de cascos vermelhos sempre mirando na reputação do game.
4,0 / 5,0
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Assista ao trailer:
Ficha técnica de Mario Kart World
Lançamento: 5 de junho de 2025
Desenvolvido e publicado por: Nintendo
Plataforma: Nintendo Switch 2
Número de jogadores: Um único console (1 a 4 pessoas), Comunicação local (2 a 8), Online (2 a 24)
Gêneros: Corrida, Multiplayer, Mundo Aberto
Idiomas: Alemão, Chinês Simplificado, Chinês Tradicional, Coreano, Espanhol, Francês, Holandês, Inglês, Italiano, Japonês, Português, Russo
Preço: R$ 499,90