Recriar uma obra-prima e manter a sua essência não é algo fácil, principalmente quando a obra em questão é uma das animações mais aclamadas das últimas décadas. Como Treinar o Seu Dragão, produção de 2010 da DreamWorks dirigida por Dean DeBlois, virou estatística pelas mãos do próprio diretor com o lançamento de um filme live-action e, apesar de toda a desconfiança, podemos respirar aliviados: aqui tudo deu certo.
Digo desconfiança porque live-actions de produções consagradas tem sido um tópico bem sensível, principalmente nos últimos anos. A Disney vem investindo pesado em reimaginar suas propriedades intelectuais, com a maioria das adaptações tendo um resultado bem divisivo entre público e crítica.
O caso mais recente é o de Lilo & Stitch, curiosamente uma produção também dirigida por Dean DeBlois, mas que aqui a Disney optou por excluir o realizador da nova versão. A adaptação para as telonas da história do alienígena fofinho que conquistou o mundo levantou polêmica nas redes sociais, teve uma recepção morna por parte da crítica e alcançou o seu objetivo principal: já arrecadou mais de 800 milhões de dólares ao redor do mundo.
No fim do dia, acaba sendo tudo sobre revisitar esses títulos e ver o que mais eles podem render na grande tela, reativando fãs antigos, criando novos fãs e garantindo lucro. Normalmente, o resultado desses remakes são longas que não chegam nem perto do produto original, fazendo mudanças que não fazem sentido, ou copiando e colando cena por cena sem se preocupar se isso realmente funciona em um live-action.
E é nessa busca por balanço entre execução e mudança que entra Como Treinar o Seu Dragão. Apesar de ser um live-action desnecessário, já que a animação é perfeita por si só, é perceptível o cuidado e carinho que DeBlois tem por essa franquia e como ele dedicou anos para construir um universo coeso e cheio de esperança.
Inspirado no bestseller de Cressida Cowell, o longa conta a história de Soluço (Mason Thames), um menino simples e desajeitado que vive em Berk. Soluço é filho de Stoick (Gerard Butler), chefe da ilha e um dos maiores guerreiros de dragões. O sonho dele é ser como seu pai, mas claramente Soluço não se encaixa no perfil de caçador.
Um belo dia, ele atinge um dragão Fúria da Noite e, ao encontrar o bichinho na floresta sozinho, percebe que tem mais vocação para ser amigo dele do que inimigo. Banguela e Soluço são uma dupla e tanto, dois personagens encantadores e cheios de carisma, e que estão envoltos em uma história que transcende gerações.
Amizade, compaixão e heroísmo são temas rotineiros, e aqui o roteiro segue linha por linha do que vemos na animação. As mudanças são muito mais de ritmo e cadência do que de experimentação, por assim dizer. Se na versão original a produção dura 98 minutos, aqui temos um longa de 129 minutos, mas que em sua essência é quase 100% igual ao original.
A ambientação é exatamente como nos lembramos e os momentos emocionantes também. Mesmo que você já tenha assistido à animação inúmeras vezes e saiba o que vai acontecer, o sentimento de urgência nos momentos tensos permanece o mesmo. É difícil não se emocionar, ainda mais com a excelente adaptação da trilha sonora feita por John Powell, que já é clássica e aqui se torna ainda mais tocante.

E os elogios se estendem a todo o trabalho visual, de figurino e construção desse mundo que tanto encanta crianças e adultos. Seja na modelagem dos dragões, seja na caracterização dos atores, tudo realmente funciona em tela.
Vale destacar a excelente atuação de Nico Parker como Astrid, e Mason Thames como Soluço. Apesar de jovens, os protagonistas se saíram muito bem em seus papéis e exerceram uma ótima química em tela. A Astrid de Nico é outro ponto alto do longa, já que aqui a personagem ganha ainda mais contornos e importância, algo muito bem-vindo para a trama.
No fim das contas, Como Treinar o Seu Dragão consegue evocar aquele sentimento de ser impactado por uma excelente história como se fosse a primeira vez. Um excelente exemplo de remake que respeita suas origens e que acerta em tudo o que se propõe.
Veredito
Como Treinar o Seu Dragão é uma adaptação belíssima, bem executada e que consegue manter a essência do filme original. Mesmo que se trate de um live-action que, num geral, não supera a magia da animação, ele é excelente e consegue justificar a sua própria existência até entre aqueles que não gostam de adaptações.
4,0 / 5,0
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Confira o trailer: