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    CRÍTICA – Fome de Sucesso é uma mistura de Whiplash com O Menu

    Fome de Sucesso ou Hunger é uma obra tailandesa original da Netflix e traz Sitisiri Mongkolsiri na direção.

    Sinopse

    Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) é uma jovem e talentosa cozinheira que toca um pequeno restaurante na Tailândia. Um olheiro do chef mais famoso do país a recruta, mas o que parecia um sonho se torna um pesadelo.

    Análise de Fome de Sucesso

    Nunca podemos vencer uma crença…

    Essa frase impactante é exatamente o que Fome de Sucesso quer dizer na superfície, contudo, há camadas mais profundas que tornam o longa interessante e bem elucidativo quanto a hipocrisia e aos absurdos que todos os dias os mais ricos e afortunados causam na sociedade.

    O roteiro do filme é o que mais funciona, uma vez que trabalha os polos entre a pobreza e o luxo de forma bastante intensa e chocante. A forma como a fama e poder corrompem a protagonista e o antagonista são demonstradas de jeito lúcido e ressaltam os sacrifícios que fazemos para chegar ao topo.

    Os banquetes regados a comidas exóticas, pessoas mesquinhas e um abismo social dos que servem e dos servidos nos deixam indignados e pensativos de como o capitalismo corrói e como tudo é envenenado pelo poder.

    As atuações convincentes de Chutimon Chuengcharoensukying e Nopachai Jayanama (Chef Paul) são a cereja do bolo, pois eles são as duas faces da mesma moeda. Paul é ressentido, vaidoso e cruel, passando por cima daqueles que o ajudaram a alcançar o lugar mais alto da cadeia alimentar.

    A forma como o Chef Paul trata seus funcionários lembra muito a do personagem de J.K. Simmons em Whiplash e a forma como ele lida com os ricaços dos eventos se assemelha a de Ralph Fiennes em O Menu, mostrando toda a acidez e desgosto em trabalhar para aquelas pessoas.

    Já Aoy quer chegar lá e vai vendo que para isso, deve abrir mão de muita coisa, criando uma jornada eficiente que gostamos de ver. Ela vai se tornando uma pessoa diferente do que era, cada vez mais dura e sem amor, o que vai corrompendo sua alma e a atriz entendeu bem a proposta.

    Uma passagem extremamente impactante é quando a chef sai de um evento luxuoso e passa pelas ruas da cidade cheia de andarilhos e pessoas comendo restos de alimentos do lixo. O soco é forte na cara do espectador que vê uma desigualdade surreal e é uma realidade para muitos locais como o Brasil, por exemplo.

    Erros que tiram o apetite de Fome de Sucesso

    Entretanto, se por um lado Fome de Sucesso funciona por conta de um roteiro redondo e que possui críticas pesadas sobre como pobres e ricos consomem e vivem, há também uma irregularidade significativa na fluência da narrativa, assim como uma direção confusa e uma inexplicável duração de quase 02h30min que enrola bastante para chegar em algum lugar.

    Temos várias cenas que tem pouco a acrescentar. Personagens demais e sem desenvolvimento, sobrando apenas tempo de tela para a protagonista e seu mentor/rival, além do par nada romântico dela interpretado por Gunn Svasti Na Ayudhya.

    Há cenas demais que poderiam ser cortadas e resumidas em duas ou três, pois dizem a mesma coisa de formas diferentes. Já entendemos a mensagem, então a progressão deveria ser mais gradual.

    Veredito

    Com uma mensagem forte, mas umas escorregadas na estrutura da trama, Fome de Sucesso é um filme que precisa ser visto, pois mostra o pior de um sistema nefasto. Por mais que sua duração deixe a experiência cansativa, o longa tem muito a dizer, se tornando uma opção interessante na Netflix.

    Nossa nota

    3,9/5,0

    Confira o trailer:

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