More

    Death Stranding e o amanhã em nossas mãos

    Existem jogos clássicos, aqueles que conseguem extrapolar barreiras da tecnologia e da narrativa, capazes de entregar uma experiência que irá alcançar os mais profundos sentimentos de um jogador. E existe Death Stranding que abraça tudo isso em uma única obra.

    O criador de Death Stranding é Hideo Kojima, um dos maiores gênios dos games, conhecido pela franquia Metal Gear, um universo que construiu através de várias gerações de consoles até romper laços com a publicadora Konami e trabalhar com seu estúdio Kojima Productions de forma independente.

    Ver o mundo num grão de areia e o céu em um campo florido, segure o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora de vida” – William Blake (1757 – 1827)

    Me recordo quando em 2016 acompanhando a exibição do trailer de revelação na agora extinta E3, sem nenhuma sinopse, apenas Norman Reedus interpretando o protagonista Sam Porter Bridges, tive a sensação de que aquela proposta não iria seguir por um caminho convencional de games da época.

    Na verdade, para ser bem honesto, até hoje nada que joguei ao longo da minha vida gamer consegue ofertar uma fração do que Death Stranding se propõe porque é um jogo que flutua de forma não linear entre diversos gêneros para ter o seu próprio denominado “Strand Game”.

    Explicando o que significa isso é algo feito para ser jogado de modo solo, com interação online de toda uma comunidade sem utilizar os elementos de co-op de forma direta. Ou seja, algo voltado a compartilhar sua experiência in game ajudando outros que estejam no mesmo local que você. Então, sempre que estiver neste universo não recolha os seus itens de escalada, pontes improvisadas ou desmonte abrigos, pois outro Sam vai precisar e isso vai ser de uma grande ajuda.

    Esse jogo é um mar de referências a temas como astronomia, espiritualidade, cinema e literatura, citando nominalmente o livro As Angústias de um Homem de Família, do autor Franz Kafka, até o próprio trabalho de seu idealizador com a abordagem de temas políticos que sempre fazem parte de suas criações. Cada descoberta é sempre um novo elemento deste grande quebra-cabeça que é o seu universo.

    Obviamente existe aquela parcela de jogadores que esse tipo de jogo desagrada por não compreendê-lo, e até encarar a proposta com escárnio, revelando aquele lado tóxico da comunidade gamer que não aceita algo diferente do que consideram “raiz”, algo que se limita apenas a sair matando tudo o que tem pela frente, não se importando com a razão de fazer isso ou se existe uma.

    Particularmente, ao me deparar com esse tipo de visão, passei a compreender que Death Stranding é um jogo que vai abraçar todo o tipo de jogador, mas não significa que eles em sua totalidade estão prontos para receber este abraço.

    Death Stranding, de Hideo Kojima, tem muitas semelhanças com o que vivemos na pandemia de Covid-19
    Death Stranding tem muitas semelhanças com o que vivemos na pandemia | Créditos: Kojima Productions

    “Certa vez houve uma explosão. Uma explosão que originou o tempo e o espaço.
    Certa vez houve uma explosão. Uma explosão que fez o planeta girar naquele espaço.
    Certa vez houve uma explosão. Uma explosão que fez surgir a vida como conhecemos.

    E então veio outra explosão” – Abertura de Death Stranding

    Narrativa poderosa muito ancorada na vida real

    A história adapta um mundo semelhante a nossa realidade em muitos aspectos, conectado de forma viral à internet, com tensões políticas em diversas frentes até que ocorre o Death Stranding: uma onda de diversas explosões que não se sabia a origem. Isso fez surgir uma substância chamada quiralium, afetando o meio ambiente, iniciando o fenômeno das chuvas temporais que aceleram o tempo e destruindo toda a era moderna que existia.

    Devido a este evento, o mundo dos vivos e mortos se fundiu, surgindo as praias, uma forma de dimensão paralela – as Entidades de Praia (EP’s) -; os usuários de Dooms, que são habilidades oriundas das praias; e os repatriados, sendo um deles o nosso personagem Sam Porter Bridges.

    Ele é um entregador da empresa Bridges, possuidor de Dooms e tem a tarefa de unificar as cidades da UCA em uma mesma rede quiral, para que seja possível compartilhar conhecimento atual e do passado, reconstruindo a civilização a partir do que for adquirido. Além disso, mesmo tendo a tarefa de unir, Sam não conseguia se conectar com ninguém pela sua afefobia, o medo de tocar ou ser tocado, fato que ao longo da progressão vai se ressignificando.

    Quando analisei Death Stranding por essa perspectiva, ficou muito evidente como esse jogo brilha muito além dos detalhes técnicos porque não é sobre destruir alguém ou algo, mas evitar que isso aconteça enquanto se constrói pontes, linhas, conexões entre as pessoas que estão isoladas e com medo. Exatamente como vivemos durante a pandemia de Covid-19, que começou poucos meses após o lançamento do título idealizado por Hideo Kojima.

    Nesse infeliz momento de terror, acabamos momentaneamente nos tornando os preppers, as pessoas que vivem isoladas em suas residências que solicitam os serviços de entrega, que também possuem suas próprias narrativas em paralelo a tudo o que acontece comparado aos acontecimentos de um grande mundo. Algo muito parecido com o que vivemos até pouco tempo atrás, não é?

    A solidão perturbadora que o primeiro contato proporciona já nos minutos iniciais é o que vai te contextualizar sobre o que este mundo irá oferecer. A cada avanço na narrativa vamos nos conectando com outros personagens, como a resiliente Fragile, a nossa querida BB Bridge (a parceira mais fofa que você poderia ter neste cenário) e até mesmo com o Higgs, um adversário com uma imensa profundidade e isso vai preenchendo a solitude com uma mistura de emoções, que alcançam seu ápice ao termos todas as revelações a respeito do que este universo se trata.

    Concluindo, Death Stranding não se limita a ser apenas um jogo que você passa quase 60 horas, pega conquistas, derruba chefes para se vangloriar e realiza uma platina. O game empurra o seu jogador a algo muito além, pois oferece uma experiência completa e contemplativa.

    Ficha técnica de Death Stranding

    Lançamento: 8 de novembro de 2019 (PS4), 14 de julho de 2020 (PC), 24 de setembro de 2021 (PS5), 30 de janeiro de 2024 (iOS, iPadOS, macOS), 7 de novembro de 2024 (Luna e Xbox Series X|S)

    Desenvolvido por: Kojima Productions

    Publicado por: Sony (PS4 e PS5) e 505 Games (demais versões)

    Plataformas: PlayStation 4, PlayStation 5, PC, iOS, iPadOS, macOS, Xbox Series X|S e Luna

    Número de jogadores: 1

    Gêneros: Ação, Strand, Walking Simulator

    Idiomas: Alemão, Chinês (simplificado), Chinês (tradicional), Coreano, Espanhol, Espanhol (México), Francês (França), Grego, Holandês, Húngaro, Inglês, Italiano, Japonês, Polonês, Português (Brasil), Português (Portugal), Russo, Tcheco, Turco, Árabe

    Preços: Versões a partir de R$ 149,90 (ecossistema Apple), R$ 159,00 (Xbox), R$ 249,50 (PS4), R$ 299,90 (PS5). Incluso na assinatura do Amazon Luna.

    spot_img

    Artigos relacionados