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    CRÍTICA – Vidas Passadas retrata os encontros e desencontros de uma vida

    Vidas Passadas é um filme roteirizado e dirigido por Celine Song e produzido pela A24. No elenco estão Greta Lee, Teo Yoo e John Magaro.

    Sinopse

    Nora e Hae Sung, dois amigos de infância profundamente conectados, se separam depois que a família de Nora decide sair da Coreia do Sul. Vinte anos depois, eles se reencontram em Nova York para uma semana fatídica.

    Análise de Vidas Passadas

    Quantas vidas cabem em uma vida? Quem seríamos se tivéssemos feito outras escolhas no passado? Ou com quem estaríamos agora? A estreia de Celine Song na direção, Vidas Passadas, trabalha o conceito do “e se?” com uma intensidade poética avassaladora.

    Não é simples para um filme tratar de amor sem cair nas armadilhas da romantização; a regra do cinema sempre foi o “e viveram felizes”, mas o novo filme da A24 subverte essa ideia para apresentar uma história cativante que desafia o próprio tempo e espaço.

    Inspirado em acontecimentos da vida real de Song, “Vidas Passadas” pode ser assumido como uma autobiografia.

    Na Young (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo) são amigos de infância na Coreia do Sul, mas quando Na Young se muda para o Canadá e assume o nome de Nora, a relação entre eles é interrompida.

    Entre encontros e desencontros, o filme explora os caminhos imprevisíveis da vida e como as escolhas que fazemos podem moldar nosso destino.

    Na Young e Hae Sung, separados pela distância geográfica, enfrentam desafios e oportunidades únicas em suas jornadas individuais. Mas querendo ou não, a dúvida sobre se deveriam ter ficado juntos paira sobre suas cabeças.

    Dessa forma, o enredo de “Vidas Passadas” explora as complexidades dos relacionamentos humanos.

    A relação entre os protagonistas continua a florescer como prova de resistência às barreiras físicas e culturais. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” também trabalha o efeito do tempo nas relações, mas utiliza o conceito do multiverso para provar seu ponto. Já em “Vidas Passadas,” essa construção é mais lenta e imagética. Ou seja, não precisamos ver como seria a vida do casal em outros universos ou espaços de tempo para entender que ali existe uma ligação profunda que ultrapassa ou está prestes a ultrapassar eras.

    Ainda que pouco disso seja mostrado, é impressionante como Song consegue fazer de um roteiro discreto e intrínseco uma verdadeira comoção de sentimentos.

    Após 24 anos, quando Nora e Hae Sung finalmente se encontram, há uma certa estranheza no ar. Os dois não são mais os mesmos da infância e nem poderiam ser, porém, os momentos de silêncio entre os olhares duradouros revelam que suas almas sempre se conheceram, não importa as circunstâncias.

    A diretora trabalha o não dito de forma espetacular. Os diálogos não falados e os gestos sutis tornam-se uma linguagem própria que transcende as palavras. A escolha de momentos de silêncio revela a confiança da diretora na capacidade do público de captar nuances emocionais sem uma explicação explícita. É uma abordagem que respeita a inteligência emocional do espectador, permitindo que cada olhar, cada gesto, conte uma parte essencial da história.

    Nesse sentido, a noção de “In-Yun” também conta em poucas palavras as experiências amorosas de Nora: enquanto que, para sua relação com Hae Sung, o ditado coreano reflete algo não vivido entre eles; no seu casamento com Arthur, significa que suas almas ponderam enfim se encontrar.

    Ainda que a relação do casal se baseie em fatos concretos e expectativas de vida, não deixa de ser uma jornada verdadeira e amorosa. O papel de Arthur como um observador e não um ouvinte revela que ele nunca se encaixará por completo na vida de Nora, mas sua presença não é um empecilho, visto que ela escolhe por permanecer, mostrando que tem controle sobre seu destino.

    O uso de planos contemplativos e diálogos que atingem como uma onda gigante fazem de Vidas Passadas uma obra reflexiva e expansiva em nossa imaginação. O ato final do filme, em que Nora e Hae Sung caminham até sua despedida, é um aceno ao passado; quando ela volta sozinha e a câmera da diretora faz gentilmente um travelling, é um olá ao futuro da protagonista.

    Dessa maneira, Celine Song convida os espectadores a avaliar suas próprias experiências de vida, mas acima de tudo, compreender o significado e o peso de suas escolhas.

    Veredito

    Vidas Passadas

    Vidas Passadas é uma experiência cinematográfica profunda e impactante através de uma história simples. Isso se dá pelo grande trabalho de Celine Song, que soube transcender para a tela uma reflexão poderosa sobre a beleza das relações humanas que formam nossos seres e vidas. É um filme para ser sentido e contemplado em sua ampla magnitude.

    Nossa nota

    5,0/5,0

    Confira o trailer:

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