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    CRÍTICA – A Verdadeira Dor navega por relações e revelações em drama delicado

    A Verdadeira Dor (A Real Pain) chega aos cinemas do Brasil no dia 30 de janeiro. Dirigido, roteirizado e coprotagonizado por Jesse Eisenberg, o longa conta com Kieran Culkin, Will Sharpe, Kurt Egyiawan e Jennifer Grey em seu elenco.

    Confira nossa crítica sem spoilers do filme.

    Sinopse de A Verdadeira Dor

    Dois primos que não se dão bem se reúnem para uma excursão pela Polônia para homenagear sua amada avó. A aventura toma um rumo diferente quando as antigas tensões deles ressurgem contra o pano de fundo de sua história familiar.

    Análise

    É possível amar uma pessoa sem gostar totalmente dela? Em A Verdadeira Dor, Jesse Eisenberg constrói um roteiro delicado e inventivo em sua forma de abordar o luto, o passado e as relações familiares.

    Por meio dos personagens David (Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin) acompanhamos o desenrolar de uma história que navega entre as diferentes formas de nos conectarmos com aqueles que amamos – e os sacrifícios e dores que surgem para nos mantermos próximos a eles. 

    Na trama, a avó de David e Benji faleceu, e eles resolvem fazer juntos uma excursão pela Polônia para conhecer o país onde ela nasceu. Uma sobrevivente do holocausto, a avó dos garotos era muito conectada a eles e passou a vida toda contando suas experiências de vida.

    Os primos, que não se encontravam há muito tempo, dão uma pausa em suas vidas para fazer essa viagem acontecer, mas ambos não poderiam ser mais diferentes um do outro. Enquanto David é tímido e contido, Benji é expansivo e carismático, o que torna a dinâmica entre os dois um tanto complexa.

    O roteiro de A Verdadeira Dor chama mais a atenção em seus detalhes e diálogos do que nos acontecimentos em si. Os momentos retratados em tela representam uma excursão de turismo simples, como uma ida a um bairro clássico, visita a um monumento e situações do tipo. Entretanto, é por meio da troca de experiências entre os personagens que o filme realmente cresce e se estabelece.

    Porém, não é como se as visitas nas cidades sejam utilizadas apenas como pano de fundo: elas conduzem de forma muito eficaz os debates e funcionam não só para trazer mais dinamismo a um texto denso, como também para oferecer um olhar interessante sobre cada um dos personagens durante essa jornada.

    Afinal, todo o grupo está passando por locais que representam um dos momentos mais sombrios da história da humanidade, ao mesmo tempo em que se encontram para desfrutar de uma refeição saborosa em um restaurante chique. Esse balanço e subtexto é muito bem trabalhado ao longo de todo o filme, e realmente complementa o entendimento da relação de Benji e David.

    CRÍTICA - A Verdadeira Dor navega por relações e revelações em drama delicado
    Créditos: Divulgação / 20th Century Studios

    Não existe uma forma unidimensional de abordar os acontecimentos aqui e o contexto não é deixado de lado em prol de apenas desenvolver as rusgas e sentimentos entre os dois protagonistas. Tudo se conecta de uma maneira curiosa e que realmente dá certo.

    Apesar dos personagens secundários não serem o foco, aqui eles servem de fio condutor para evidenciar os problemas na relação entre os dois primos. David ama muito Benji, mas ao mesmo tempo se sente mal estando próximo a ele. Benji, por outro lado, nunca demonstra de forma evidente como se sente, mas desconta suas frustrações em todos a sua volta.

    Kieran Culkin é um dos favoritos para ganhar o Oscar por esse papel e a avaliação para isso é clara: ele consegue dar vida a esse personagem que transita entre ser amoroso e charmoso em alguns momentos, para completamente rancoroso e triste em outros. 

    Mascarando suas emoções por meio de piadas e ações passivo-agressivas, o personagem afasta aqueles que de alguma forma demonstram se importar com ele, só para, no momento seguinte, inverter a situação e fazer com que as pessoas se sintam mal em reagir negativamente perante suas ações.

    Paralelamente, David surge como esse contraponto equilibrado por fora, mas completamente inseguro por dentro. Vivendo a vida como se fosse um planejamento pré-programado, sem espaço para ser espontâneo, David constrói um muro em sua personalidade a fim de não atrapalhar o espaço dos outros.

    Ao término do longa, me surpreendi positivamente com o caminho que Eisenberg escolhe para os personagens e acredito que esse seja aquele filme “feel good” da temporada de premiações que, apesar de passar por temas difíceis e complexos, termina com uma mensagem um pouco positiva – mesmo que agridoce, embalada em uma trilha sonora maravilhosa.

    O “A Verdadeira Dor” do título, portanto, não poderia ser mais apropriado. Ao transitar entre a dor da perda, da separação, do crescimento e de todos os sentimentos que acompanham essas etapas, o longa é efetivo em criar uma história sensível e tocante, sem nunca precisar apelar para momentos clichês.

    Veredito

    A Verdadeira Dor é um ótimo filme dessa temporada de premiações. Com uma trama simples, mas delicada e profunda, o longa cria um espaço frutífero para que Jesse Eisenberg e Kieran Culkin brilhem com suas atuações marcantes.

    4,0 / 5,0

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    Assista ao trailer:

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