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    CRÍTICA – Sedução e obsessão envolvem Saltburn

    Saltburn é o novo filme da roteirista vencedora do Oscar Emerald Fennell. O longa estará disponível no dia 22 de dezembro no Prime Video, e é estrelado por Jacob Elordi e Barry Keoghan.

    Confira abaixo a nossa crítica do filme sem spoilers.

    Sinopse de Saltburn

    Um estudante da Universidade de Oxford se vê atraído pelo mundo de um colega de classe charmoso e aristocrático, que o convida para passar um verão inesquecível na propriedade de sua excêntrica família.

    Análise

    Emerald Fennell é certamente um nome para ficar de olho. A diretora e roteirista, que levou o Oscar de Melhor Roteiro pelo estrondoso Bela Vingança (2020), volta para um segundo filme igualmente ousado e peculiar.

    Em Saltburn, Fennell abre espaço para o gênero thriller, misturando tensão e excitação para criar uma obra que ao primeiro contato se mostra mordaz, mas ao decorrer se mostra óbvia demais e consequentemente perde suas forças.

    Apesar de não exibir nada de novo, filmes como Atração Fatal e Seis Graus de Separação já falaram sobre obsessão, vingança e enganação em níveis mais intensos; Saltburn tem uma abordagem mais estilizada que vem justamente do cinema de Fennell. 

    A primeira cena do filme já denota o tom homoerótico da trama. O longa apresenta Oliver Quick (Barry Keoghan), o calouro pobre de Oxford e Felix Catton (Jacob Elordi), um jovem rico, sexy e com um fraco por causas perdidas, com diversas cenas que focam nos traços do rapaz e em como Felix é desejado por todos. A diretora, que quer divertir e chocar ao mesmo tempo, prepara seu filme para ser um montagem bem-vinda de cenas eróticas, estranhas e cômicas.

    CRÍTICA - Sedução e obsessão envolvem Saltburn
    Créditos: Divulgação / Prime Video

    O roteiro não funcionaria se não fosse por Barry Keoghan. O ator, que é conhecido por seus papéis excêntricos, dá vida a um personagem intrínseco. Oliver jura que ao contrário da maioria das garotas não está apaixonado por Felix, mas sua fixação no amigo revela que algo está acontecendo. Ele consegue se encaixar no grupo dos jovens populares, ganha a atenção de Felix e é convidado para passar o verão junto com seus pais extravagante em um imensa propriedade chamada Saltburn. 

    Se no começo do longa, a complexa relação e tensão sexual entre Oliver e Felix é um ponto de partida, quando as máscaras caem, Oliver se mostra um verdadeiro sociopata com um desejo insaciável de estar na pele do amigo. É um filme trágico quando olhamos as verdadeiras intenções de Oliver, mas em nenhum momento sentimos pena por Felix e sua família (os ricos criaram esse abismo de emoções). 

    A trama se desenrola entre jantares regados a bebidas, personagens à beira da piscina e falsidade escancarada. Oliver vira um parasita ou um predador (dependendo de quem olha) na família Catton, caindo nas graças da mãe de Felix, Elspeth, uma socialite alegre e espalhafatosa interpretada por Rosamund Pike.

    CRÍTICA - Sedução e obsessão envolvem Saltburn
    Créditos: Divulgação / Prime Video

    Ao lado dela está o marido, Sir James, vivido por Richard E. Grant, um homem infantilizado. Também há Venetia (Alison Oliver), a irmã triste e bonita de Felix e o primo Farleigh (Archie Madekwe), o primeiro a perceber a malícia de Oliver, visto que, assim como ele, também quer um lugar entre os ricos.

    Dessa forma, Salturn parte para um lugar comum, é uma crítica ao elitismo com piadas sarcásticas de como essas pessoas veem entretenimento no sofrimento alheio e acreditam em sua superioridade ao ponto se tornarem presas fáceis.

    Tanto Oliver, como Pamela, uma amiga de Elspeth em uma participação especial de Carey Mulligan são puro divertimento para essa família rica, entediada e mimada. Mas é claro que Oliver sabe o seu papel, como um observador nato ele faz questão de lhes dar um espetáculo antes de terminar com a festa.

    O que transforma o filme de Fennell em algo agoniante, selvagem e doentio não são somente as interações entre os personagens ou as cenas perturbadoras, como a que envolve a profanação de um túmulo, mas também a direção de fotografia de Linus Sandgren, vencedor do Oscar por La La Land, que coloca Oliver sob a ótica de um stalker, sempre refletido por espelhos ou nas sombras. Sendo assim, é fácil ser hipnotizado pelo longa, sua sedução transpassa a tela e pega o espectador desprevenido.

    CRÍTICA - Sedução e obsessão envolvem Saltburn
    Créditos: Divulgação / Prime Video

    Mas, assim como no final de Bela Vingança, Fennell quer ser expositiva demais, quando a sensação de dualidade tornaria o filme mais assertivo e intenso. Não sei se a diretora não confia por inteiro na capacidade de seu público de juntar A mais B ou se o intuito era justamente tornar o longa o mais mastigável possível, mas o fato é que Saltburn não precisa de segundas explicações. É uma obra bem menos complexa do que aparenta ser, mas isso de forma nenhuma deveria ser um empecilho.

    Veredito

    Emerald Fennell sabe criar suspenses provocativos, surreais e exacerbados, sua construção revela seu estilo único. Contudo, Saltburn é um segundo filme morno e ganha mais pela ousadia do que qualquer outra coisa.

    Nossa nota

    3,5 / 5,0

    Assista ao trailer:

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