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    CRÍTICA – The Curse possui a habilidade única de subverter expectativas

    The Curse está disponível no streaming da Paramount+. Com 10 episódios, o seriado é protagonizado por Emma Stone, Nathan Fielder e Benny Safdie. Safdie e Fielder também são responsáveis pelo roteiro e direção da produção.

    Confira abaixo nossa crítica sem spoilers da série.

    Sinopse de The Curse

    A série explora uma suposta maldição que perturba o relacionamento de um casal recém-casado, que está tentando conceber um filho, enquanto co-estrelam seu novo programa na HGTV.

    Análise

    Todos os anos somos apresentados a centenas de novos seriados. Seja na televisão ou no streaming, a verdade é que encontrar títulos que causem uma sensação de frescor, ou de novidade, tem sido a exceção à regra. Porém, para aqueles que estão cansados de uma criatividade segura, The Curse vem para subverter qualquer tipo de expectativa.

    A comédia estrelada por Emma Stone e Nathan Fielder é, de longe, uma das produções mais intrigantes e estranhas lançadas nos últimos anos. Não me entenda mal, isso não significa que ela é genial, mas sim que The Curse consegue trazer algo completamente novo ao brincar, o tempo todo, com a expectativa do telespectador.

    Esse sentimento se origina do fato de cada episódio do seriado ser completamente imprevisível. Você vai sentir medo, nervosismo e frustração inúmeras vezes por motivos extremamente estapafúrdios. É o caso de quando uma trilha tensa acompanha o personagem Asher (Nathan Fielder) enquanto ele pede para que uma criança adivinhe quantos parafusos ele tem escondido em suas mãos.

    Créditos: Divulgação / Paramount+

    Assim, em meio há um grande compilado de insanidades, acompanhamos três personagens extremamente detestáveis em sua jornada de, simplesmente, encontrar algum sentido na vida. Se Whitney (Emma Stone) é a personificação do narcisismo e do salvador branco, Asher é um homem que entende que ser maltratado e humilhado é a linguagem do amor.

    Dougie (Benny Safdie) é o típico trabalhador que precisa estar ocupado para não lembrar dos erros do passado e, sempre que possível, irá deixar outras pessoas em uma situação ruim para que ele possa se sentir menos solitário.

    Essas três figuras marcantes criam uma complexa trama que transita entre a comédia e o absurdo em diversos momentos. Mesmo tomando a liberdade para navegar por assuntos de extrema importância, como a gentrificação de localidades de baixa renda e a apropriação de outras culturas, The Curse nunca tenta transformar sua trama em algo sério ou que faça alguma declaração direta de suas intenções.

    Desta forma, suas escolhas criativas que, para muitos, podem ser extremamente desconfortáveis, exploram o que existe de mais egoísta nessas três figuras centrais, ao mesmo tempo em que não constróem absolutamente nenhum acontecimento de proporções catastróficas.

    CRÍTICA - The Curse possui a habilidade única de subverter expectativas
    Créditos: Divulgação / Paramount+

    E isso, a bem da verdade, é o que Fielder faz de melhor. Suas outras produções, como Nathan For You e O Ensaio, evidenciam sua marca registrada em transformar o trivial em absurdo, mesmo que em tela muitas das situações pareçam apenas uma grande besteira.

    A habilidade de elevar acontecimentos banais, transformando-os em situações que inspiram uma rede de teorias, é o grande trunfo de The Curse. É impossível não passar boa parte da temporada acreditando que, a qualquer momento, estaremos acompanhando uma série dentro de outra série e que um mundo ao estilo Show de Truman irá surgir em uma grande catarse de finalização.

    A verdade é que Fielder e Safdie não buscavam, em nenhum momento, criar uma grande rede de teorias, e sim construir uma trama com pessoas reais sendo humanamente perversas e conflitantes, tal qual a realidade em que vivemos.

    É fato que ao flertar com a crítica aos modelos de televisão, reality shows, obsessão pela vida privada de figuras famosas e tantos outros temas interessantes, The Curse nos deixa o tempo todo entusiasmados com o que ela poderia alcançar e o quão impactante poderia ser.

    CRÍTICA - The Curse possui a habilidade única de subverter expectativas
    Créditos: Divulgação / Paramount+

    O final é provavelmente um dos mais divisivos dentre as produções atuais. Se O Ensaio finaliza com uma potente e apavorante mensagem, aqui todos os conceitos desenvolvidos na vida de Whitney e Asher se encontram em um grande show do absurdo que ultrapassa um pouquinho o limite do bom senso. Mesmo assim, a coragem de arriscar em algo tão diferente e subverter toda e qualquer previsão já é algo digno de elogios.

    Fielder, Safdie e Stone realmente merecem reconhecimento na próxima temporada de premiações. Mesmo não sendo muito palatável ao grande público, a produção possui uma ótima condução técnica e o elenco é um dos pontos altos da série.

    Todos os personagens são extremamente bem escritos e, mesmo que os diálogos não externem todas suas frustrações ou complexidades, as situações em que estão inseridos e as pequenas agressões que sofrem, ou infligem, nos fazem conhecê-los perfeitamente. É um paradoxo insano, tal qual o enredo da produção.

    É torcer que o seriado sobreviva na memória dos votantes até a próxima temporada.

    Veredito

    Sendo o mestre da quebra de expectativas, Nathan Fielder se une a Benny Safdie para criar uma produção que é o casamento perfeito entre o desconforto e o absurdo. Voando tão perto do sol quanto Ícaro, The Curse brinca o tempo todo com os limites do bom senso e do entretenimento para entregar uma trama ousada e que, ao mesmo tempo, beira o absurdo.

    Um evento que acontece poucas vezes na televisão, esse é o tipo de produção que divide o público e rende debates por gerações.

    Nossa nota

    3,8 / 5,0

    Assista às nossas lives sobre a série:

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