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    CRÍTICA – Demolidor: Renascido resgata grandes personagens da Marvel em meio a tropeços narrativos

    Demolidor: Renascido (Daredevil: Born Again) fez sua estreia no Disney+ no dia 4 de março, com novos episódios sendo liberados semanalmente.

    O novo ano tem criação de Dario Scardapane e conta com o retorno dos atores Charlie Cox, Vincent D’Onofrio, Jon Bernthal, Deborah Ann Woll, Ayelet Zurer, Wilson Bethel e Elden Henson.

    Sinopse de Demolidor: Renascido

    Matt Murdock (Charlie Cox) se encontra em rota de colisão com Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) quando suas identidades passadas começam a emergir.

    Análise

    Um dos retornos mais aguardados da TV finalmente aconteceu, mas não exatamente do jeito que a gente sonhou.

    Depois de uma década desde sua estreia na Netflix, Demolidor voltou às telas, agora no Disney+ e integrado ao universo da Marvel o tanto quanto os executivos permitiram. Sob o subtítulo Renascido, a nova série não é uma continuação das outras três temporadas e muito menos um reboot do super-herói. É uma iniciativa, no mínimo, peculiar que quer levar em conta os últimos acontecimentos que tumultuaram a vida de Matt Murdock, mas também deseja trilhar seu próprio caminho.

    Para isso, o criador do show, Dario Scardapane, faz escolhas difíceis. Logo no primeiro episódio, a morte de Foggy Nelson (Elden Henson), assassinado pelo já conhecido Mercenário (Wilson Bethel), dá o tom pesaroso da série. É, obviamente, a nova direção mandando um recado: as coisas serão diferentes. Mas será mesmo?

    Karen Page (Deborah Ann Woll) assiste ao seu amigo morrer, enquanto Matt, como Demolidor, protagoniza uma briga intensa com o vilão. É um momento para estabelecer a narrativa e trazer de volta o que a série sempre teve de impactante: a ação e a violência desenfreada. Mas a gente sabe qual é o histórico da Disney quando se trata de CGI e coreografia, e digamos que Demolidor está em último lugar na fila do financiamento para boas lutas.

    A série segue com Matt abandonando o alter ego. Ele se junta à colega, a advogada criminal Kirsten McDuffie (Nikki M. James), e ao policial aposentado Cherry (Clark Johnson) para criar um novo escritório de advocacia, com o objetivo de defender os mais necessitados.

    Nosso herói entra num dilema: quer depositar toda a sua fé na justiça e no sistema, acreditando que esse é o caminho mais limpo. E essa é uma boa maneira de retomar as discussões sobre moral, religião e justiça do show.

    Para Matt, ser o Demolidor significa trazer à tona o pior que há dentro dele. É um sofrimento, mas que talvez traga a justiça que, como advogado, ele não consegue alcançar. É uma premissa complexa e significativa, mas que o show concretiza sem muita cerimônia.

    Para lidar com os problemas do Homem Sem Medo, estão Kirsten e Cherry que são, ou deveriam ser, os novos amigos de Matt, já que Karen parte para São Francisco depois do trauma. Só que o novo trio não funciona em nada.

    Matt é completamente distante desses novos aliados, enquanto eles são desinteressantes e rasos, como se os roteiristas tivessem esquecido de desenvolver uma linha sequer sobre esses personagens além de “são amigos do Matt”. E isso não é algo exclusivo da turma do advogado: o problema se estende a todos os coadjuvantes, inclusive os que orbitam Wilson Fisk.

    CRÍTICA - Demolidor: Renascido resgata grandes personagens da Marvel em meio a tropeços narrativos
    Créditos: Divulgação / Marvel Studios

    Do outro lado, o Rei do Crime retorna com uma vontade um tanto chocante: quer se tornar o prefeito de Nova York. É claro que isso atrapalha os planos de Vanessa (Ayelet Zurer), que estava no comando do crime na cidade, mas Fisk está determinado.

    O primeiro encontro entre ele e seu antigo inimigo é, no mínimo, revigorante, cheio de piadinhas internas. Mas ele não está pra brincadeira, e por isso seu arco é um dos mais surpreendentes da temporada.

    Fisk acredita fielmente que pode mudar a grande metrópole para melhor, implantando uma força-tarefa que fica conhecida como “os anti-vigilantes”, policiais corruptos que caçam qualquer pessoa mascarada pelas ruas. O trabalho corporal de Vincent D’Onofrio é fenomenal, trazendo de volta o lado emocional do personagem, que quase nos engana, mas, mais uma vez, revela seu lado feroz e temível.

    O quanto os atores veteranos conhecem seus personagens é, sem dúvida, um dos pontos mais fortes da temporada. Charlie Cox também consegue reviver Matt de maneira ímpar, com o charme de sempre, mas também a raiva e a angústia do Demolidor.

    Do mesmo modo, as breves cenas de Jon Bernthal como Frank Castle, o Justiceiro, trazem de volta um sentimento de nostalgia e empolgação. E não podemos esquecer de Ayelet Zurer como Vanessa, que mais uma vez entrega elegância e frieza apenas com o olhar. Esses são atores que entendem seus personagens e, por isso, não precisam de tanta direção como os novos rostos, o que escancara a disparidade entre narrativas e interpretações.

    Nesse mesmo sentido, Demolidor: Renascido desperdiça um dos vilões mais interessantes do personagem: Muse, o serial killer que usa o sangue das vítimas como tinta. O que a série faz é, no mínimo, ultrajante. Muse tinha potencial para ser um grande vilão no show, mas é escanteado como um “garoto problemático” que recebe conselhos medíocres da terapeuta Heather Glenn (Margarita Levieva), também interesse romântico de Matt. Isso desencadeia mais uma luta com problemas de direção, coreografia e ritmo entre o serial killer e o demônio de Hell’s Kitchen.

    A sensação que fica é que Scardapane tinha muitas histórias para contar, mas se perdeu na condução. Nenhuma tem um desfecho apropriado: seja Muse, seja Hector, o Tigre Branco, que morre após Matt livrá-lo da prisão.

    Há, evidentemente, um problema de direção geral na série, o que talvez tenha relação com o fato de que o show sofreu inúmeras alterações de roteiro depois que o manda-chuva Kevin Feige viu o material original e não curtiu.

    As regravações podem muito bem ter salvado a série de um desastre maior, mas também deixaram um gosto amargo, como se a própria Marvel ainda não estivesse preparada para lidar com o potencial desse universo. Infelizmente (ou felizmente?), a segunda temporada de Demolidor: Renascido já está confirmada. O que nos resta é torcer para que eles corrijam o que está péssimo e mantenham o que funcionou. Mas, tratando-se das séries do MCU… é sempre bom manter um pezinho atrás.

    Veredito

    Após dez anos da estreia na Netflix, a Disney traz o demônio de Hell’s Kitchen para o universo Marvel com a série Demolidor: Renascido.

    Tentando se distanciar de sua versão anterior, mas ainda querendo resgatar o que funcionou na origem do personagem na TV, a nova série é ousada e apresenta uma narrativa intrigante, mas peca feio ao não estabelecer seus novos personagens. E pior ainda, faz mau uso dos elementos mais amados pelos fãs: as lutas e a ação. O resultado é uma série irregular que, na sua segunda temporada, vai precisar mostrar a que veio de verdade.

    Nossa nota

    3,2 / 5,0

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