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    REVIEW – Starfield encanta, mas se perde em sua grandiosidade

    Desenvolvido pela Bethesda Game Studios, Starfield é um RPG de ação pela imensidão do espaço lançado em 6 de setembro de 2023. O jogo criado pelas equipes responsáveis pelos bem-sucedidos The Elder Scrolls V: Skyrim (2011) e Fallout 4 (2015) oferece uma experiência livre e ambiciosa universo afora.

    O ano é 2330 em Starfield, e a humanidade já se aventurou para além do nosso sistema solar, colonizando planetas novos e habitando o espaço sideral. O personagem principal se junta à Constelação, o último grupo de exploradores espaciais em busca de artefatos raros pelas galáxias.

    São mais de 1.000 planetas para explorar em busca de criaturas alienígenas, facções e recursos naturais, além de ambientes e histórias misteriosas. É possível navegar por cidades vibrantes, encontrar bases perigosas e se aventurar por paisagens selvagens.

    Ao longo da jornada em Starfield é possível encontrar outros seres humanos e recrutar personagens para se juntar à aventura, além de poder escolher integrar facções (ou ser forçado a fazer isso), embarcando em novas missões nos Sistemas Colonizados.

    O jogo também oferece uma grande variedade de customizações que vão desde os atributos e o “currículo” do personagem principal no começo do jogo, até mesmo a confecção das naves usadas ao longo da jornada.

    Starfield está disponível para Xbox Series X | S, Game Pass e PC. Leia a seguir o review sem spoilers da versão jogada no PC via Game Pass.

    Análise de Starfield

    O universo com mais de 1.000 planetas não diz tudo sobre a grandiosidade criada em Starfield. Os momentos iniciais do jogo já mostram isso, quando você pode customizar uma enorme variedade de atributos físicos do seu personagem e o que para mim é o principal: definir o seu passado – e como essa escolha irá interferir no futuro.

    Essa definição por si já é suficiente para fazer com que cada pessoa tenha uma gameplay única em Starfield. E isso é maravilhoso!

    O jogo é muito eficiente em descrever as diversas possibilidades e como cada definição irá interferir na experiência. Escolhi ter um passado como caçador de recompensas porque Starfield alerta que adversários podem querer me matar a qualquer momento por conta do meu histórico.

    Ao todo são 21 históricos diferentes, cada um com três habilidades de classe e uma descrição própria. Alguns exemplos são diplomata, docência, explorador, malandragem, soldado e xenobiologia.

    Além das habilidades padrão, é possível também acrescentar até três atributos únicos, como ter uma casa dos sonhos, que te obriga a semanalmente pagar 125 mil créditos de hipoteca ao GalBank; ou ter DNA alienígena, que te faz começar com mais oxigênio e vida, mas reduz a eficiência de alimentos e itens de cura.

    São 21 históricos diferentes para servir de background para o seu personagem em Starfield
    Tela de customização do personagem | Créditos: Emerald Corp

    Escolhi ter empatia, que aumenta minhas chances de ser bem quisto pelos outros e melhorar temporariamente as habilidades de combate; e estar com a cabeça a prêmio, que eleva as chances de ser caçado aleatoriamente por mercenários e também o dano causado quando seu personagem está com pouca vida.

    Ou seja: escolhi dificultar minha gameplay podendo ser surpreendido a qualquer momento.

    O início de Starfield é bem objetivo em seu tutorial básico, criação do background e customização do personagem, bem como a respeito do trabalho com mineração, que é o contexto necessário para inserir a história principal e a busca pelos artefatos misteriosos.

    A narrativa base é boa e interessante, sem se alongar com diálogos desnecessários entre as dezenas de personagens com os quais temos que lidar na aventura.

    A grandiosidade do universo de Starfield até poderia permitir que o roteiro fosse mais ousado e as interações com os NPCs fossem mais ricas. No entanto, considerando outros aspectos da gameplay, o que se tem em termos de história é objetivo e suficiente. O que compromete um pouco a narrativa é o comportamento genérico dos NPCs.

    A modelagem dos personagens deixa a desejar quando comparada à beleza gráfica das superfícies do planetas e as criaturas habitantes em cada um. Também é comum que um NPC se perca em suas atribuições e tente interferir de alguma forma nos diálogos essenciais para o avanço da história.

    Apesar de serem genéricos, é importante destacar o ótimo trabalho de dublagem em Starfield. Se você focar em ler a legenda enquanto ouve o que está sendo falado poderá perceber melhor a qualidade da entrega do elenco, deixando em segundo plano as expressões genéricas de seus personagens.

    Progressão de habilidades e recursos

    A progressão de habilidades em Starfield é bem interessante e um grande acerto da Bethesda. São cinco árvores que contemplam atributos físicos, sociais, combate, científicos e tecnológicos.

    Ao subir de nível com seu personagem, você recebe um ponto para desbloquear o primeiro nível de uma nova habilidade. No entanto, sua tarefa só estará completa quando realizar um desafio referente ao atributo, para que ele possa ser novamente aperfeiçoado usando os pontos de habilidade conforme sobe de nível.

    Ou seja, a Bethesda aqui oferece uma grande variedade de habilidades que podem tornar seu personagem especialista em um tipo específico de classe, ou generalista. Além disso, a necessidade de desbloquear os níveis de cada habilidade superando um desafio contribui para que a experiência se mantenha interessante por muito tempo.

    A variedade de armas também é um ponto positivo de Starfield. Isso porque existem diversas armas básicas que podem ser aperfeiçoadas com uma série de recursos. Cada armamento tem seus próprios mods, e também é possível encontrar itens já modificados em baús e ao derrotar adversários.

    A respeito dos recursos, cada planeta possui fauna, flora e elementos químicos espalhados pela superfície. O visor com leitor é usado para catalogar essas informações, mostrando também o percentual do que foi analisado em cada planeta até então.

    No entanto, Starfield peca por não dar mais importância a essas atividades. A sensação que dá é que catalogar informações é indiferente, pois não são cruciais para as principais atividades. Logo, falta um incentivo para também explorar os mais de 1.000 planetas, principalmente os que não há nenhuma forma de vida que vá impor algum risco.

    A criação de entrepostos nos planetas também sofre nesse sentido. Há uma grande variedade de possibilidades, mas elas estão um tanto à parte na exploração.

    Em resumo, o caso é que Starfield parece ter tentado fazer com que tudo seja prioridade. E como diz a sabedoria popular: quando tudo é prioridade, nada é prioridade. Ou seja, acaba sendo mais convidativo seguir o fluxo natural da história principal, pois o restante não foi bem integrado à experiência essencial do game.

    Se você jogou The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom entenderá bem esta comparação. O novo Zelda (até então visto como o principal adversário de Starfield na corrida pelo jogo do ano) integra as mecânicas de construção à história principal. Sem entender ao menos o básico das novas habilidades (Ultrahand, Fusion, etc) não é possível avançar no jogo.

    É essa falta de integração que não gera o interesse de experimentar as diversas possibilidades com naves e entrepostos, pois não são realmente essenciais para a progressão da história principal. Claro, você certamente vai aproveitar o potencial de tudo isso se adora testar a criatividade e explorar cada recurso, mas o fato é que essas mecânicas estão perdidas em meio ao vasto horizonte de Starfield.

    Os problemas de Starfield

    Starfield é um jogo ambicioso que, em muitos aspectos, não soube lidar bem com sua proposta grandiosa.

    A performance é um ponto que infelizmente prejudica o avanço no jogo. Por mais que o estúdio tenha optado por rodar o jogo em 30fps, Starfield com frequência não consegue manter essa taxa de quadros com consistência, mesmo em um PC com características superiores aos requisitos recomendados.

    O planeta Akila é um dos locais que poderia oferecer uma das melhores experiências, pois mescla uma gameplay que testa tanto a sua capacidade de persuasão, quanto sua destreza e pontaria. No entanto, infelizmente foi onde tive os piores problemas de performance.

    Outro ponto prejudicado pela baixa performance é Neon City, que oferece uma experiência com menos ação, mas que também pode se tornar bastante intensa.

    O curioso é que Neon City possui muitos elementos visuais que é até compreensível que a experiência possa ser prejudicada. No entanto, Akila City é uma cidade tipo velho oeste, e parte da experiência no planeta é fora da cidade, em meio a um grande deserto, e infelizmente o jogo tem dificuldade de manter a consistência da taxa de quadros.

    Mesmo o game já tendo recebido alguns updates após o lançamento, a performance nesses locais é abaixo do que se espera de um grande título como esse. Ao menos no PC é seguro dizer que Starfield ainda está mal otimizado.

    Além da performance, o grande lançamento da Bethesda em 2023 também peca nos tutoriais relacionados a gameplay das naves. O melhor exemplo disso é a dificuldade de acoplar. O jogo indica que basta chegar próximo a uma nave e apertar X para acoplar. No entanto, nada acontece e a experiência é frustrante.

    A verdade é que o processo é muito mais simples do que o ensinado. Basta apertar LB para ativar o leitor da sua nave, então A para exibir as opções de contato com a nave que você deseja acoplar. Feito isso, basta apertar X para acoplar, mesmo estando distante.

    A experiência com naves também frustra porque Starfield ousa sendo um RPG de exploração espacial com muitos aspectos fantasiosos, mas em certos quesitos tenta ser realista demais a ponto de prejudicar a gameplay. Dessa forma, pilotar naves é focado em algo mais real, o que torna complexo usar os recursos enquanto avalia todas as opções no visor, tenta desviar dos tiros dos adversários e destruir suas naves.

    Em contrapartida ao realismo, o deslocamento é facilitado pelo fast travel fazendo dobra, que consome recursos recarregados automaticamente assim que você chega no destino. Logo, se você precisa ir para um destino além do que seu combustível aguenta, basta parar no meio do caminho e seguir viagem (se nenhum mercenário atacar antes, claro).

    Essa facilidade para viajar pela galáxia por fast travel é um grande contraste com o realismo da exploração com sua nave. Isso mostra um desequilíbrio entre realismo e ficção nas mecânicas de Starfield, o que torna a experiência inconsistente no geral.

    Outro ponto negativo é a complexidade dos menus, que são desnecessariamente confusos quando o assunto é fast travel para missões principais. Por vezes é possível viajar a um ponto específico pelo mapa geral, mas eventualmente só será possível fazer isso se você selecionar o ponto via objetivo da missão ativa.

    Starfield é um ambicioso RPG de ação de exploração espacial lançado em 6 de setembro de 2023 para Xbox Series X | S, PC e Game Pass
    Encontro com um dos artefatos | Créditos: Bethesda / Divulgação

    Starfield é repetitivo

    A história principal é simples de desenrolar: receba o contexto, converse com personagens, vá a um ponto específico com fast travel, vasculhe um pouco e encontre o artefato. É basicamente ir do ponto A ao B, como diversos RPGs fazem. Isso não é um problema.

    No entanto, o contexto se agrava pelo excesso de fast travel necessário para fazer isso. Apesar de ser possível viajar pela galáxia sem depender da viagem rápida, pousar num planeta requer que você acesse o mapa e defina um ponto para chegar à superfície. Não há como descer no planeta simplesmente indo ao seu encontro.

    Mas o que torna Starfield realmente repetitivo em sua história principal é fazer tudo isso, explorar os planetas seguindo as ondas no leitor, encontrar o templo e sempre ter que flutuar ao encontro de luzes no local, para então conseguir por as mãos no artefato.

    Encontrar o artefato é, obviamente, essencial para o avanço da história, mas sua experiência é sempre igual. O que muda é o ecossistema do planeta a ser explorado.

    O encontro com os objetos poderia impor desafios diferentes em cada oportunidade, mas infelizmente não o faz e isso acaba sendo cansativo. Por mais que as habilidades especiais desbloqueadas após coletar o artefato sejam interessantes, e algumas bem úteis, conquistá-las não chega a ser recompensador por causa da experiência repetitiva.

    Veredito

    Starfield é um ambicioso e encantador RPG de ação com lindos cenários nos seus mais de 1.000 planetas, mas que muitas vezes se complica em meio à sua maior ambição: ser grandioso.

    Mecânicas simples são desnecessariamente complexas. Um mesmo recurso no menu por vezes é simples de usar e em outras oportunidades não é. A performance é prejudicada no PC, às vezes em locais com muitos detalhes gráficos, em outros momentos a queda de frames acontece em ambientes desérticos e com poucos adversários.

    No entanto, os pontos positivos da grandiosidade fazem com que esse seja um título que precisa ser jogado, pois a riqueza de possibilidades com a história, as customizações de naves e personagens, e – claro – os mais de 1.000 planetas a serem explorados vão oferecer experiências únicas para cada pessoa que o jogar.

    Cada pessoa terá uma experiência em Starfield, graças ao universo de possibilidades. E isso é um ótimo ponto positivo. O fato do jogo estar disponível para assinantes do Xbox Game Pass também é um atrativo a mais para torná-lo essencial a fãs do espaço sideral, exploração e RPG de ação.

    Nossa nota

    3,7 / 5,0

    Assista ao trailer de Starfield:

    Ficha técnica de Starfield

    Lançamento: 6 de setembro de 2023

    Desenvolvido por: Bethesda Game Studios

    Publicado por: Bethesda Softworks

    Plataformas: PC (via Steam), Xbox Series X | S e Xbox Game Pass

    Número de jogadores: 1

    Gêneros: Aventura, Espacial, Exploração, RPG de ação

    Idiomas: Português, Inglês, Francês, Italiano, Alemão, Espanhol, Japonês, Polonês, Chinês simplificado

    Preço: Edição padrão a partir de R$ 299,00 (PC) e R$ 349,95 (Xbox Series X | S). Gratuito para assinantes do Game Pass.

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