Um dos jogos mais aguardados de 2024, The Plucky Squire foi lançado no dia 17 de setembro totalmente localizado para o português brasileiro, inclusive o nome: O Escudeiro Valente. O título de estreia do estúdio All Possible Futures foi disponibilizado pela Devolver Digital para PC, Nintendo Switch, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
O Escudeiro Valente acompanha a aventura mágica de Pontinho e seus amigos – personagens de um livro de histórias que descobrem um mundo tridimensional fora das páginas de seu livro.
Quando o maligno Enfezaldo percebe que é o vilão do livro – destinado a perder a batalha contra as forças do bem por toda eternidade – ele expulsa o herói Pontinho de suas páginas e muda a história para sempre. O protagonista deve encarar desafios diferentes de tudo que já viu para salvar seus amigos das forças sombrias do inimigo e restaurar o final feliz da obra.
O game é inspirado pela mágica da literatura e também está repleto de referências a outras formas artísticas, especialmente a pintura. A versão brasileira de O Escudeiro Valente é narrada pelo ator Mauro Ramos, famoso dublador conhecido por dar voz ao icônico Shrek.
Confira a seguir o review de O Escudeiro Valente (The Plucky Squire) jogado no Nintendo Switch.
Análise de O Escudeiro Valente
The Plucky Squire chamou atenção do mundo assim que foi anunciado em junho de 2022. Inicialmente o jogo estava previsto para ser lançado em 2023 e tinha apenas dado um gostinho do quão variada seria a sua gameplay. Sequer havia a previsão de ser totalmente localizado para o português do Brasil e ainda ter um ícone da dublagem brasileira.
Quando ainda era cogitado para ser lançado no mesmo ano que The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, cheguei a dizer que provavelmente eu consideraria Zelda como o melhor de 2023, mas que acreditava que The Plucky Squire seria o mais inventivo. Pois bem, eu errei porque a aventura de Link por céu, terra e subterrâneo de Hyrule surpreendeu com diversos recursos criativos e inéditos na franquia…
Trago essa comparação aqui para ajudar a dimensionar o quão hypado eu estava pela aventura literária de Pontinho e sua turma. Só que, infelizmente, a experiência com O Escudeiro Valente foi frustrante para mim. E não digo isso porque o hardware de quase 8 anos do Nintendo Switch não é capaz de aguentar o tranco – ele é, e o faz bem com algumas concessões que detalharei mais adianta.
A questão é The Plucky Squire frustra porque entrega uma experiência com bugs capazes de impedir que você avance na história. E isso pode ocorrer em mais de um ponto do jogo.
Antes, vamos falar das coisas boas, que não são poucas.
A criatividade de The Plucky Squire precisa inspirar a indústria
A proposta de ser um jogo 2D + 3D não é inédita, mas também não é comum. Um excelente jogo que usa esse recurso com maestria é Super Mario Odyssey (2017), que usa a jogabilidade em duas dimensões para trazer pitadas de nostalgia em momentos específicos de uma gameplay moderna.
A valiosa criatividade de O Escudeiro Valente já começa por ter a alternância do 2D para o 3D como essência do game. Com certeza esse é o grande carro-chefe, mas longe de ser o único fator criativo.
O lindo estilo gráfico da gameplay 2D dentro de um livro segue a lógica de uma lúdica história infantil. Os personagens desenhados à mão na gameplay em duas dimensões trazem os diferenciados traços de James Turner, codiretor de The Plucky Squire e cofundador da All Possible Futures.
Turner é amplamente conhecido por ter trabalhado na Game Freak entre 2010 e 2022 desenhando Pokémon para diversos jogos, inclusive sendo o diretor de arte de Pokémon Sword and Shield (2019). Ele foi o primeiro profissional do ocidente a desenhar os monstrinhos de bolso oficialmente para diversos produtos da The Pokémon Company.
O estilo artístico de Turner é um dos pontos altos do jogo e casa muito bem com a proposta lúdica de O Escudeiro Valente. Outro ponto do game que valoriza bastante o trabalho de arte são os “papiros” que podem ser encontrados ao longo da aventura. Cada documento mostra artes conceituais de diferentes momentos do jogo, inclusive mostrando designs que foram ressignificados ou descartados.
Ainda sobre os aspectos lúdicos de The Plucky Squire convém mencionar que as transições entre áreas do mapa ocorrem por meio do movimento de folhear as páginas do livro. Além disso, a progressão da aventura por vezes exige que você golpeie um grupo de palavras para encontrar qual pode ser substituída por alguma outra que está espalhada por aí, para que então a frase atualizada desencadeie uma ação, como a abertura de um portão.
Vale destacar que a localização para o português e outros idiomas poderia prejudicar a gameplay nesses momentos, mas no nosso idioma posso dizer que ela realmente foi bem feita. Há momentos em que as sentenças se adaptam para que as palavras façam sentido e mantenham a conjugação correta. Também é interessante notar que se pode formar frases incorretas para o avanço na história, mas que mesmo assim podem gerar efeitos no mapa.
Mas o que realmente me conquistou em The Plucky Squire foi a variedade de gêneros dentro de um jogo só.
O título por si lembra muito os tradicionais jogos 2D da franquia Zelda tanto pela visão de cima, como pela jogabilidade. Mas com frequência a gameplay se modifica, trazendo uma experiência diferenciada que faz referência a clássicos como Punch-Out!! (1984), jogos shoot’em up, rítmicos, de quebra-cabeça com bolhas, tiro ao alvo e muito mais.
Uma das situações mais surpreendentes é ao encontrar a carta de Alowynia, a elfa patrulheira. Pontinho entra na carta para tentar conseguir um arco e flecha. A carta em questão segue a modelagem clássica de jogos como Magic: The Gathering, o que por si já chama a atenção. Mas é na transformação da jogabilidade para um combate de RPG por turnos e, principalmente, na quebra de expectativas que acontece nessa parte que a experiência se destaca.
Esses momentos de surpresas na gameplay acontecem no 2D. A experiência no 3D é agradável e remete a uma mescla de It Takes Two (2021) com uma atmosfera mais lúdica estilo Toy Story. No entanto, no tridimensional a experiência não apresenta algo que encante como a mistura de gêneros que o bidimensional consegue fazer.
Além de ser mais comedida, a ambientação 3D é um dos pontos que deixam um pouco a desejar no Nintendo Switch. Os visuais não são tão polidos na TV e chegam a ser um pouco ofuscados no portátil. Eu particularmente não considero um problema grave quando a gameplay entretém, mas é inegável que há uma piora nos gráficos e isso pode afastar o público mais exigente.
Apesar dos problemas relacionados aos ambientes e à modelagem de alguns personagens, é merecido destacar que as transições dos momentos 2D para 3D (e vice-versa) são bem executadas. Isso mesmo quando o jogo roda no modo portátil do Switch.
Bugs cruciais prejudicam O Escudeiro Valente
Como mencionei antes, os problemas técnicos referentes à parte gráfica nos ambientes 3D são bastante evidentes. Isso já é esperado de quando um jogo pensado para consoles da atual geração (PS5 e Xbox X|S) também é lançado para o Nintendo Switch, deixando de lado inclusive as plataformas da geração anterior (PS4 e Xbox One).
O desafio é imenso e vai do gosto de cada pessoa saber qual é o limite aceitável para o downgrade visual e de performance. Eu me considero muito tolerante com esse aspecto, tanto que um jogo que eu adoro é Sonic Frontiers (2022), que é visualmente lindo nas plataformas mais potentes, mas no console híbrido da Nintendo passa por uma série de problemas de polimento gráfico, especialmente no portátil.
O Escudeiro Valente passa por questões muito parecidas no portátil em seus ambientes 3D. Mas o que realmente frustra em The Plucky Squire são seus bugs que podem te impedir de terminar o jogo. Literalmente.
Eu tive o azar de ficar preso no capítulo 6 após pegar duas das três peças do jetpack. A cutscene após pegar a segunda parte foi exibida corretamente para mostrar onde eu deveria ir a seguir, mas algo não ativou o portal que estava bloqueado.
Andei por muito tempo por toda a área, voltei para páginas anteriores do mesmo capítulo e nada do portal ser liberado. Depois de muito ir e vir, decidi pesquisar na internet se eu estava fazendo algo errado. Encontrei muitas pessoas falando sobre esse e outros bugs, especialmente no capítulo 6, que estavam impedindo o avanço na história.
E o pior: os bugs pareciam generalizados entre todas as plataformas, inclusive no PC. Vi muita gente falando que um carro de mina num momento anterior a esse do portal também não estava se movimentando corretamente, impedindo o acesso a uma área fundamental para poder continuar o jogo.
Li ainda relatos de pessoas falando que um momento após esse que travou meu jogo, quando devemos usar um carimbo, não identificava o uso do carimbo. Outros jogadores mencionaram bugs em capítulos diferentes, inclusive um logo no início do jogo.
Mas nessa pesquisa também vi gente falando que voltar alguns salvamentos automáticos poderia corrigir os bugs que o jogo estava apresentando. Nesse momento eu estava jogando a versão 1.0.2 de O Escudeiro Valente. Acontece que eu já tinha andado demais pelo capítulo, e o salvamento automático já havia ocupado os slots disponíveis a ponto de eu não conseguir voltar para antes da referida cutscene.
Esperei por uma atualização, que logo veio (1.0.3), mas não foi o suficiente para corrigir o problema no meu save.
Ou seja: após aproximadamente quatro horas de jogo, precisei recomeçar do zero. Aí infelizmente o gosto amargo da frustração já tinha tomado conta. Digo isso porque percebi que não era apenas esse ponto específico do capítulo 6 que poderia impedir o avanço da história, e sim diversas situações ao longo da aventura.
Infelizmente a escolha de oferecer alguns slots de salvamento automático não foi a solução ideal para amenizar os bugs. Seria melhor se pudesse rejogar o capítulo ativo para ver se o problema não ocorre novamente. O que The Plucky Squire permite é jogar qualquer outro capítulo que você já tenha concluído, porém isso não afetará o progresso da parte onde você está.
Portanto, nem voltar a uma parte anterior é capaz de resolver um bug crucial.
Um outro aspecto negativo que percebi nas minhas andanças tentando ativar o portal foi que O Escudeiro Valente é totalmente linear, tal qual uma história escrita em papel. A linearidade em games não é um problema, mas o que agrava a experiência nesse jogo é que o ambiente 3D se modifica em pontos específicos de cada capítulo quando você sai do livro em 2D.
Então, se você voltar no livro em momentos como o que está usando o jetpack, o jogo se perde nas áreas e te deixa explorar espaços que não tem nada, pois você não deveria ter acesso. Mas como o jetpack possibilita chegar a alturas maiores, o game não tem algo programado para apresentar, o que pode agravar outras questões técnicas.
Dessa forma, se você estressar um pouco o jogo explorando algo além da linearidade proposta, mesmo que sem querer como foi o meu caso, isso pode ser o suficiente para ocasionar outros bugs.
Veredito
É agridoce o gosto de experienciar um jogo criativo, que tem um vasto repertório de gêneros, mas que é prejudicado por bugs generalizados em diferentes momentos, muitos deles capazes de impedir o seu progresso. O Escudeiro Valente sem dúvidas é mágico e pode inspirar muitos estúdios a testarem abordagens distintas num mesmo título, mas infelizmente pecou em aspectos básicos que frustram e tiram o seu brilho.
3,2 / 5,0
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Assista ao trailer de O Escudeiro Valente (The Plucky Squire):
Ficha técnica de The Plucky Squire
Lançamento: 17 de setembro de 2024
Desenvolvido por: All Possible Futures
Publicado por: Devolver Digital
Plataformas: PC, Nintendo Switch, PlayStation 5 e Xbox Series X|S
Número de jogadores: 1
Gêneros: 2D, 3D, Ação, Aventura, Plataforma, Puzzle
Idioma: Alemão, Chinês Simplificado, Chinês Tradicional, Coreano, Espanhol, Francês, Inglês, Japonês, Português, Russo
Preços: R$ 88,99 (PC e Nintendo Switch), R$ 112,45 (Xbox), R$ 149,50 (PlayStation). Gratuito para assinantes do PlayStation Plus Extra.