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    “Eu sou um autor, mas antes disso eu sou um fã”, diz escritor Ticiano Osório sobre Batman nos cinemas

    Em seu primeiro livro, o crítico de filmes e séries Ticiano Osório percorre sobre 80 anos do morcego nos cinemas

    Seja com uniforme colorido, capturando bandidos ao lado do seu fiel escudeiro ou com capa preta, escondido nas sombras da noite enquanto busca pistas de um crime, o fato é que todos conhecem o Batman. O super-herói nem precisa de adjetivos, sua fama ultrapassou os quadrinhos e há 80 anos vem fazendo história nos cinemas.  

    Para contar sobre essa jornada do personagem para as grandes telas, o jornalista e colunista de filmes e séries do Grupo RBS, Ticiano Osório, lançou recentemente seu livro  “O Morcego e a Luz: 80 anos de Batman no Cinema” que aborda a trajetória do personagem no meio cinematográfico. Em entrevista a Emerald Corp, o autor conta a ideia do livro, as representações do personagem no cinema e também seus planos literários para o futuro. 

    Confira a entrevista completa: 

    Como surgiu a ideia para o livro? 

    Ticiano: Eu fui convidado pelo Cine Um que é uma produtora de cursos de cinema para dar um curso. Então, eu queria algo que já tivesse algum conhecimento de fato e a primeira coisa que eu pensei foi no Christopher Nolan, porque é um diretor que eu gosto muito. Logo, surgiu a ideia do Batman e à medida que eu fui preparando o material do curso, comecei a mergulhar nos assuntos e escrevi demais.

    Também teve a coincidência da primeira adaptação do personagem está fazendo 80 anos e ainda casou que este ano teve um filme do The Flash (2023) com o Batman em um papel importante. Com a ideia do livro surgiu a oportunidade de oferecer para a Editora BesouroBox, eles acharam legal e fomos em frente e assim nasceu “O Morcego e a Luz: 80 anos de Batman no Cinema”.

    Por que o Batman e não outro super-herói, já que a gente tem várias representações de heróis no cinema?

    Ticiano: Tem vários fatores, primeiro porque o Batman é algo bem afetivo, ele é um dos meus personagens favoritos. Pelo menos no cinema ele é o meu personagem favorito. Mas, eu gosto de vários super-heróis, o Demolidor, por exemplo, é um personagem que eu até gosto mais. Mas, o Batman tem a questão do tempo de vida nas telas, era um personagem interessante de ser trabalhado.

    E além disso, o personagem é muito maleável. Ele se permite ser o que o autor que está trabalhando com ele deseja. E têm também a questão das visões antagônicas do Batman, tem quem goste mais do Batman herói, solitário, violento, amargurado; tem gente que gosta mais do Batman capaz de zombar de si mesmo mais colorido espalhafatoso e tem gente que prefere o Batman detetivesco.

    Isso permite a gente a fazer uma espécie de trajetória do tempo, não só do Batman, mas do que que pegava no mundo da cultura pop e de como esses filmes refletem o contexto em que foram produzidos. 

    Pelo volume de material, como foi o processo de selecionar o que iria entrar no livro? Muita coisa ficou de fora? 

    Ticiano: O primeiro recorte que eu fiz foram filmes exibidos nos cinemas e a presença do Batman com protagonismo. Por isso que entrou o The Flash, porque o Batman não é o personagem título, mas o personagem é o centro principal. Para mim, é uma grande declaração do filme quando eles vão para um universo que a Liga da Justiça não existe, somente o Batman. 

    “Eu sou um autor, mas antes disso eu sou um fã”, diz escritor Ticiano Osório sobre Batman nos cinemas
    Batman (1989) de Tim Burton. Foto: Divulgação 

    Eu fui revendo algumas coisas em ordem cronológica. A cine série dos anos 40 eu vi pulando porque é muito difícil mesmo de assistir, têm um valor arqueológico, mas o ritmo é muito diferente do que a gente está acostumado. Já o Batman (1989) é um filme que eu já não gostei muito na época que eu tinha 15 anos. Batman: O Retorno (1992) eu acho que é um filme que resiste bem, apesar de não ser um filme do Batman, mas um filme do Tim Burton

    Depois, o Batman do Joel Schumacher, nunca gostei e agora só assistindo com chave de humor mesmo. Batman: Eternamente (1995) têm muito duplo sentido e mais, também parece um thriller erótico. Batman e Robin (1997) é um filme mais escrachado, compraram bem a ideia de ser ridículo.

    Mas, no meio desses dois tem um dos grandes filmes do Batman, que é o desenho animado A Máscara do Fantasma (1993) que tem um ótimo roteiro e direção. O personagem surgiu em 1939 e nessa época fez bastante sucesso no cinema noir e esse filme fez um casamento interessante com essa época.

    “Eu sou um autor, mas antes disso eu sou um fã”, diz escritor Ticiano Osório sobre Batman nos cinemas
    Christopher Nolan e Christian Bale nos bastidores da trilogia de Batman. Foto: Divulgação

    Depois vem a trilogia do Nolan que eu gosto muito. O Cavaleiro das Trevas (2008) é o mais resolvido com a incrível atuação do Heath Ledger. O Begins (2005) têm coisas bacanas, mas ainda o diretor não tinha acertado a mão. Já o Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) foi uma baita despedida, eu chorei três vezes vendo o filme. Gosto como o final se conecta com o começo da trilogia, apesar de cometer alguns erros. 

    Depois nós tivemos Zack Snyder que teve uma mão mais pesada, um Batman mais envelhecido, me chama atenção que ele é muito violento. Temos também a animação A Piada Mortal (2016) que entrou no livro porque teve algumas exibições de cinema. Mas é uma adaptação medonha, a parte da piada mortal é legal, porque segue praticamente a mesma ideia da história em quadrinhos. 

    “Eu sou um autor, mas antes disso eu sou um fã”, diz escritor Ticiano Osório sobre Batman nos cinemas
    Lego Batman: O filme (2017). Foto: Divulgação

    E depois a gente teve o respiro com o Lego Batman: O filme (2017), que desconstrói o Batman, e trabalha alguns aspectos do personagem que não vinham sendo tão bem trabalhados no cinema, como a solidão.

    Em seguida, temos o Batman (2022) do Robert Pattinson dirigido por Matt Reeves, que é sensacional. Tenho a impressão de que ele é uma ótima porta de entrada até para quem não conhece muito os personagens.

    O livro é uma ótima porta de entrada para conhecer o personagem. Esse foi teu intuito ou tu tinha outros objetivos com o livro?

    Ticiano: O meu intuito foi fazer um livro pop. Tentei fazer um livro que fosse atraente para ler, não tão extenso. Não tinha pretensão de fazer a biografia definitiva do Batman, então entrei na versão do personagem no cinema e tentei mostrar assim alguns pontos do personagem como essas duas imagens: uma mais ligada ao seriado dos anos 60, mais brincalhão, colorido e tudo mais. E a outra que representa um personagem mais sombrio, solitário, sozinho e violento.

    “Eu sou um autor, mas antes disso eu sou um fã”, diz escritor Ticiano Osório sobre Batman nos cinemas
    Batman: O Homem-Morcego (1966). Foto: Divulgação 

    O livro tem a questão da memória audiovisual bastante forte. Dá para ler e rever os filmes como um complemento. Foi algo que tu pensou para a experiência do leitor?

    Ticiano: Eu fico bem feliz que o livro passe esse sentimento de querer rever os filmes. Isso foi uma coisa até que eu cuidei e depois eu fiquei um pouco até arrependido, tentei evitar o spoiler.

    Por exemplo, eu poderia ter falado um pouco mais do Batman do Reeves, do contexto político não só dos Estados Unidos, mas do mundo que a gente está. Eu procuro conversar com os dois públicos tanto com quem já viu o filme quanto quem não viu. Mas eu procurei não esgotar totalmente os filmes para despertar essa vontade de uma pessoa ver com os próprios olhos e tendo minha visão como um guia que chama atenção para determinadas críticas do filme.

    Apesar de ser um personagem originalmente de quadrinhos, o Batman ganhou muita relevância no cinema. A que tu atribui isso?  E ao teu ver ele continua sendo relevante no cinema?

    Ticiano: O Batman tem uma característica muito marcante, o único super poder dele é ser bilionário. Qualquer um poderia ser o Batman, você treina bastante o corpo e o cérebro. Mas ninguém gostaria de ser o Batman porque ele tem uma origem terrível e trágica.

    O conjunto dessas duas coisas já é muito forte pro lado mítico do personagem. Ele é um cara que não foi picado por aranha, não caiu do planeta Krypton, não é um mutante com garra de adamantium. Têm também o visual do Batman que é sensacional, uma capa de morcego, algo que remete a noite e trevas.

    Então, o Batman tá sempre trabalhando com os nossos sentimentos contraditórios e acho que isso cria um um imã, é um personagem que a gente admira, mas também pode temer.  E na questão de adaptação, é mais fácil levar o Batman pro cinema do que levar quase qualquer outro super-herói, ele é mais prático e isso faz ele ser mais permanente no cinema.

    Podemos dizer que o Batman mudou o cinema como conhecemos hoje em dia? Ou pelo menos, o cinema de supers?

    Ticiano: A gente tem que voltar um pouco no tempo, porque nos anos 80 teve o primeiro o grande filme de super-herói que foi o Superman (1978). Depois do Batman dos anos 80 e 90, o personagem entrou na galeria até 2005, mas a Fox já tinha feito os filmes dos X-Men e a Sony já tinha feito os dois primeiros Homem-Aranha do Sam Raimi.

    Esses quatro filmes são também muito importantes para o estabelecimento dos super-heróis no cinema. Eu não acredito só no Batman, mas têm um legado do Batman Begins pra Marvel que depois veio a dominar, então o cinema de herói bebeu dessa fonte.

    Robert Pattinson em Batman (2022). Foto: Divulgação

    Qual a tua fase ou filme favorito do Batman? E porque? O mesmo para os vilões do herói.

    Ticiano: Eu gosto muito da trilogia do Nolan como um todo, acho muito muito consistente mesmo com as falhas. Mas, eu gosto mais do Robert Pattinson como o Batman, acho que a sacada do Matt Reeves de fazer um Bruce Wayne que é anulado pela sombra do Batman foi muito interessante, trabalhando essa ideia de como a vingança consome a pessoa. 

    Eu gosto muito também do Lego Batman por ser engraçadíssimo, é difícil escolher. Talvez seja fácil escolher os vilões que a gente não gosta do Batman, mas eu gosto muito do Coringa por causa do Heath Ledger e do Tom Hardy como Bane. Eu sou um autor, mas antes disso eu sou um fã. Então eu me dou o direito de ter minhas preferências. 

    Tu pretende lançar outros livros sobre a ótica do cinema? Tem já algum trabalho em mente ou encaminhado?

    Ticiano: Eu tenho em mente uma ideia que eu quero escrever, mas eu não vou revelar agora. Não envolveria super-heróis, mas é um subgênero que eu acho bacana é que eu consigo estabelecer uma relação de interesse. Porque é como eu digo, eu procuro escrever para as pessoas lerem. Então, eu não sou o cara que vai escrever um livro sobre o Bergman, adoro, mas não sou esse cara porque tem gente mais preparada que estudou muito mais.

    Eu posso ser um cara que vai tentar pegar um gênero, um personagem popular e trazer coisas que não sejam só itens de almanaque e isso foi algo que eu cuidei no livro do Batman. Eu queria tentar misturar contexto histórico, curiosidades e a minha opinião, acho que consegui. 

    “Eu sou um autor, mas antes disso eu sou um fã”, diz escritor Ticiano Osório sobre Batman nos cinemas
    Jornalista Júlia Barth participou do painel realizado pelo autor sobre o livro

    Crédito foto de capa: Reprodução Instagram pessoal do autor / Divulgação

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