Resistência (The Creator) é o novo filme do diretor Gareth Edwards. Roteirizado por Edwards em parceria com Chris Weitz, o longa traz em seu elenco principal nomes como John David Washington, Gemma Chan, Ken Watanabe, Allison Janney e a estreante Madeleine Yuna Voyles.
Confira nossa crítica sem spoilers da produção.
Sinopse de Resistência
Em meio a uma futura guerra entre a raça humana e as forças de Inteligência Artificial (IA), Joshua (John David Washington), um ex-agente das forças especiais que sofre com o desaparecimento de sua esposa (Gemma Chan), é recrutado para caçar e matar o Criador, o arquiteto da IA avançada chamado de Nirmata que desenvolveu uma arma misteriosa com o poder de acabar com a guerra e com a própria humanidade.
Análise
O assunto Inteligência Artificial nunca esteve tão em alta quanto nos últimos anos. Sendo inserida em diversos aspectos da nossa vida, as ferramentas de IA e sua possível capacidade de “tomar o lugar” dos seres humanos se tornou motivo de preocupação para uma parcela das pessoas. Antecipando o que pode vir a ser a tal revolução das máquinas, Gareth Edwards e Chris Weitz desenvolveram a trama de Resistência.
Ambientada em um mundo onde os Estados Unidos são contra o uso das IAs, a trama de Resistência aborda a saga de Joshua, um ex-agente das forças especiais que precisa encontrar Nirmata, o responsável por desenvolver uma arma avançada que pode acabar com a guerra entre humanos e máquinas. Joshua acredita que sua esposa, que está desaparecida, possa ser encontrada durante essa missão e, portanto, ele aceita retornar ao campo de batalha.
É importante pontuar que Resistência se esforça para construir um contexto político e geográfico que explique o porquê dos Estados Unidos serem contra o uso das IAs ao ponto de tentarem obrigar o mundo todo a seguir a mesma convicção. O mundo todo, nesse caso, significa apenas os EUA e a chamada Nova Ásia, que vive em harmonia com os robôs, tendo uma ligação emocional e familiar com essas máquinas.
Gareth e Weitz tentam construir durante todo tempo essa ligação calorosa entre humanos e máquinas, criando uma dramaticidade toda vez que os robôs são desligados (mesmo que, em um pensamento racional, eles possam ser religados ou reconstruídos). Esse excesso de dramatização acaba tornando a trama um pouco maçante, pois a todo momento essa argumentação é reforçada por cenas que, mudando cenários e personagens, são basicamente as mesmas.
Em suas 2h13min de duração, Resistência se prolonga por uma quantidade de tempo desnecessária. Em diversos momentos da trama é possível ter a sensação de que o filme poderia terminar em determinada cena, porém ele se estende para criar um novo arco dramático que, no final das contas, terá o mesmo resultado do ápice anterior.
Isso acontece porque Resistência possui a típica saga do pai triste. Um homem que precisa levar uma criança de um ponto a outro e vai fazendo pausas em diversos lugares durante o caminho, criando caos e tristeza para todas as pessoas que têm algum contato com a dupla. Ao confrontar a morte e os horrores da guerra tantas vezes, o restante das reviravoltas já não causam tanto impacto assim.
Ao prolongar seu clímax mais do que o necessário, o longa de Edwards se torna repetitivo e acaba perdendo o momento certo de engajar e emocionar a audiência. Com uma trama um pouco mais curta, a produção causaria um impacto mais significativo, sem deixar de fazer valer a mensagem que quer entregar.
Entretanto, se a trama deixa a desejar, não podemos dizer o mesmo dos visuais.
Resistência custou “apenas” 80 milhões de dólares para ser produzido e fazia muito tempo que eu não via um filme com efeitos e construção de cenários tão bonitos. Tudo na ambientação funciona, e é até difícil acreditar que as locações e robôs não existem de fato. É perceptível que houve um carinho enorme por essa história, e isso se materializa no design de produção.
As cenas que se passam nas metrópoles da Nova Ásia, por exemplo, lembram muitos os belíssimos visuais de Blade Runner e Blade Runner 2049. Quando a trama se volta para a área rural, há uma mudança visual que consegue casar o tradicionalismo local com a modernidade da inteligência artificial.
Essa mistura cria uma ambientação futurista belíssima e de encher a tela do cinema ao melhor estilo visual de Tales from the Loop. Nos momentos em que vemos Nomad em ação, a grande nave que sobrevoa as localidades e escaneia os territórios, é como se ela realmente existisse.
Resistência possui uma equipe técnica que é um dream team. Os diretores de fotografia Greig Fraser e Oren Soffer, o responsável pelo design de produção James Clyne e o produtor de efeitos visuais Julian Levi merecem grande reconhecimento na temporada de premiações. E, claro, o trabalho de Edwards em extrair o melhor de sua equipe também merece citações.
Apesar de John David Washington ser um bom ator, aqui quem rouba a cena é a iniciante Madeleine Yuna Voyles. A química entre os dois funciona muito bem, e é possível comprar facilmente o apego de Joshua pela pequena Alphie.
Quanto mais a trama se desenrola, mais presente Madeleine se torna nos acontecimentos, mesclando momentos engraçados com cenas que demandam uma grande entrega emocional. Ela é o coração do filme de Edwards, e o diretor consegue extrair o melhor da pequena atriz em cena.
Gemma Chan, Allison Janney e os outros personagens coadjuvantes quase não possuem tempo de tela, então acaba que suas aparições se tornam facilmente esquecíveis ao término da produção.
Entretanto, é importante ressaltar as boas aparições de Ken Watanabe ao longo da trama e o ótimo trabalho de diversidade do elenco, principalmente na ambientação dos vilarejos e cidades. Por ter sido filmado em 80 locações de 8 países diferentes, Resistência possui uma pluralidade incrível e que realmente valoriza seu resultado final.
Veredito
Resistência é um dos filmes mais bonitos dos últimos anos. Com um primor técnico de encher os olhos, o longa entrega belíssimas cenas de ação e cria uma ambientação de sci-fi que eleva o legado das produções que vieram antes dele. Entretanto, sua trama é morosa e se prolonga por um tempo desnecessário, perdendo a oportunidade de finalizar sua exibição antes e ter um clímax mais poderoso.
Mesmo com essa derrapada da trama, Resistência é um bom entretenimento e coloca Gareth Edwards em um ótimo caminho dentro de Hollywood.
3,8 / 5,0
Assista ao trailer: