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    CRÍTICA – Treta discute existencialismo de maneira cômica

    Treta é a uma série da Netflix produzida pela A24 e criada por Lee Sung Jin. Com dez episódios, a produção tem Ali Wong e Steven Yeun no papel dos protagonistas.

    Confira nosso review sobre a série.

    Sinopse de Treta

    Um incidente no trânsito desperta a fúria e os impulsos mais sombrios de dois desconhecidos: um empreiteiro falido e uma empresária frustrada.

    Análise

    A nova série da Netflix vai ao amago das relações humanas para falar sobre a infelicidade individual, um sentimento que toda pessoa já experimentou ou vai experimentar um dia. Danny Cho (Steven Yeun) e Amy Lau (Ali Wong), os protagonistas de Treta, conhecem bem essa sensação: basta uma briga de trânsito para que a dupla entre em um ciclo de situações degradantes e satisfatórias, tudo para preencher aquele vazio existencial.

    Danny é um imigrante coreano tentando ganhar a vida como “faz tudo” em Los Angeles, enquanto busca uma forma de trazer seus pais para a América, cuida de seu irmão mais novo, Paul (Young Mazino) e ainda precisa lidar com seu primo criminoso.

    Ele é de fato um perdedor e está cansado das porradas da vida. Em sua primeira cena no show, Danny está tentando devolver uma quantidade grande de churrasqueiras que iria usar para se suicidar. Mas, há algo no olhar perdido de Danny que não deixa mentir: ele anseia por mais da vida.

    CRÍTICA - Treta discute existencialismo de maneira cômica
    Crédito: Divulgação / Netflix

    Por outro lado, Amy, também filha de imigrantes orientais, é uma mulher de sucesso. Após anos trabalhando em seu próprio negócio, ela está prestes a vende-lo por milhões para uma mulher branca rica, Jordan (Maria Bello).

    Amy construiu uma linda família com seu marido, George (Joseph Lee) e sua filha, ela até mesmo tem a casa dos sonhos. Mas, para Amy, algo não está certo, aquele sentimento de gratidão ao final de um longo processo não parece lhe cabe.

    Logo, Danny e Amy se conhecem em um momento delicado para ambos, quando a vida está tão monótona e você precisa lidar com os mesmos problemas várias e várias vezes. Dessa forma, a briga que os dois protagonizam no trânsito surge como uma chama em seus corações, é uma oportunidade de emoção, por mais que eles odeiem.

    Por isso, é tão refrescante que a última cena do primeiro episódio seja Danny fugindo aos risos da casa de Amy, após urinar em todo seu banheiro, enquanto ela sai pela rua furiosa para o perseguir ao som de The Reason da banda Hoobastank enquanto dá um leve sorriso de canto de boca. Há momentos que é divertido odiar.

    CRÍTICA - Treta discute existencialismo de maneira cômica
    Crédito: Divulgação / Netflix

    E aqui é preciso falar da atuação fenomenal de Steven Yeun, um dos melhores atores dessa geração. Yeun não só cria uma caracterização emocional e corporal para Danny, como foge de todos os paradigmas que poderiam o colocar como um “vilão” na história. O mesmo acontece com Ali Wong, em certamente uma das melhores atuações de sua carreira, a atriz dá camadas profundas para Amy.

    Mesmo com toda conotação dramática e mais que bem-vinda da série, Treta também é uma produção de comédia com um humor um tanto ácido que volta e meia faz o espectador refletir sobre a vida e suas condições.

    Em cada ataque estrategicamente pensado para sabotar ao outro é até cabível se perguntar se eles não tem nada melhor para fazer, ou se simplesmente não podem deixar para lá. A resposta é obvia: eles até tentam seguir com suas vidas, mas o ardor desses personagens e o desprezo um pelo outro é maior. Danny e Amy não são pessoas ruins, eles apenas estão de saco de cheio da vida.

    Cultura asiática como pano de fundo

    Em uma série como Treta é impossível não falar sobre a cultura asiática não só nos Estados Unidos, como no ocidente. É esperado que Danny e Amy sejam pessoas mais pacientes e tranquilas com a vida, como até mesmo Jordan fala para Amy: “Você tem essa coisa serena do zen-budismo acontecendo”.

    Essa é certamente uma visão ocidentalizada criada a partir de diversos estereótipos, por isso, é tão catártico ver esses dois protagonistas orientais xingando alto, ficando com raiva e tendo comportamentos duvidosos. Isso os torna humanos e mais palpáveis, sem toda pretensão e fingimento das relações sociais.

    Ainda assim, Treta tem suas baixas. Na tentativa de dar mais trama aos personagens, Danny entra para uma igreja oriental, um plot interessante, mas que fica subdesenvolvido. Enquanto a depressão de Amy é pouco explorada para o tamanho de sua dor em relação a falta de presença dos pais.

    CRÍTICA - Treta discute existencialismo de maneira cômica
    Crédito: Divulgação / Netflix

    Com a perda de substância em alguns momentos, a série poderia facilmente ter oito episódios sem cair o ritmo. Por outro lado, a trilha sonora de Treta merece um destaque a parte, com sucessos nos anos 90 e 2000, as músicas transmitem os personagens e compactuam com suas personalidades.

    É interessante notar que Danny e Amy, são reflexos de suas gerações, filhos de imigrantes asiáticos que foram prometidos para brilhar e ter sucesso na América, eles só não contavam com as angústias internas da existência humana.

    Veredito

    Treta é uma das melhores séries da Netflix este ano! Com tons de um humor dramático, a produção sensibiliza e diverte ao mesmo tempo.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Assista ao trailer:

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