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    CRÍTICA – Vol. 2 da 5ª temporada de Stranger Things dá passos lentos rumo à conclusão da saga

    25 de dezembro, Natal. Essa foi a data escolhida para que o volume 2 da 5ª temporada de Stranger Things chegasse na Netflix. Com três episódios, o volume 2 é mais uma parte desta história, que terá o seu encerramento apenas no dia 31 dezembro, com o episódio final sendo exibido tanto no streaming, quanto em cinemas selecionados ao redor do mundo.

    Essa decisão de particionar a temporada não é novidade, pois a Netflix vem testando esse modelo como uma alternativa ao lançamento semanal. Dividir os episódios em duas ou mais partes aparentemente faz o “momentum” durar mais nas redes sociais, mantendo os debates sobre os acontecimentos da trama rolando por mais tempo.

    Entretanto, optar por uma divisão no meio da conclusão de uma das maiores séries da televisão também tem seus riscos, e infelizmente Stranger Things acaba sofrendo as consequências disso. Se o volume 1 conseguiu iniciar a história de uma ótima maneira, colocando a trama num ritmo acelerado, sem enrolação e com bastante ação, o volume 2 vem como um grande freio nesse desenrolar.

    Retomamos a saga depois que Will (Noah Schnapp) consegue se infiltrar na rede de Vecna (Jamie Campbell Bower) e utilizar os poderes do vilão para derrotar os demogorgons que ameaçavam matar os seus amigos. A cena, super cinemática e bem amarrada com os três episódios apresentados até então, pavimentou o caminho para o que aparentava ser um volume 2 mais dinâmico e cheio de reviravoltas. 

    E, bem, não foi o caso. A partir daqui, a trama novamente se divide em vários pequenos núcleos: acompanhamos a saga de Max (Sadie Sink) e Holly (Nell Fisher) por suas memórias, e também pelas memórias de Vecna; Dustin (Gaten Matarazzo), Steve (Joe Keery), Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton) e seus problemas de relacionamentos; El (Millie Bobby Brown) e Kali (Linnea Berthelsen) e o dilema moral de sua existência; além de todos os outros personagens que fazem parte do grupo principal, mas que ficaram orbitando esses acontecimentos.

    E é o fato de ter tanta gente nesse grupo que torna o volume 2 abarrotado. Além de todos esses personagens que acabam se unindo em determinado momento, há a necessidade urgente de finalmente explicar como o Mundo Invertido funciona e aprofundar a história do próprio Vecna.

    Afinal, a quarta temporada faz esse longo percurso de nos apresentar como Henry, ou 001, se transformou em quem ele é e desenvolveu sua relação com El. Entretanto, pouco de seu passado quando criança, quando ele desenvolveu suas habilidades, foi abordado, e estar dentro das memórias dele é o momento ideal para sabermos mais sobre isso… certo?

    E por mais que o volume 1 coloque pistas de que, em breve, veremos mais sobre o assunto, já que temos a memória de uma Joyce (Winona Ryder) jovem distribuindo panfletos para um musical que engloba todos os parentes das crianças principais e o próprio Henry, o volume 2 se recusa a seguir nesse caminho e resolve segurar essas explicações em meio a uma série de tramas paralelas.

    O fato de tramas paralelas existirem não é o problema, até porque as temporadas de Stranger Things são construídas na lógica de grupos separados fazendo pequenas missões e chegando a um denominador comum. Entretanto, aqui o leque se expandiu de uma forma tão massiva que falta tempo de tela para garantir que todo mundo consiga participar, deixando alguns personagens escanteados.

    CRÍTICA - Vol. 2 da 5ª temporada de Stranger Things perde fôlego e tempo em momento crucial da trama
    Créditos: Divulgação / Netflix

    E isso é muito perceptível quando falamos de uma das personagens mais importantes dessa história toda: Eleven. Se nessa temporada Will está recebendo o protagonismo que há muito era esperado, a Onze tem sido tratada como um anexo de Hopper (David Harbour), que é um personagem que não tem mais para onde se desenvolver.

    Se no volume 1 vemos os dois, mais uma vez, trabalhando juntos e Hopper permitindo que a garota tenha um pouquinho mais de espaço para usar seus poderes, o volume 2 parece regredir completamente nessas decisões, potencializando as brigas entre ambos devido à adição de Kali (Linnea Berthelsen) na história. Nem o surgimento de um buraco que coloca a existência do grupo em risco faz com que Hopper permita que Eleven tenha um certo nível de protagonismo. 

    Essa situação se torna ainda mais perceptível quando colocamos o arco de Karen Wheeler (Cara Buono) ao lado do de Eleven, já que ela, mesmo debilitada, faz parte de duas cenas emblemáticas desse novo ano (sendo uma delas bem inexplicável, mas uma ótima referência a Jurassic Park), enquanto Eleven parece alternar entre a banheira e a bandana a cada novo episódio.

    Se eu dissesse que apenas Eleven sofre com o pouco tempo de tela, eu estaria mentindo. Nancy e Jonathan por exemplo, que há muito estão separados, seja geograficamente ou emocionalmente, ganham um pequeno e belíssimo momento para colocar as diferenças de lado e se reconectarem. Porém, da mesma forma, esse instante de conexão é contado no relógio e provavelmente não teremos tempo de revisitar esses dois personagens num futuro próximo.

    E mesmo sabendo que há muito o que explicar e desenvolver, a série acaba optando por trazer ainda mais personagens, seja no núcleo das crianças ou com a adição de Mr. Clarke (Randy Havens) e Vickie (Amybeth McNulty) ao clubinho.

    Quem acaba se saindo melhor nisso tudo é Max e Holly que, por explorarem partes importantes do background de Vecna, ganham diálogos mais elaborados e dinamismo nas situações em que estão inseridas. Nell Fisher tem muito material para trabalhar ao longo desses 7 episódios e a atriz mirim é um dos nomes da temporada até aqui. O mesmo vale para Sadie Sink, que está na posição de guia de Holly e divide um momento bem divertido com Vecna.

    Outro destaque está em Will, que tem um ótimo desenvolvimento e cenas muito boas, sendo um dos personagens mais interessantes do 5º ano. Seu relacionamento com Robin (Maya Hawke) é uma grata surpresa, garantindo que ele tenha alguém próximo para dividir seus medos e inseguranças.

    É preciso mencionar também o encerramento dos problemas entre Steve e Dustin. Um caminho tortuoso para os fãs, mas que encontra um final sensível e engajante. O volume 2, num geral, parece uma grande despedida de situações que estão no caminho emocional de alguns personagens, o que pode significar traumas ainda maiores vindos aí.

    E se no volume 1 eu destaquei como Dustin e Mike (Finn Wolfhard) ganharam novas camadas, aqui quem recebe um pouco mais de carinho é Lucas (Caleb McLaughlin), com uma cena bem emocionante ao lado de Max. É difícil não sentir falta dos momentos em que eles todos ficavam juntos, mas é compreensível, pela complexidade dos acontecimentos, que essa configuração não seja mais possível.

    Talvez a escala que Stranger Things ganhou com o acréscimo desses três episódios seja, também, um peso para a sua execução. Afinal, além da existência de um terceiro mundo onde o Mind Flayer provavelmente espera pela chegada dos nossos heróis, há ainda uma trama militar pronta para ser adicionada a esse grande caldeirão de situações. E tudo isso precisa ser resolvido em… um episódio.

    Se duas horas serão o suficiente para explicar tudo o que é necessário, essa é uma incógnita. Os Irmãos Duffer, até aqui, acertaram no tom cinematográfico da maioria das temporadas e entregaram boas season finales. É torcer que esse pequeno detour durante o volume 2 seja apenas um passo para trás em busca de impulso para algo melhor. 

    Veredito

    A fraqueza do volume 2 de Stranger Things está na ótima execução do volume 1. Os quatro primeiros episódios da última temporada são dinâmicos, trazem bons desenvolvimentos e fazem a trama andar, enquanto os três novos capítulos parecem desacelerar a história antes do gran finale, evidenciando gargalos no aproveitamento de alguns personagens. Apesar disso, o volume 2 ainda assim é bem ambicioso e possui boas ideias, mas fica a dúvida se o encerramento conseguirá amarrar de forma efetiva todas as pontas necessárias.

    Nossa nota

    3,7 / 5,0

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    Assista ao trailer:

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