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    CRÍTICA – Os Outros expõe falsa moralidade da classe média

    Série original da Globoplay, Os Outros é uma criação do roteirista Lucas Paraizo (Sob Pressão). Assinam também a série Fernanda Torres, Flavio Araujo, Pedro Riguetti, Bárbara Duvivier, Thiago Dottori e Bruno Ribeiro. Já a direção é de Lara Carmo

    Confira abaixo a nossa crítica sobre a produção.

    Sinopse de Os Outros

    Vizinhos entram em choque após a briga de seus filhos, com consequências absurdas. Uma série atual sobre até onde a falta de diálogo pode levar as pessoas.

    Análise

    Em uma sociedade que mais banaliza do que combate a violência é fácil colocar a culpa no outro. O clássico “somos nós contra eles” explana um sentimento de indiferença por aqueles que não compartilham as mesmas vivências e opiniões que “nós”, fazendo com que seja conveniente desprezar e até odiar o próximo, pois em certa medida “somos muito melhores que eles”.

    É através dessa falsa moralidade e superioridade que a nova série da Globoplay constrói sua trama. Os Outros trata de uma classe média brasileira emocionalmente e psicologicamente doente, mas que insiste em esconder suas mágoas e feridas para aparentar uma vida feliz para os vizinhos.

    O cenário para essa história não poderia ser mais ideal, de fora do condomínio Barra Diamond em São Paulo a convivência entre os moradores parece tranquila, sendo o lugar ideal para criar uma família.

    No entanto, quando adentramos os prédios e apartamentos fica evidente o castelo de cartas que é o lugar, apenas esperando o menor sopro para desmoronar. E isso vem com uma briga entre adolescentes na quadra de futebol do condomínio, e a situação coloca duas famílias em desavença.

    De uma lado, Cibele (Adriana Esteves), uma mãe super protetora que não aceita calada que seu filho seja menosprezado pelos outros jovens, do outro Vando (Milhem Cortaz), um pai ríspido que encara as atitudes violentas do filho como normal.

    Créditos: Divulgação / Globoplay

    Ambos os vizinhos se odeiam, mas detestam ainda mais que seus filhos sofram quando ao seu próprio ver os problemas são os outros.

    Para Cibele, o bullying que Marcinho (Antonio Haddad), seu filho, sofre é inadmissível e, na tentativa de resolver a situação, ela piora e encurrala ainda mais o menino com seu excesso de cuidado. Já Vando criou um ambiente onde a violência é vista como natural para seu filho, Rogério (Paulo Mendes). Por isso, o garoto não se acanha em reproduzir os ensinamentos do pai.

    Para completar, Amâncio (Thomás Aquino), marido de Cibele e pai de Marcinho, é um homem sem voz dentro da própria estrutura familiar, sendo constantemente desaprovado pela esposa. Enquanto Mila (Maeve Jinkings), esposa de Vando e mãe de Rogério, também vive nesse âmbito de invisibilidade dentro de sua casa, restando a ela o papel de cuidar e limpar.

    Cada personagem cria suas próprias razões para seus atos sem escrúpulos. Uma demissão repentina é uma faísca para um surto de violência, a compra de uma arma é usada como motivo para proteção.

    Em Os Outros não existe meio termo, os personagens são levados aos extremos de suas ações evidenciando o quão longe os “cidadãos de bem” podem ir se confrontados e pressionados.

    As aparências enganam quem acha que a situação pode ser concertada com diálogos quando os envolvidos já estão esgotados e se sentindo ameaçados por todos os lados. Nesse sentido, a série da Globoplay se sai muito bem em trazer a tona a violência silenciosa de cada dia, onde um abuso sexual ou uma agressão domestica são encaradas como consequências e nunca como a origem do problema.

    Para colaborar com o contexto caótico do condomínio, a produção vai além da esfera familiar e coloca outras figuras na trama. Sérgio (Eduardo Sterblitch) é um ex-policial que utiliza da sensação de insegurança do Barra Diamond para criar um sistema corrupto ao lado da síndica Lúcia (Drica Moraes), uma mulher que despreza o lugar que administra.

    Resta espaço também para Lorraine (Gi Fernandes), filha de Sergio, que entra na trama no médio para o final e rapidamente entende a dinâmica do lugar. Dessa forma, Os Outros explora outras convivências sociais destacando a complexidade e também a fragilidade das relações.

    Créditos: Divulgação / Globoplay

    Além de uma narrativa incrivelmente intrínseca, Os Outros também carrega um elenco poderoso. Adriana Esteves e Milhem Cortaz, quase como arqui inimigos, desempenham atuações ferozes que vão de encontro às interpretações mais amenas e pacíficas de Maeve Jinkings e Thomás Aquino. Eduardo Sterblitch é certamente um dos destaques, construindo um personagem amedrontador.

    Grande parte da série se passa dentro dos apartamentos criando um cenário claustrofóbico e hostil para o espectador. Dessa forma, a direção é muito bem sucedida ao apostar em close ups nos personagens ou planos fechados que denotam a perturbação moral daqueles sujeitos.

    A tensão crescente ao decorrer dos 12 episódios expressa como o criador Lucas Paraizo foi minucioso ao montar essa trama. Nada em Os Outros é suave ou agradável, o sentimento de inerência e terror social propagado pelo show expõe uma velha falácia da sociedade: sempre que podemos colocamos a culpa no outro.

    Veredito

    Seguindo um dos grandes sucessos do ano, Os Outros da Globoplay se assemelha em muito com Treta da Netflix. Um pouco menos cômico, mas um ímpeto de tratar de temas ardilosos, como a convivência social em uma sociedade criada sob falsos conceitos. Uma segunda temporada já foi anunciada, resta ficar na expectativa que seja tão esplêndida quanto esta.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Assista ao trailer:

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