A segunda temporada de Gen V, que teve seus três primeiros episódios liberados no Prime Video em 17 de setembro, começa sua narrativa na esteira dos acontecimentos do primeiro ano da série, mas lidando com a perda de seu grande protagonista, o ator Chance Perdomo, falecido em 30 de março de 2024.
Esse luto, que perpassa não só a perda de um excelente ator, mas também o adeus a Andre (personagem tão querido pelo público), é muito sentido nesse novo ano, que encontra formas de honrar a memória sem parecer que está explorando a tragédia da vida real.
Nesse novo cenário, Marie (Jaz Sinclair), Emma (Lizze Broadway) e Jordan (London Thor e Derek Luh) também se tornam outras pessoas. O efeito da perda de Andre está intrínseco em suas existências, o que modifica suas ações e forma de agir se compararmos com os mesmos personagens que conhecemos no primeiro ano da série.
E o desafio de Gen V vai além disso. Apesar do luto ser, a meu ver, o grande tema dessa temporada (tivemos acesso a 7 dos 8 episódios da série), a produção também precisa lidar invariavelmente com a necessidade de conexão com The Boys. Afinal, as duas produções estão intrinsecamente conectadas, e o cenário que vimos na quarta temporada de The Boys era catastrófico.
Portanto, esse segundo ano é marcado por mudanças profundas e que, de certa forma, acredito que afetaram o curso da produção no geral. Com todos esses desafios, devo dizer que a temporada é, sim, muito boa e competente no que se propõe, mas deixa muitas lacunas em aberto e situações a serem explicadas.
Sem spoilers, vamos do começo.
A primeira temporada de Gen V termina com nossos heróis presos em Elmira. Lá, eles passam por situações horríveis, mas eventualmente acabam retornando para a universidade. Cate (Maddie Phillips) e Sam (Asa Germann) também vivem as consequências da última temporada e dos acontecimentos de The Boys, sendo Cate a que mais tenta “ajudar” seus amigos – após ter sido o motivo deles serem presos, em primeiro lugar.
Esse novo ano traz também um novo personagem: Cipher, interpretado pelo excelente Hamish Linklater. Hamish é, com certeza, um dos destaques dessa temporada, e consegue elevar o resultado de diversas cenas em que está inserido. O ator foi uma ótima inclusão em Gen V, entregando um personagem que foge do tragicômico que vemos constantemente na franquia.
Para além de seus mistérios e reais interesses, Cipher é cruel e possui uma escrita completamente diferente dos antagonistas das outras temporadas. Tudo em relação ao novo reitor parece mudar o tom das cenas em que ele está inserido, e Hamish é certeiro com sua atuação, que contempla longas falas com frases que quase não tem pausas e que ditam o ritmo da reação dos outros colegas em cena.
Jaz Sinclair, London Thor e Derek Luh seguem muito bem com seus personagens, e neste ano encontram mais espaço para externar seus sentimentos, o que torna esses super-heróis tão diferentes dos outros em sua essência. A ingenuidade da juventude e o ego seguem intactos, pois são as justificativas para inúmeras situações acontecerem, mas há um grande amadurecimento e entendimento de si mesmos por parte de Jordan e Marie, o que é um dos pontos positivos da trama.

Outro grande destaque é Emma, interpretada por Lizze Broadway. A diferença é enorme se compararmos a Emma da primeira temporada com a da segunda, e até o alívio cômico foi amenizado perante todos os traumas que a personagem passou. Seu arco, que não se limita apenas às suas interações com os outros supers, também é bem satisfatório.
Um dos trunfos de Gen V é conseguir equilibrar essas várias pequenas histórias, ao mesmo tempo que constrói o caminho para o desfecho da trama principal e costura referências à situação atual do mundo. Entretanto, isso não quer dizer que a temporada não gaste tempo desnecessariamente com arcos paralelos que não acrescentam muito à história principal, além de ter direcionamentos confusos ao longo do caminho.
Mesmo assim, o saldo num geral é bem positivo. Gen V explora bastante o uso das redes sociais, fake news, programas sensacionalistas e do lado obscuro das personalidades que influenciam a sociedade. The Boys está bem presente na série nesse sentido, com várias participações especiais.
Nesse ponto, a temporada se mantém muito atual e com um discurso bem amarrado com base no que a franquia tem construído ao longo dos anos. Certamente os criadores não têm medo de se posicionar e dizer o que pensam, mantendo uma identidade sólida e necessária.
O gore também segue intacto. O primeiro episódio já começa com um grande acidente que resulta em uma das sequências mais nojentas da franquia até aqui, garantindo que a proposta de cenas chocantes desse universo tenha continuidade.
Talvez a temporada até aqui não tenha alcançado o seu máximo, mas é certamente um bom ano e uma boa transição para o que veremos a seguir em The Boys. Não sabemos o que o último episódio reserva, mas certamente há diversas questões a serem respondidas e muita expectativa a ser alcançada.
Veredito
O segundo ano de Gen V explora os impactos do luto e as consequências de um mundo cada vez mais pautado pelo ódio para criar uma trama que entrega entretenimento, ação, gore e, também, reflexões. Com muitos desafios na mesa, os showrunners conseguiram costurar uma história interessante nesses 7 episódios que tivemos acesso e que é efetiva em se firmar sem depender de The Boys. O grande destaque segue sendo o elenco, e a adição de Hamish Linklater é um dos pontos altos nesse sentido.
4,0 / 5,0
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