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    CRÍTICA – Cidade de Deus: A Luta Não Para apresenta uma nova perspectiva

    Cidade de Deus: A Luta Não Para é uma produção da HBO Brasil em parceria com a Max com direção de Aly Muritiba.

    A série é uma sequência dos acontecimentos do aclamado filme de 2002.

    Sinopse

    Vinte anos após os eventos do longa-metragem, no início dos anos 2000, a produção acontece, através das memórias de Buscapé (Alexandre Rodrigues), retratando o impacto dos conflitos entre policiais, traficantes e milicianos na vida dos moradores da comunidade.

    Análise de Cidade de Deus: A Luta Não Para

    Quando Cidade de Deus foi lançado em 2002, rapidamente se consolidou como um grande sucesso, tanto nacional quanto internacionalmente.

    Dirigido por Fernando Meirelles, o filme trouxe à tona um dos temas mais sensíveis do Brasil: a criminalização das favelas do Rio de Janeiro.

    Através de personagens emblemáticos, Cidade de Deus abordou questões como desigualdade, cor, classe social, política e outros aspectos que permeiam a vida daqueles que vivem nas comunidades cariocas.

    Tudo isso com a direção crua e visceral de Meirelles, que, junto de sua equipe, criou um filme intenso e memorável, cujas repercussões permanecem vivas até hoje.

    Vinte e dois anos depois, Cidade de Deus retorna às telas na forma de uma série da Max, com novos e velhos rostos, que mais uma vez contam histórias que permanecem à margem da narrativa convencional.

    Sob o subtítulo A Luta Não Para, a série mostra que, apesar dos anos que se passaram, a mudança na Cidade de Deus é gradativa e caminha a passos lentos. Se o filme retratava a década de 70 e 80, a produção, assinada por Aly Muritiba, aborda o início dos anos 2000 no Brasil. Buscapé/Wilson (Alexandre Rodrigues), mais uma vez, é a voz central dessa história, agora um fotógrafo renomado que, embora tenha deixado a Cidade de Deus, continua frequentando a comunidade, já que sua filha, Leka (Luellem de Castro), e sua mãe ainda vivem lá.

    O fotografo continua registrando imagens dos confrontos armados que marcam o cotidiano da favela. A série se distancia da ideia de Buscapé como um “sanguessuga” das tragédias da Cidade de Deus, mas, ao contrário, reflete sobre como sua fotografia pode colaborar para visões distorcidas da realidade.

    Embora Buscapé tente capturar as imagens positivas da comunidade, o jornal em que trabalha quer cada vez mais fotos de corpos baleados.

    Esse impasse é questionado pelo próprio personagem, mas é através de sua filha, que ele começa a compreender melhor os impactos de seu trabalho nas pessoas que vivem na favela.

    Embora seja o personagem central, Buscapé não é o único protagonista. A série é repleta de personagens poderosos, que têm suas próprias vivências dentro da comunidade.

    Bere (Roberta Rodrigues), Cinthia (Sabrina Rosa) e Barbantinho (Edison Oliveira) são personagens do filme que ganham mais espaço na série. Os três se tornaram líderes comunitários, contribuindo cultural e politicamente para a comunidade.

    Apesar da produção contar apenas com seis episódios, de certa forma os três personagens são contemplados, passamos a conhecer suas dores e vontades.

    Um dos grandes acertos da série foi a introdução de novos rostos, o que trouxe mais complexidade e profundidade à trama.

    Curio (Marcos Palmeira), por exemplo, é o traficante da vez na Cidade de Deus. Seu grande conflito é com Bradock (Thiago Martins), um dos jovens que matou Zé Pequeno e comandou o morro ao lado de Curio.

    Após passar um tempo na prisão, Bradock retorna para tentar retomar seu posto. A relação entre pai e filho é nitida, mas o final é trágico, Cidade de Deus entrega mais uma vez as malezas do crime e como ele destroi fortes ligações. Mas um dos maiores destaques da trama é Jesusa (Andreia Horta), que se torna o pivô de vários acontecimentos importantes, a personagem é impotente e destemida emandando um espirito vilanesco mas que passa longe dos cliches das novelas .

    Ela manipula Bradock para que os políticos possam crucificar a Cidade de Deus, assim, permitir que a política invada a favela, gerando um grande desespero entre os moradores.

    Enquanto o filme apresenta a criminalidade de maneira visceral, a série a utiliza como ponto de partida para abordar o que realmente importa: a comunidade e as pessoas que a compõem.

    O roteiro, muito bem estruturado por uma equipe talentosa, incluindo Sérgio Machado, Armando Praça, Renata Di Carmo, Estevão Ribeiro e Rodrigo Felha, respeita o que já foi estabelecido no universo de Cidade de Deus, ao mesmo tempo que apresenta novas perspectivas, ampliando o poder de denúncia sobre as injustiças nas favelas brasileiras.

    Tudo isso é conduzido pela direção precisa de Aly Muritiba, que opta por uma narrativa autêntica e complexa, afastando-se dos padrões do cinema comercial.

    A série, ao desenvolver personagens profundos e dar tempo para que suas histórias sejam contadas, oferece ao espectador uma experiência ao mesmo tempo reflexiva e empoderadora. Com um estilo único que destaca o melhor do audiovisual brasileiro, Cidade de Deus se reafirma não apenas como uma obra aclamada no país, mas também como uma produção de alcance verdadeiramente global.

    Veredito

    Cidade de Deus: A Luta Não Para revive um clássico do cinema brasileiro, trazendo novas interpretações e perspectivas para a história dos moradores das favelas do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que respeita e aproveita o legado de seu antecessor para elevar a narrativa da série. Uma produção intensa e impactante, que reflete com profundidade sobre as realidades das comunidades cariocas em busca por igualdade e justiça.

    Nossa nota

    5.0/5.0

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