Um GTA das antigas, arcade shooter visto de cima, mas que ao invés de tocar o terror por aí sem respeitar regras você deve viver a rotina de trabalho de um policial e respeitar o manual de conduta da profissão? Essa é a interessante proposta de The Precinct, novo jogo desenvolvido pela Fallen Tree Games e lançado neste dia 13 de maio pela Kwalee.
Em The Precinct vivemos na cidade de Averno em 1983, local onde controlamos o protagonista Nick Cordell Jr., um novato que acabou de sair da academia e filho de um respeitado policial já falecido.
O jogo é considerado pela equipe de desenvolvimento como uma carta de amor aos filmes policiais clássicos. É também um novo passo para a Fallen Tree Games, que em 2019 lançou American Fugitive, um shooter top-down em que você está na pele de Will Riley, o protagonista assombrado pelo assassinato do seu próprio pai – cujo principal suspeito é ele mesmo.
A temática também está presente em The Precinct, mas agora com a lógica completamente invertida. Ao invés da raiva como motivação para encontrar o assassino do pai custe o que custar, no novo game são os códigos de conduta policial e o caminho da lei que servem como base para as ações e motivações do protagonista, que segue a carreira do seu falecido genitor.
The Precinct está disponível para PC (via Epic Games Store e Steam), PlayStation 5 e Xbox Series X|S. Confira a seguir o review sem spoilers do jogo para PC.
Análise de The Precinct
Tive meu primeiro contato com o novo jogo da Fallen Tree Games durante a gamescom 2024. Naquela edição do evento alemão pude conhecer diversos títulos promissores que ainda seriam lançados pela Kwalee, entre eles Voidwrought, The Spirit of the Samurai e GladiEATers.
Todos os títulos promovidos pela publisher na gamescom 2024 mostravam que a empresa seleciona bem os projetos que deseja lançar e, igualmente louvável, busca ideias criativas em gêneros variados.
Daquele momento em diante passei a ficar de olho nos games da Kwalee (e recomendo que você faça o mesmo se curte descobrir joias indie), mas com certeza o que mais havia me chamado atenção naquelas sessões de gameplay foi The Precinct. Não era o mais criativo (o que se destacou nesse quesito foi GladiEATers, que ainda não foi lançado), mas o plot twist em relação a gameplay dos GTAs antigos vistos de cima foi um grande atrativo para mim.
Quem diria que seguir as regras poderia ser divertido num jogo envolvendo tiroteio e altas perseguições policiais a pé, de carro e de helicóptero? Pois é, a gurizada da Fallen Tree Games soube exatamente como fazer para que respeitar a conduta policial divirta, ao mesmo tempo em que não é excessivamente realista.
Gameplay dividida em três “jornadas” paralelas
A dinâmica de The Precinct é dividida em três grandes caminhos que eventualmente se encontram: tarefas de rotina da polícia, investigações sobre gangues, e a busca por um misterioso assassino que faz vítimas de modos peculiares para passar uma mensagem.
A mais básica envolve tarefas rotineiras, que são missões diárias para expandir o mapa e aumentar o seu nível. A progressão serve para obter novos recursos e pontos de habilidades para distribuir. Essas atividades ocupam horas pré-definidas como seu turno para o dia, e é sua obrigação respeitar e bater o ponto ao final da ronda.
Entre as tarefas diárias estão: fazer ronda a pé para identificar infrações de trânsito, evitar assaltos e fazer intensas perseguições (a pé, de carro ou de helicóptero) para solucionar crimes mais graves e complexos.
A central policial informa crimes por vezes já no seu campo de visão (sinalizados por uma espécie de mira de drone) ou razoavelmente distantes. Você pode aceitar ou recusar sem receio, com base no que estiver fazendo no momento. A recusa não te penaliza, o que é bem interessante, pois acontece de você iniciar uma perseguição e logo vir outro pedido de investigação pelo rádio.
O manual de conduta policial exige que você siga os passos corretamente para cada tipo de delito. Por exemplo, se um veículo estiver estacionado indevidamente na calçada, você deve multá-lo. Se perceber que um veículo está andando acima do limite de velocidade, deverá fazer o motorista parar o automóvel para pedir a documentação e fazer o teste do bafômetro, e então multá-lo ou prendê-lo conforme a gravidade.
Aplicar as sanções corretas rende experiência para subir nos ranks da polícia, e com isso desbloquear novas habilidades e recursos. Errar algo faz com que você perca um pouco de XP. Nada muito grandioso, especialmente porque o ganho de XP é sempre bem maior que a perda, de modo que o jogo não é tão punitivo quanto poderia ser.
Talvez isso seja até uma escolha baseada na vida real, visto que é comum que policiais saiam impunes quando praticam atos criminosos, ou cometem algum crime culposo (quando não há intenção de cometê-lo).
E se uma pessoa se negar a atender o seu chamado? Então suas ações ganham uma nova camada de ação, pois ela passa a cometer o crime de evasão de autoridade. É essencial acompanhar o desdobramento de todos os seus atos, bem como os dos investigados, para saber quais infrações aplicar e distinguir se a pessoa deve ser liberada, multada ou presa.
As atividades intermediárias, digamos assim, são as investigações relacionadas às gangues, missões especiais que fazem a história avançar. Cada gangue possui três personagens misteriosos, cuja identidade só é revelada ao conseguir um número determinado de evidências.
Essas provas podem ser encontradas aleatoriamente em qualquer tarefa diária, como coletar armas que criminosos deixam na cena do crime, ou abrir porta-malas dos veículos que você abordar.
É interessante que você pode proativamente posicionar o seu carro logo atrás de outro veículo e pedir para a central verificar a placa para saber se há alguma irregularidade. Caso haja, é possível solicitar que o motorista encoste o automóvel, mas provavelmente ele vai tentar fugir e dar início a uma bela perseguição.

Esse tipo de investigação proativa é algo positivo porque você não precisa depender apenas dos crimes gerados proceduralmente (que funcionam muito bem, por sinal). Também é bom porque ajuda a encontrar mais evidências para avançar às investigações relacionadas às gangues.
Por fim, a investigação do crime misterioso. As atividades relacionadas a essa dinâmica acontecem em momentos pontuais da sua progressão e num ritmo bem adequado. Os homicídios acontecem para passar uma mensagem, de modo que o assunto é sério, mas Nick ainda é um novato.
Logo, não cabe ao nosso personagem estar sempre envolvido nessa grande investigação, mas o talento que exibimos nas outras atividades pouco a pouco credencia o protagonista a se envolver junto com detetives e outros profissionais super qualificados da delegacia de Averno.
Tutoriais efetivos e comandos intuitivos
A cadência do tutorial é muito agradável e leva apenas o tempo necessário. É intuitivo jogar tanto com o controle, como com mouse e teclado.
Eu particularmente optei por jogar com controle e, embora tenha uma quantidade razoável de comandos para acionar a partir dos R1 e L1, o fato do tempo ser desacelerado em momentos de perseguição facilita o uso de recursos como chamar reforços a partir do R1.
É agradável também a cadência de novidades inseridas no jogo. Não se demora muito para subir de nível, pois não é difícil fazer uma ronda produtiva a ponto de render milhares de pontos de experiência. Cada aumento garante um ponto de habilidade para ser distribuído entre melhorias para atributos do protagonista, das armas, do veículo, de recursos ao chamar reforços, entre outros. Também acontece algum desbloqueio relacionado a veículos e armamentos.
Em paralelo à progressão do protagonistas e seus recursos, há também o desbloqueio de áreas da cidade de Averno. Esse progresso acontece quando você realiza um determinado número de ações em cada uma das localidades disponíveis.
Tudo isso garante um bom ritmo para as atividades, de modo que por vezes chega a ser até relaxante mesmo se tratando de um jogo de ação com crimes podendo acontecer a qualquer momento.
Gráficos e performance de The Precinct
A qualidade gráfica e a performance são também importantes pontos altos do jogo. Joguei The Precinct na qualidade máxima e não tive nenhum problema de performance, nem mesmo durante perseguições em alta velocidade e momentos de chuva.
O trabalho de luz e áudio do game é realmente bem feito, assim como vale destacar os reflexos das poças de água. A geração procedural funciona muito bem. É raro ficar mais que um minuto buscando por algum delito para entrar em ação.
Um aspecto que pode passar por mais algum refinamento é a inteligência artificial dos personagens de suporte. No geral, a IA funciona bem, mas por vezes o seu capanga, Kelly, ou os motoristas das viaturas que você chama para apoio fazem algumas bizarrices que atrapalham.
Por vezes o colega do protagonista demora muito para entender que precisa prender alguém que você já abordou, nos casos em que há mais de uma pessoa para ser detida. O pedido para que uma viatura venha prender alguém que você já finalizou todos os trâmites também por vezes não funciona, obrigando a colocar na sua própria viatura para levar à delegacia e fichar o criminoso em definitivo.
Um caso que me chamou atenção sobre IA se perder foi quando um criminoso saiu do carro e se rendeu após uma intensa perseguição, que acabou numa rua bem estreita. Estava pedindo para a central verificar antecedentes criminais quando, de repente, uma viatura que chamei como suporte alguns segundos antes da pessoa se render chegou em alta velocidade e nos atropelou.
Foi engraçado ver isso e não foi tão prejudicial. Isso porque perdi apenas experiência por não ter finalizado toda a investigação, pois felizmente o protagonista não morreu. Mas esse caso mostrou que ainda há espaço para o refinamento da IA dos policiais de suporte, especialmente quando estão pilotando carros.
Por fim, outro ponto de atenção é em relação às infrações cometidas por criminosos. É comum que fugitivos atropelem civis, mas quando você vai fichá-los o jogo não identifica que houve atropelamento (nem eventual morte), então se selecionar esse delito acaba considerando como algo errado. Como mencionei antes, a perda de XP é irrisória perto do que se conquista a cada dia, mas é algo que também pode ser aprimorado em futuras atualizações.
Veredito
The Precinct é um jogo criativo que pega a essência dos GTA top-down e cria uma ótima experiência de shooter visto de cima com elementos de simulação em que é preciso ser um policial que respeita o código de conduta. Seguir a lei pode ser divertido mesmo num game de tiro com perseguições em alta velocidade, e o novo título da Fallen Tree Games e da Kwalee provou isso.
4,3 / 5,0
Assista ao trailer:
Ficha técnica de The Precinct
Lançamento: 13 de maio de 2025
Desenvolvido por: Fallen Tree Games
Publicado por: Kwalee
Plataformas: PC (via Epic Games Store e Steam), PlayStation 5 e Xbox Series X|S
Número de jogadores: 1
Gêneros: Ação Neon-Noir, Arcade, Detetive, Geração Procedural, Sandbox, Shooter Visto de Cima (SHMUP)
Idiomas: Português (Brasil), Inglês, Francês, Alemão, Espanhol (Espanha), Japonês, Polonês, Russo, Chinês simplificado, Coreano, Chinês tradicional
Preços: R$ 80,99 (Epic Games Store), R$ 88,99 (Steam), R$ 112,45 (Xbox), R$ 149,50 (PlayStation)