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    REVIEW – Uma jornada extraordinária chamada Harold Halibut

    Harold Halibut é um game narrativo desenvolvido e distribuído pela Slow Bros. O jogo é totalmente feito à mão, usando técnicas de stop-motion para a construção de sua narrativa visual.

    O jogo será lançado no dia 16 de abril para PC, PlayStation 5, Xbox Series X | S e Game Pass. Harold Halibut conta a história do personagem que dá nome ao título, um homem que vive em uma nave chamada Fedora I. A espaçonave está numa missão há 250 anos em busca de um novo planeta habitável após abandonarem a Terra.

    Em meio à missão, a nave sofreu um acidente e acabou caindo em um planeta coberto 100% por água. Submersos nesse estranho ambiente, os moradores da Fedora I aceitaram seu destino e transformaram a nave em seu lar.

    Entretanto, a cientista Jeanne Mareaux, chefe do Distrito Laboratorial, ainda busca formas de retirar a nave do fundo do oceano e levá-la de volta ao seu curso em busca de um planeta habitável.

    Como assistente de Mareaux, Harold precisa auxiliar a cientista – e outros moradores do Fedora I – em tarefas do dia a dia. Entretanto, um certo evento muda o seu destino e o da tripulação para sempre.

    Confira a nossa crítica sem spoilers de Harold Halibut para PC.

    Análise de Harold Halibut

    Harold Halibut oferece uma experiência única. Acredito que essa seja a grande máxima do jogo: você não vai encontrar qualquer experiência meramente parecida com o que é apresentado aqui.

    Feito totalmente à mão, Harold Halibut possui um visual estupendo. Usando técnicas de stop-motion, todos os personagens são criados com características únicas e é impressionante o quão bem desenvolvidas são as movimentações durante a gameplay.

    Apesar do visual ser o apelo do jogo, há um grande esforço também em sua construção narrativa. Harold Halibut é um game narrativo e, desta forma, tem em suas cutscenes o fator principal para a história avançar.

    A ousadia de sua criação já é algo a ser celebrado. Em um mundo gamer onde a maioria dos jogos cinemáticos segue fórmulas pré-estabelecidas e similares, o jogo da Slow Bros vai além, mostrando que é possível entregar uma boa história com um formato único.

    Você já sonhou com uma vida diferente?

    Crédito: Divulgação / Slow Bros.

    O grande gancho que torna Harold Halibut em uma experiência diferenciada é seu potencial reflexivo. Harold está na nave há anos. Ele nunca viu seu planeta natal, nunca teve direito a uma escolha e é relegado a ações comuns por pessoas que se consideram mais inteligentes do que ele.

    A inércia de Harold é resultado direto do curso de sua vida. Sabendo que vive em uma nave há anos, e que não há nenhuma possibilidade dessa situação mudar até que sua vida chegue ao fim, de que adianta sonhar?

    Mesmo assim, o personagem possui o ímpeto de tentar coisas novas e de questionar, uma atitude que não é bem vista pela corporação SoAcqua. A SoAcqua possui uma CEO que manda e desmanda em tudo o que acontece dentro da espaçonave, decidindo o rumo que a vida de cada cidadão terá.

    Ao tentar levantar questionamentos simples sobre assuntos cotidianos, como o preço do bilhete usado nos tubos de transporte entre as estações da nave, Harold é punido e humilhado por basicamente todos à sua volta.

    Você, como jogador, se sente preso num ciclo degradante e que aos poucos vai moendo as suas esperanças. Entretanto, a capacidade de empatia e gentileza de Harold acaba apaziguando o sentimento de injustiça.

    Suas reações são surpreendentes, optando por respostas calmas e pouco reativas, qualidades que são uma raridade dentro da Fedora I e que estão adequadas à inércia vivida pelo personagem, que não se vê como alguém que tem potencial para algo grandioso.

    A gameplay de Harold Halibut impede que você tenha outras atitudes durante as missões, inviabilizando que você tenha liberdade para revidar as pequenas agressões que Harold sofre em tempo integral.

    REVIEW - Uma jornada extraordinária chamada Harold Halibut
    Crédito: Divulgação / Slow Bros.

    A meu ver, essa escolha do game acaba sendo uma oportunidade perdida em alguns momentos. Entretanto, é entendível, pois talvez a possibilidade de múltiplas escolhas acabasse tornando o jogo ainda maior do que ele já é – a história principal dura em torno de 10 a 12 horas.

    Pode parecer pouco perante outros jogos, mas pensar que este é feito com trabalho manual e em stop-motion coloca tudo em uma perspectiva diferente. Criar um jogo robusto, com diversos diálogos, side quests e personagens, tudo feito à mão, não é algo fácil. O feito de Harold Halibut é incrível por si só.

    Fechado esse parênteses, preciso salientar o quão maravilhosa é a análise dos conceitos da vida e como as histórias paralelas complementam essa grande reflexão, sem deixar a ação de lado.

    O game encontra espaço até para um pequeno ato musical de Harold, que é encantador e profundo na mesma escala. O mesmo podemos dizer de outras trocas entre protagonista e alguns personagens, onde a busca por um propósito em uma nave submersa num planeta oceânico se torna ainda mais interessante.

    Afinal, mesmo dentro de uma nave, a vida não pode parar. Então, a humanidade cria trabalhos que não são necessários, meios de transporte que precisam de dinheiro para ser utilizados e outras tantas coisas que possam nos manter ocupados com banalidades.

    Uma nave em busca de encontrar um novo planeta para recomeçar, mas que mantém as mesmas tradições que levaram o planeta anterior a uma desgraça. Não seria essa a grande ironia do jogo?

    Harold nasce como essa pequena fagulha de esperança em um sistema já destinado ao fracasso. Se você já sabe o caminho que sua vida levará ao seguir a corrente, por que não procurar opções que realmente o façam feliz?

    Ao criar uma profunda análise sobre a vida e escolhas, Harold Halibut já se destaca como um título diferenciado. Mas há muito mais a ser analisado além disso.

    Harold Halibut para além do personagem principal

    Apesar de Harold ser o centro da história, você terá oportunidade de conhecer muitos personagens além dele. Fugindo do clássico personagem secundário que só serve para aprofundar os interesses do personagem principal, Harold Halibut toma bastante tempo para apresentar mais de seu rico universo.

    Se você estiver com vontade de realmente conhecer mais sobre outras figuras como Tommy, Sunny, Brigitte, Chris e Félix, você precisa ficar de olho no seu dispositivo de mensagens – e que também é uma agenda de tarefas.

    Vira e mexe o jogo mandará alguma mensagem para você dizendo que um deles está esperando para conversar. Você pode aceitar a missão secundária e ir até eles, ouvir suas histórias e ajudar no que mais precisarem.

    Muitos deles irão lhe tratar com um pouco mais de carinho e atenção do que Brigitte, a chefe do Distrito de Energia, e Mareaux, pois são personagens igualmente pouco importantes para o grande objetivo da nave (como você).

    REVIEW - Uma jornada extraordinária chamada Harold Halibut
    Crédito: Divulgação / Slow Bros.

    Recai sobre os ombros das mulheres, e do cientista Cyrus, levar a humanidade “para frente”, e esse peso também está atrelado às suas reações impacientes perante atitudes mais humanas e menos técnicas.

    Confesso que me irritei um pouco com a maioria dos personagens. Estar na pele de Harold não é nada fácil. Mas há de convir que uma boa trama está atrelada à habilidade dos personagens nos fazerem sentir algo, mesmo que esse algo seja irritação.

    Para ser justa, Mareaux, apesar de tudo, é o mais perto de uma família que Harold tem. Como uma parente próxima, ela se preocupa e destina alguns momentos de ombro amigo, apesar do destino dessa pequena nação depender dela – e ela já ter muito com o que se preocupar.

    A personagem, por si só, renderia um spin-off (ou quem sabe uma continuação) muito boa. Repleta de camadas, ela é até mais interessante do que Harold.

    Entretanto, até o fim da história, nos sentimos mais próximos de todos eles, tornando o desfecho de Harold Halibut ainda mais significativo.

    Uma jornada dividida em capítulos, mas com pouca novidade

    Muito similar à construção narrativa de uma trama literária, Harold Halibut é dividido em capítulos. Cada capítulo leva o nosso pequeno herói em pontos específicos do entendimento de sua personalidade.

    Começamos com a total inércia, passamos pelo questionamento e o gradual acordar até que um acontecimento imprevisto o coloca em uma grande aventura que muda completamente a sua forma de ver a vida.

    Essa aventura irá lembrá-lo de um filme. Aliás, vale uma nota aqui: o que você mais encontra em Harold Halibut são referências a filmes e séries.

    Entre esses capítulos é impossível não se sentir um pouco insatisfeito com as missões que você precisa desempenhar. Obviamente, tudo está dentro do conceito proposto pelo jogo, mas mesmo as side quests acabam sendo mais do mesmo.

    Poucos são os momentos em que você, como jogador, se sente entusiasmado com algo novo e diferente – tal qual o Harold se sente com sua vida.

    REVIEW - Uma jornada extraordinária chamada Harold Halibut
    Crédito: Divulgação / Slow Bros.

    Portanto, na gameplay você basicamente fará o que os outros disserem para você fazer. Limpe os filtros, limpe a parede, busque uma encomenda, pergunte algo para alguém e seja maltratado, desrespeitado e pouco apreciado em cada passo de sua jornada.

    Mesmo a grande aventura, que coloca Harold em uma proposta nova, acaba se mantendo na mesma ideia de pegar itens, levar até outras pessoas, conversar com outras pessoas, pegar itens e assim por diante.

    Os melhores momentos são quando você precisa operar alguma máquina como, por exemplo, examinar uma amostra em um microscópio ou ajudar a Brigitte na análise de bactérias em rochas encontradas no planeta de água.

    Confesso que tiveram situações em que algumas coisas ficaram confusas. Não sei se podem ser bugs, mas entre um capítulo e outro, o dispositivo de Harold ficava lotado de novas mensagens e muitas delas não habilitavam nenhuma missão secundária.

    Acredito que fica livre para você decidir ir a algum lugar falar com alguma pessoa, mas mesmo as mensagens que citavam sobre um personagem específico estar no Fliperama, quando eu chegava lá, ele não estava.

    Provavelmente, alguns pequenos bugs como esse serão atualizados em um patch de lançamento, mas confesso que não atrapalhou a minha experiência. Como eu gosto bastante de ficar andando por aí, conversei com quase todos os personagens, fiz missões secundárias e consegui aprender bastante sobre o mundo do Fedora I.

    Então, se você quer uma dica: explore. Ande pelos distritos, fale com todo mundo que puder falar e aprenda mais sobre esse universo criado pela Slow Bros.

    Ah, e vale um adendo: o jogo está 100% em português e a localização está funcionando muito bem.

    Odisseia visual incrível e especial

    REVIEW - Uma jornada extraordinária chamada Harold Halibut
    O que você mudaria na sua vida? | Crédito: Emerald Corp

    Apesar de, em alguns momentos, Harold Halibut esquecer que é um jogo, sua experiência é incrível e única.

    O game é uma jornada metafórica de descobrimento sobre o seu eu interior. Temas como o sentido da vida, julgamento alheio, regras impostas que não fazem sentido e muitos outros pontos permeiam essa história, que entrega visuais lindos e ótimos diálogos.

    Com um tema moderno e atraente, que perpassa a ficção de bilionários em destruir o nosso planeta ao passo que criam mecanismo para se mudarem para outro – nos deixando sem escolhas -, Harold Halibut poderia se tornar facilmente uma ótima série de televisão.

    Composta por ótimos personagens, bons arcos e uma reflexão profunda, o game da Slow Bros é um título que você precisa conferir.

    Veredito

    Com uma experiência visual única e trama envolvente, Harold Halibut é um game narrativo obrigatório para quem busca conhecer jogos indie diferentes. Apesar da gameplay simplista e linear, o jogo feito à mão com técnicas de stop-motion tem em seu poder reflexivo, estético e filosófico a grande chave para uma jornada especial.

    Nossa nota

    4,2 / 5,0

    Assista ao trailer:

    Ficha técnica de Harold Halibut

    Lançamento: 16 de abril de 2024

    Desenvolvido e publicado por: Slow Bros.

    Plataformas: PC (via Steam), PlayStation 5, Xbox Series X | S e Game Pass

    Número de jogadores: 1

    Gêneros: Aventura, Narrativo

    Idiomas: Português, Alemão, Chinês Simplificado, Coreano, Espanhol, Francês, Inglês, Japonês, Russo, Turco.

    Preço: Ainda não divulgados

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