Pobres Criaturas (Poor Things) chega aos cinemas brasileiros no dia 1º de fevereiro. Dirigido por Yorgos Lanthimos e protagonizado por Emma Stone, o longa é uma adaptação do livro homônimo escrito por Alasdair Gray.
O elenco de Pobres Criaturas conta também com os nomes Willem Dafoe, Mark Ruffalo, Ramy Youssef e Margaret Qualley.
Confira nossa crítica completa sobre o filme.
Sinopse de Pobres Criaturas
Bella Baxter (Emma Stone) é trazida de volta à vida pelo brilhante e pouco ortodoxo cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe). Sob a proteção de Baxter, Bella está ansiosa para aprender. Faminta pelo mundanismo que lhe falta, Bella foge com Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado astuto e debochado, em uma aventura turbulenta pelos continentes.
Análise
Pobres Criaturas é uma produção difícil de encaixar em um único gênero. Com uma trama filosófica que quebra as barreiras conservadoras da época em que está situada, mas que ao mesmo tempo apresenta elementos futuristas ao estilo ficção científica, o longa explora os limites do convencional em um coming of age satírico e provocativo.
Yorgos Lanthimos é conhecido por seus filmes surpreendentes e pouco convencionais. Em Pobres Criaturas, ele eleva sua filmografia criando um mundo completamente novo, mas ao mesmo tempo extremamente familiar.
Na história, Bella Baxter é um experimento do cientista Godwin Baxter. Ao ser trazida de volta à vida, contra a sua vontade por meio de uma cirurgia aos moldes de Frankenstein, Bella passa a ver o mundo como uma criança presa no corpo de uma mulher adulta. Seu desenvolvimento é, obviamente, mais rápido do que o de uma criança, com a trama sendo acelerada para que a personagem alcance rapidamente o seu despertar sexual.
Buscando proteger sua experiência de um mundo que não a entenderia, Godwin e seu assistente Max McCandles (Ramy Youssef) procuram a ajuda de um advogado para criar um contrato que mantenha a moça presa a eles, e à mansão onde eles vivem, por toda a eternidade.
O advogado charlatão Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) se vê intrigado pelo quão valiosa pode ser aquela mulher e resolve persuadi-la a fugir com ele em uma aventura. Bella se vê apaixonada pela ideia de descobrir o mundo e resolve ir com Duncan nessa odisseia hedonista repleta de prazeres.
A partir daqui, acompanhamos Bella satisfazendo toda a sua “fome” do mundo de diversas formas: seja por meio das descobertas dos horrores, como a morte e a violência, ou por conta de suas dezenas de experiências sexuais evidenciadas em tela.
A verdade é que a jornada de Bella, mesmo que inocente em seu início, possui um tom mais triste do que, de fato, de realização por meio de todas as suas experiências. Afinal, como qualquer mulher, Bella se vê controlada por todos os homens à sua volta – seja de forma direta ou indireta. Até a sua escolha de estar viva ou morta foi decidida por um homem qualquer.
Apesar do início promissor, o destino ao qual Bella é levada devido ao seu apetite sexual é inevitável e previsível. Mesmo sendo uma mulher criada em moldes não convencionais, todas as amarras sociais são aplicadas exatamente da mesma forma, levando a personagem a entender ao longo do tempo que ser livre é possível, mas possui um preço.
O subtexto da trama traz questionamentos oportunos o tempo todo, seja pela visão de Bella em sua aventura ou pela exploração do passado de Godwin. O personagem possui uma construção muito interessante e igualmente solitária, o que o torna tão Frankenstein quanto Bella. A diferença é que, no caso de God, ele foi privado de todos os sentimentos e sensações humanas que Bella possui a oportunidade de sentir.
O paralelo entre os dois torna sua relação a parte “amorosa” do filme, pois o restante do mundo enxerga e entende Bella como, apenas, uma mulher que não se enquadra nos padrões que a sociedade busca, enquanto Godwin é visto como uma aberração que não merece nenhum tipo de afeto.
Por meio de suas descobertas e vontades sobre o mundo, o senso de humanidade de Bella conduz todos os outros personagens à sua volta, e é como se ela fosse um grande sol no meio de vários pequenos planetas. Apesar de toda a pressão feita pelos homens em sua vida, que tentam a todo custo podar seus desejos e moldar sua personalidade, Bella mantém suas convicções e vontade de descobrir o seu propósito na Terra.
Desta forma, para dar vida a personagens tão complexos de maneira irretocável, a escolha dos atores não poderia ter sido mais certeira. Dafoe é um dos atores mais versáteis do cinema, entregando ótimas performances em filmes de diferentes estilos. Nada mais justo do que escolher um ator poderoso, e com traços excêntricos, para dar vida a um cientista que se vê dividido entre o sentimentalismo e a ciência.
Já Emma Stone é, provavelmente, a melhor atriz de sua geração. Bella é uma personagem provocativa, feroz e, ao mesmo tempo, ingênua, e Stone consegue transitar por todas essas nuances de maneira genial. Não é coincidência que ela seja a grande favorita ao Oscar desse ano.
Todos os fatores técnicos que envolvem a construção do mundo futurista e antiquado de Pobres Criaturas, e principalmente sua maravilhosa trilha sonora criada por Jerskin Fendrix, tornam o longa em uma experiência belíssima.
Confesso que ao término do filme me peguei pensativa sobre a duração do arco de Paris e o excesso de algumas cenas vividas por Bella. Sua condução é um pouco longa, se tornando por vezes repetitiva, o que me divide em uma ideia sobre pender para um olhar mais masculino. Entretanto, seu arco final é bem conduzido, encerrando a jornada absurda de Bella com muito bom humor.
Veredito
Ao satirizar as normas da sociedade com elementos bizarros de ficção científica, o novo filme de Yorgos navega por uma narrativa corajosa e que realmente irá dividir opiniões. Com um ótimo elenco, e destaque para a excelente performance de Emma Stone, Pobres Criaturas é uma produção visualmente belíssima e conceitualmente divertida.
4,0 / 5,0
Assista ao trailer: