Pedágio é uma obra nacional que tem a direção de Carolina Markowicz e conta com Thomas Aquino (Bacurau, Os Outros) no elenco.
Sinopse
Suellen (Maeve Jinkings), é uma cobradora de pedágio extremamente amargurada com a vida.
Ela tenta se abraçar em sua religião e, por conta disso, seu filho, Tiquinho (Kauan Alvarenga), sofre com as consequências do fanatismo religioso, uma que é homossexual e sua mãe busca a cura gay para “curá-lo” de sua “chaga”.
Análise de Pedágio
Pedágio é uma grata surpresa no cinema brasileiro, visto que há pouco investimento, tanto de mídia/marketing, quanto mesmo de distribuição e tantas outras coisas que as obras nacionais carecem, ainda mais quando se trata de um filme alternativo.
A temática é pesada e por trazer à tona a forte hipocrisia dos fanáticos religiosos e como a cura gay é uma das criações mais estapafúrdias feitas pelos seres humanos.
O longa é ousado em mostrar o processo que os padres utilizam para tentar “endireitar” jovens que já lidam com a rejeição do mundo e que buscam a aceitação a todo o custo para se encaixar em uma sociedade que massacra a comunidade lgbtqa+.
Os métodos ridículos que humilham essas pessoas são mostrados de forma caricata, o que é uma excelente sacada da diretora que foi cirúrgica nesse ponto.
Sobre os demais temas, a hipocrisia é o que mais está presente aqui, principalmente quando vemos os pesos e medidas daqueles que se julgam os justos e que gostam de apontar dedos para o que não entendem e abominam, o que é o mais revoltando de Pedágio.
A personificação dessa hipocrisia está na personagem Telma, interpretada por Aline Marta Maia, que é uma religiosa fervorosa, que chama homossexuais de pederastas e outros tipos de ofensas terríveis, mas que trai o marido e culpa o demônio por deixá-la doente.
Suellen também é o retrato disso, já que comete crimes para arranjar dinheiro e pagar a “cura” de seu filho, que é feliz e tenta viver tranquilamente e ser acolhido, o que não acontece por sua mãe odiar seu jeito de ser.
As atuações são boas, com destaque para Maeve Jinkings, que consegue trazer os conflitos e angústias da protagonista que é extremamente infeliz, contudo, ainda julga seu filho, tornando o lar e vivência dele sofríveis. Thomas Aquino também tem uma atuação segura, com momentos de explosão e uma calmaria inquietante. Ele é um excelente e versátil profissional que deve receber ainda mais chances para brilhar.
Já Kauan Alvarenga é bem verde ainda, co m uma composição blasé demais para um personagem tão complexo e que deveria ser mais energético em sua jornada, já que passa por situações extremas e que precisava de alguém mais preparado. Na hora de estourar, o ator não consegue entregar o que a cena precisa, e isso prejudica um pouco a trajetória intrincada de Tiquinho.
Sobre o roteiro, ele é inconsistente, uma vez que ela dá muitas voltas para os eventos, tornando Pedágio arrastado. São várias histórias a serem contadas e, por vezes, alguns arcos se tornam grandes demais, o que deixa o principal ofuscado, ainda mais por conta da atuação de Alvarenga, que fica abaixo dos demais.
A direção é ótima e pega o melhor que pode do elenco. Há muitos planos fechados, com foco total no elenco em diálogos pesados e há uma fotografia bonita para cenários tão cinzas e empobrecidos para demonstrar uma família pobre de dinheiro e de espírito. O filme ainda dá um tapa em nossa cara, acabando de forma bem melancólica as jornadas daquelas pessoas.
Veredito
Pedágio é intenso, complexo e irregular, com altos e baixos em seu argumento, mas com ideias brilhantes e que são executadas de forma eficiente.
Com um pouco mais de dinamismo e foco, o longa poderia ser excelente, todavia, o que temos aqui é mais do que necessário para uma boa jornada e uma discussão interessante sobre como nossa sociedade se porta com pessoas vulneráveis.
3.8/5.0
Confira o trailer: