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    CRÍTICA – Os Fabelmans é carta de amor escrita por um mestre

    Os Fabelmans, novo filme de Steven Spielberg, é estrelado por Gabriel LaBelle, Michelle Williams e Paul Dano. O longa, que adapta os acontecimentos reais da vida de Spielberg, já está disponível nos cinemas de todo o Brasil.

    Confira abaixo nossa crítica sem spoilers da produção.

    Sinopse de Os Fabelmans

    Crescendo no Arizona da era pós-Segunda Guerra Mundial, um jovem chamado Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle) descobre um segredo de família e explora como o poder dos filmes pode ajudá-lo a ver a verdade.

    Análise

    A história do cinema se confunde, inúmeras vezes, com as conquistas de Steven Spielberg. Sua carreira é recheada de sucessos, tanto nos ditos blockbusters, quanto em filmes mais dramáticos. Spielberg é o tipo de diretor que consegue transitar em qualquer gênero e até mesmo quando se arrisca em algo completamente novo, como o remake de West Side Story, o faz com maestria.

    Quando Os Fabelmans foi anunciado, confesso que a empreitada me chamou a atenção. De acordo com o diretor, esse é seu filme mais pessoal, pois navega pelas memórias de sua infância e juventude, mostrando o quanto o cinema foi sua salvação em diversos momentos. E, se todos os filmes autobiográficos tivessem essa qualidade e emoção, sairíamos mais vezes apaixonados da sala de cinema.

    No longa, Spielberg se aprofunda em todas as suas marcas registradas de direção, mostrando por que ele é um dos maiores cineastas da história. A transição entre a infância, com filmes caseiros e assuntos rotineiros; até a adolescência, onde ele realmente encontra a receita para transformar figuras em heróis; é um deleite para o espectador.

    A abertura mostra o pequeno Sammy (interpretado na infância por Mateo Zoryan), indo ao cinema pela primeira vez com seus pais para assistir O maior espetáculo da Terra, filme de 1952 dirigido por Cecil B. DeMille. Por mais que essa cena tivesse tudo para cair nos clichês de filmes sobre a magia do cinema, Spielberg subverte as expectativas, criando uma sequência que explora a angústia do novo e o impacto que uma boa história pode nos trazer.

    CRÍTICA - Os Fabelmans é carta de amor escrita por um mestre
    Imagem: Divulgação / Universal Studios

    Esse primeiro ato é emblemático, pois apesar de ter todo o contexto do cinema como pano de fundo da história, o roteiro de Spielberg e Tony Kushner opta por mesclar os dramas familiares de Mitzi (Michelle Williams) e Burt (Paul Dano), os pais de Sammy.

    Essa visão, que não se limita a mostrar os acontecimentos pelo olhar de Sammy como narrador, faz com que os momentos coexistam de uma maneira instigante. Ao mesmo tempo em que um mundo novo se abre para Sammy, Mitzy e Burt se alienam com seus problemas em sua realidade paralela.

    Com 151 minutos de duração, Os Fabelmans transita entre a aprendizagem de Sammy na criação dos filmes com suas escolhas pessoais. A pressão entre seguir algo que ama ou alcançar as expectativas dos pais, ao mesmo tempo em que lida com uma realidade familiar conturbada. Acompanhamos cada pequeno momento com atenção e surpresa, pois há nessa história elementos corajosos (e que eu definitivamente não esperava encontrar).

    Quando falamos em atuação, Michelle Williams é sim o grande nome do filme. A história faz jus a essa percepção, pois boa parte dos arcos são construídos para que Williams brilhe sozinha. Há uma adoração de Sammy pela sua mãe, inclusive por suas falhas, e isso se intensifica em tela conforme os anos progridem.

    Paul Dano é um ator que, cada vez mais, tem encontrado grande espaço em Hollywood. Extremamente talentoso e versátil, o ator consegue dar vida a um Burt exigente e amável, mesmo com uma personalidade analítica e cética que, inúmeras vezes, tenta frear os sonhos artísticos de Sammy.

    A história de seus pais teve grande impacto na vida de Spielberg e, analisando seus filmes ao longo das décadas, é possível perceber várias dessas nuances intrínsecas em alguns personagens. Se as experiências moldam nossa forma de ver a vida, todos os altos e baixos vividos pelo diretor auxiliaram na criação de histórias memoráveis e atemporais.

    Uma das características que eu gosto bastante nos filmes de Spielberg é que ele sempre cria oportunidades para atores pouco conhecidos. Seja em um blockbuster recente como Jogador Número 1, ou em um filme mais “sério” como West Side Story, o diretor, que poderia trabalhar com qualquer ator famoso, opta por agregar novos talentos – ou, até mesmo, descobrir novos nomes para a indústria.

    Em uma Hollywood que hoje se vale de elencos com mais de dez nomes estelares em um mesmo filme, tornando os posters de divulgação uma lista telefônica que nem sempre é sinônimo de qualidade, Spielberg mantém sua essência de apostar em algo diferente, como quando fazia pequenos filmes para os colegas de sua escola.

    Dito isso, Gabriel LaBelle é uma grande surpresa no elenco. O jovem, que não tem muitos projetos em sua breve carreira, se sai muito bem nas cenas com Williams e Dano. O cast infantil também é muito talentoso e um dos pontos altos da primeira parte do filme.

    Filmes biográficos podem até ter se tornado uma febre nos últimos anos, mas é inegável que uma das mentes mais criativas, e que marcou a vida de inúmeras pessoas com seus filmes, tem sim muitos momentos interessantes para contar. Os Fabelmans possui um ótimo ritmo narrativo, arcos interessantes e pequenas revelações que se tornam grandes atos nas mãos de um mestre.

    Veredito

    Apaixonante e inspirador, Os Fabelmans mostra por que Steven Spielberg é um dos mestres do cinema. Com um roteiro bem construído, arcos emocionantes e um elenco em sintonia, o longa merece todos os reconhecimentos que vem recebendo na temporada de premiações.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Assista ao trailer:

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