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    CRÍTICA – MaXXXine dá um tapa na cara do conservadorismo

    MaXXXine é o último filme da trilogia iniciada em 2022 com X: A Marca da Morte. O projeto conta com a direção e roteiro de Ti West.

    Sinopse

    Maxine Minx (Mia Goth) se tornou uma estrela do cinema adulto, mas agora ela quer mais e recebe uma chance em filme de terror b.

    Entretanto, seu sonho está a perigo por conta de um serial killer que está obcecado por ela e quer arruinar os planos da atriz.

    Análise de MaXXXine

    Ti West fez um excelente trabalho ao criar o ousado longa-metragem X: A Marca da Morte, que trabalhava muito bem a subversão de uma final girl tão brutal quanto os vilões da franquia.

    Ao retratar o machismo e conservadorismo de uma forma diferente, o diretor conseguiu ultrapassar uma linha da cafonice e mais do mesmo e nos apresentar bons personagens, com uma protagonista poderosa e envolvente.

    Em seu filme de ascensão, Maxine consegue ganhar ainda mais camadas, contudo, existem alguns escorregões por parte de um roteiro inflado.

    Começando pelas atuações, mais uma vez Mia Goth dá show como a badass Maxine Minx. a atriz domina o papel e consegue mostrar as diversas camadas da anti-heroína, mostrando uma fragilidade emocional e, ao mesmo tempo, um instinto assassino fortíssimo. Outros destaques são Elisabeth Debicki, que interpreta Elisabeth Bender, uma diretora durona de difícil trato e Giancarlo Esposito, que interpreta Teddy Knight, um agente sem escrúpulos faca na bota.

    De negativo, temos Bobby Canivale e Kevin Bacon que dão origem a dois coadjuvantes caricatos e extremamente irritantes que queremos ver liquidados em tela.

    Tecnicamente, MaXXXine é espetacular, com um design de produção incrível que evoca os anos 80 com uma estética neo-noir que traz uma fotografia belíssima com bastante cores e neon que nos envolvem visualmente.

    Os figurinos, maquiagens e cabelos exagerados são um show à parte, além de uma trilha sonora escolhida a dedo com a imponente anti-heroína em tela explodindo cabeças.

    Além disso, West aproveita a estética oitentista para brincar com a câmera, usando transições divertidas com efeitos de fita cassete, televisões de tubo e efeitos visuais bastante interessantes, mostrando um ar bastante Tarantinesco em alguns momentos.

    Aliás, não fique surpreso de encontrar semelhanças entre Era Uma Vez em…Hollywood e MaXXXine, já que os autores usaram fontes muito parecidas de inspiração.

    O terceiro ato do longa da A24 tem referências fortes a acontecimentos marcantes dos anos 70-80 como a Família Manson e o caso fatídico de Sharon Tate, assassinada pelos seguidores do líder da seita.

    O gore aqui escorre da tela, com cenas emblemáticas que nos causam dor física. A brutalidade de algumas mortes ou torturas é bem impactante, ainda mais com o ótimo trabalho da direção no uso de efeitos práticos.

    Entretanto, se West manda bem no aspecto de direção, no texto ele peca um pouco pelo excesso. São personagens demais, tramas enroladas e algumas barrigas de roteiro que tornam o filme cansativo em alguns momentos.

    Ao meu ver, West queria incluir vários elementos no último capítulo de X, mas faltou tempo. São muitas ideias para um projeto de 01h44min. Se tivéssemos um pouco mais de duas horas ou até mais um longa, talvez a experiência fosse mais satisfatória.

    Contudo, há pontos relevantes como a apresentação do “pânico satânico”, uma crítica aberta ao conservadorismo exacerbado dos estadunidenses que condenavam tudo que era diferente ou, em sua percepção, que era do Diabo.

    A luxúria, o ocultismo e o lado B de Hollywood, como indústria e local, são bem representados aqui com uma forte crítica aos religiosos mais fervorosos que querem a todo o custo que sejamos iguais a eles, sendo contra a pluralidade e diversidade de ideias.

    A forma como o filme lida também com o preconceito com o terror é fascinante, uma vez que eles comparam diretamente com a indústria do pornô, já que o gênero subverte figuras sagradas e discute tabus da sociedade com uma pitada de sadismo, justamente o que nos faz amar muito esse estilo de narrativa. O proibido é permitido no terror, ainda mais quando se trata de um projeto +18 com um viés erótico e trash.

    Veredito

    maxxxine

    MaXXXine é fascinante, violento, sensual e irregular, uma mistura interessante que consolida um bom fechamento para a trilogia iniciada em 2022 com X.

    Ti West e Mia Goth se consolidam no terror e com certeza vão colher muito em breve os frutos do sucesso de se tornarem estrelas, nem que seja com uma trilha gigantesca feita de sangue falso e sátiras poderosas ao conservadorismo careta do mundo.

    Nossa nota

    3.8/5.0

    Confira o trailer:

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