Flow estreou nos cinemas brasileiros no dia 20 de fevereiro. A animação está concorrendo ao Oscar de Melhor Animação e Melhor Filme Internacional. O filme é dirigido por Gints Zilbalodis.
Sinopse
Gato é um animal solitário, mas quando seu lar é devastado por uma grande inundação, ele encontra refúgio em um barco povoado por várias espécies, e tem que se unir a elas apesar de suas diferenças.
Análise de Flow
São raras as vezes em que o cinema de animação independente consegue alcançar grandes públicos diante da massiva indústria das animações. Por isso, Flow se destaca em sua simplicidade abstrata. O filme, que acompanha um gatinho preto em sua luta para sobreviver a um dilúvio ao lado de outros animais, conquistou o mundo tanto por seu estilo único quanto por sua força narrativa dentro e fora das telas.
Dirigido por Gints Zilbalodis, Flow concorre ao Oscar de Melhor Animação e Melhor Filme Internacional pela Letônia, um país que se orgulha imensamente de sua criação (assim como nós nos orgulhamos de Fernanda Torres). E não é para menos: Zilbalodis atua em quase todas as frentes do filme — é diretor, animador, compositor, roteirista e editor. Para ele, há sentido em entender o básico de todas as funções para que possa compreender melhor sua equipe. Faz parte de uma concepção muito maior: olhar para o micro para reconhecer o macro.
De certa forma, o mesmo acontece com os animais de Flow. Depois que a água submerge a floresta onde viviam, o que resta é um barco, onde uma capivara, um cachorro, uma ave, um lêmure e o gato precisam aprender a conviver para sobreviver. O filme não tem diálogos; nossa conexão acontece por meio dos sons dos animais, que por si só expressam muito. Mas, definitivamente, o que nos liga a Flow é a maneira cativante e genuína com que seu protagonista reage ao que acontece ao seu redor.
Em certos momentos, Flow remete ao jogo Stray, no qual o jogador controla um gato laranja tentando sobreviver em um mundo pós-apocalíptico. Ambas são obras independentes e se passam em cenários onde restam apenas vestígios da humanidade, acompanhando protagonistas que lutam para entender suas novas realidades enquanto enfrentam desafios. Mas, enquanto em Stray o jogador é quem comanda o gato e direciona sua atenção, em Flow, a câmera assume a perspectiva do próprio gato preto. Esse recurso reforça o caráter contemplativo do filme, com longas tomadas que acompanham o olhar do gato — se ele para para observar algo, nós também paramos. Zilbalodis quer que sejamos o gato.
Essa imersão gera uma conexão intensa: se ele tem medo da água, também nos sentimos inseguros; se um animal desconhecido se aproxima, nos encolhemos junto com ele. A ligação nos permite, aos poucos, compreender os demais animais. Todos estão ali para desafiar ou ajudar o gato, mas, acima de tudo, são apenas animais. Há uma certa angústia em vê-los partir. O filme os acompanha enquanto chegam a diferentes pontos da ilha, e o gato precisa desenvolver suas habilidades para garantir alimento. Em alguns momentos, a experiência se assemelha a assistir a um documentário do Animal Planet, mas há uma aura mágica em Flow que o torna singular.
O que também impressiona é a animação de Zilbalodis. Flow foi feito no Blender, um software gratuito de animação. Seu visual é rebuscado, lembrando um videogame antigo, mas sem perder expressividade. Por incrível que pareça, o filme nunca cai no temível vale da estranheza. A composição dos quadros é igualmente fascinante, com planos abertos que nos permitem contemplar a imensidão da jornada.
No fim, Flow é sobre se reconhecer na empatia. Se a primeira cena mostra o gato se olhando sozinho no reflexo da água, a cena final exibe todos os animais juntos, encarando seus próprios reflexos. Porque, quando o fluxo finalmente se acalma, o que resta é aquilo que conquistamos no caminho — independentemente das adversidades do tempo e do espaço.
Veredito

Flow é um dos melhores filmes de animação dos últimos tempos, transgredindo os padrões da indústria para entregar uma obra ao mesmo tempo simples e abstrata. O diretor Gints Zilbalodis nos encanta com seu gato preto e nos conduz por um filme que trata de temas universais como empatia, algo de que precisamos cada vez mais. Ao mesmo tempo, a obra faz referência ao cinema contemplativo sem se tornar maçante.
5.0/5.0
Receba um resumo das principais notícias do entretenimento e uma curadoria de reviews e listas de filmes, séries e games todas as quartas-feiras no seu e-mail. Assine a Newsletter da Emerald Corp. É grátis!
Assista ao trailer: