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    CRÍTICA – Ficção Americana é ácido do melhor jeito possível

    Ficção Americana ou American Fiction é um longa estadunidense dirigido por Cord Jefferson e conta com Jeffrey Wright como protagonista. A obra é uma adaptação do livro Erasure, de Percival Everett.

    Sinopse

    Monk (Jeffrey Wright) é um escritor preto arrogante e que acredita que a sua forma de criar livros é a mais correta, não sendo reconhecido por seus méritos pelo público.

    Cansado de ficar no ostracismo, ele acaba fazendo uma sátira que estereotipa a população negra, o que acaba saindo pela culatra já que sua piada acaba fazendo muito sucesso, se tornando um best-seller.

    Análise de Ficção Americana

    Primeiramente, se você faz parte de uma galera que viu metade do filme e acredita que ele é contra a famigerada “cultura woke”, Ficção Americana definitivamente não vai satisfazer bem os seus critérios e valores, o que é válido, pois podemos pensar de formas distintas.

    Por mais que Monk seja um protagonista à moda antiga, o roteiro enaltece o tempo inteiro que ele é uma pessoa que tem várias atitudes detestáveis.

    O seu ego inflado o fizeram virar um fracasso dentro de sua própria ótica, uma vez que o que escreve e pensa não se reflete no que as pessoas querem.

    E é aí que está o grande trunfo do longa-metragem: a sagacidade em criticar quem ama diversidade, mas que quer isso porque dá dinheiro ou por acreditar em estereótipos étnicos-raciais.

    Em sua maioria, os criticados são todos brancos, mas sobra um pouco também para quem se aproveita desse sistema, uma vez que mesmo atacando um mercado podre que só pensa no monetário, acaba ajudando a perpetuar obras que apenas amplificam esse pensamento de que as minorias devem ter histórias determinadas pelo seu sofrimento e características mais “gritantes” e equivocadas sob a ótica de pessoas que enxergam tudo de fora, como um circo.

    Um dos diálogos mais emblemáticos é quando Monk confronta Sintara (Issa Rae) que é uma escritora negra que vende em seus livros o pior que já foi mostrado da cultura afro americana no cinema, tv, literatura etc., com personagens que falam gírias, lidam com crime, abandono parental e tantas outras coisas que estão “marcadas” nas alas mais pobres e que fazem parte de uma negritude que existe, contudo, não é só isso.

    Monk acredita que seus personagens podem ser o que quiserem: relações-públicas, médicos, presidentes, pessoas com histórias normais, cotidianas ou sem o famoso sofrimento, relegadas a papéis de coadjuvantes com empregos secundários, tramas pautadas pela dificuldade tudo mais.

    Esse embate é poderoso, entretanto, o roteiro parece aproveitar pouco disso.

    As questões técnicas são irreparáveis aqui. As atuações são excelentes, principalmente quando Sterling K. Brown e Jeffrey Wright estão em tela, assim como Adam Brody que tem uma ponta genial.

    O brilho dos diálogos está nas mãos de John Ortiz, que dá vida a um empresário boa praça que tem uma língua afiada e Keith David, que tem uma participação clamorosa aqui.

    A direção do estreante Cord Jefferson é segura, com momentos de uma simplicidade genial, principalmente nos diálogos e em momentos de mais acidez.

    Na parte do drama, direção e roteiro deixam um pouco a desejar, mas nada que deixe a experiência de Ficção Americana menor, só não encaixa tão bem quanto o humor sarcástico extremamente competente.

    Veredito

    ficção americana

    Ficção Americana é um duro golpe para quem acredita que diversidade é apenas uma discussão rasa para preencher cota, negando a problemática maior de uma indústria que tem pouco interesse em aprofundar pautas importantes, levando-as para o grande público de maneira instigadora.

    As atuações incríveis e direção e roteiro precisos deixam a obra ainda melhor, por isso, assista sem medo, principalmente se você tem mente aberta e pronta para o debate, recebendo em troca momentos de vergonha alheia para boas risadas.

    Nossa nota

    4,5/5,0

    Confira o trailer:

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