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    CRÍTICA – Drama pessoal sobrepuja corridas de carros em Ferrari

    Ferrari estreia nos cinemas brasileiros em 22 de fevereiro de 2024, com direção de Michael Mann e roteiro de Troy Kennedy Martin. No elenco estão Adam Driver, Penélope Cruz e Shailene Woodley.

    Confira a crítica sem spoilers após a sinopse.

    Sinopse de Ferrari

    Em 1957, o ex-piloto Enzo Ferrari está em crise. A falência assombra a empresa que ele e a esposa, Laura, construíram, enquanto seu casamento está instável. Ele decide contrapor as perdas apostando tudo na corrida Mille Miglia, na Itália.

    Análise

    Com um breve recorte sobre a vida do empresário de carros esportivos Enzo Ferrari (Adam Driver), Michael Mann apresenta um filme enxuto que encontra nos dramas pessoais sua chave matriz. Embora a corrida automobilística faça parte da trama do longa, Ferrari é muito mais sobre seu protagonista e dilemas em um momento crucial para sua empresa.

    O filme inicia com cenas em preto e branco dos anos 1920, quando Enzo ainda era um piloto, mas logo a imagem muda para 1957. Sua relação com a esposa e parceira de negócios Laura (Penélope Cruz) está esvaziada e pesarosa. O casal vive o luto pelo filho de 24 anos que acabou de morrer, mas enquanto Laura se afunda em ressentimento, Enzo esconde outra família com Lina Lardi (Shailene Woodley) e um filho de 12 anos.

    É uma escolha consciente do diretor dar profundidade às relações pessoais da vida de Enzo, ressaltando que seu filme é propriamente sobre a figura do piloto e empresário que criou uma das marcas automobilísticas mais famosas do mundo. Como centro da trama, Enzo é um homem de poucas palavras e muitos gestos; a atuação blasé de Adam Driver mostra que o ator é ideal para papéis de empresários duvidosos, assim como em Casa Gucci (2021).

    Soma-se ao elenco Penélope Cruz, que rouba a cena sempre que aparece como a esposa amargurada. Sua presença transporta o filme para outro tipo de história, algo muito mais intenso e triste. Do outro lado está Shailene Woodley, que em uma atuação muito mais sutil, abdica do papel de amante fatal para criar uma Lina preocupada com o bem-estar do filho.

    Se o filme cresce em conflitos pessoais, o que sobra para a Ferrari empresa é um amontoado de cenas de corrida que flertam com o entusiasmo e o perigo iminente do esporte.

    Sabe-se que a empresa está para falir, mas isso é pouco explorado no longa, e o próprio filme parece se entediar com as cenas de banco e dinheiro. Por isso, o diretor logo parte para a ação com um certo imediatismo em fazer sequências bonitas com os carros vermelho sangue voando no asfalto da Itália.

    Em busca de prestígio e reconhecimento, a Ferrari participa da famosa corrida Mille Miglia com seus pilotos, o espanhol Alfonso De Portago (interpretado pelo brasileiro Gabriel Leone), o britânico Peter Collins (Jack O’Connell) e o veterano Piero Taruffi (Patrick Dempsey). Embora sejam nomes importantes, os personagens têm pouco tempo de tela, sobrando para De Portago fazer o papel do jovem em busca de novas oportunidades.

    Ferrari é de fato um filme muito mais melodramático do que cinebiográfico, com cenas que parecem sobrar na montagem, que por sua vez, não consegue ser bem-sucedida nas transições entre a vida pessoal e profissional do personagem. Em uma produção que trata de um homem famoso por seus carros, falta justamente impulso e também conexão narrativa.

    Veredito

    Ferrari explora a vida pessoal de Enzo Ferrari enquanto deixa de lado a trama empresarial, que deixou o empresário italiano famoso no mundo automobilístico. Dessa forma, o diretor Michael Mann faz um filme unilateral que não apresenta nada de novo às narrativas biográficas, ainda que consiga ótimas atuações do elenco principal.

    Nossa nota

    3,0 / 5,0

    Assista ao trailer:

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