Beau tem Medo (Beau is Afraid) é o terceiro filme do aclamado diretor Ari Aster. Conhecido por seus trabalhos provocativos e incomuns em Hereditário (2018) e Midsommar (2019), o lançamento chega com grandes expectativas tanto do público, quanto da crítica.
No elenco estão nomes como Joaquin Phoenix, Nathan Lane, Amy Ryan, Patti LuPone, Stephen Henderson e Armen Nahapetian.
Confira nossa crítica sem spoilers do filme.
Sinopse de Beau tem Medo
Um homem paranóico embarca em uma aventura épica odisseia para chegar em casa para sua mãe em este novo, ousado e engenhosamente depravado filme do roteirista e diretor Ari Aster.
Análise
Beau tem Medo é o filme mais estranho da filmografia de Ari Aster. Construído em 4 arcos, cada um com cenários e contextos específicos, a trama apresenta a vida de Beau Wassermann (Joaquin Phoenix) e seu esforço por reencontrar sua mãe, Mona (Patti LuPone). Essa odisseia o leva a lugares inimagináveis, sempre acompanhado de um senso de urgência instigante e um humor sombrio.
Para quem esperava que Beau tem Medo fosse mais um filme de terror, provavelmente irá se decepcionar. Mesmo que seja vendido com um ar de suspense, misturado com certo nonsense, o longa de Ari Aster é um grande estudo de personagem que toma o tempo necessário para desbravar os diversos traumas e limitações de Beau.
Por se passar todo da perspectiva de Beau, é fácil perceber que o personagem possui certas amarras que se refletem em sua personalidade e inabilidade de convívio social. E essas amarras são fruto da culpa que Beau carrega em relação a sua mãe, sendo esse um relacionamento tóxico perturbador.
Durante os quatro arcos, Beau passa por uma cidade, uma casa do interior, uma floresta e uma cidade que aparenta ser litorânea, superando diversos desafios inacreditáveis ao longo do caminho e que só corroboram sua visão sobre a sociedade à sua volta.
A construção do longa lembra muito uma peça em vários atos, e também ressoa com a forma de criar narrativas que tornaram Charlie Kaufman um mestre da confusão. O que os acontecimentos realmente significam, e se são reais ou não, fica a cargo da análise e entendimento de cada espectador.
Entretanto, mesmo que traga mais perguntas do que traga respostas, Beau tem Medo é uma jornada criativa, espirituosa e, em certos momentos, realmente divertida. Joaquin Phoenix está maravilhoso em seu papel e consegue criar um personagem amedrontado, reprimido e extremamente ingênuo de forma convincente.
O elenco de apoio também brilha, mesmo que poucos deles tenham um tempo considerável de tela. Como suas histórias fazem apenas parte de uma jornada maior, eles conseguem preencher bem as suas esquetes e valorizam bastante a história num geral. Vale um destaque para Nathan Lane e Amy Ryan, dois grandes atores e que fazem um casal completamente descabido, mas interessante na mesma medida.
Os filmes de Ari Aster sempre valorizam suas locações e detalhes. Seja em Hereditário, com a pequena casa da família, ou em Midsommar com galpões repletos de escrituras e desenhos, há nos sets criados para os longas uma identidade muito forte do que a produção trará.
Aqui não é diferente, mas Beau tem Medo explora mais de uma locação e abre espaço para que Aster ouse mais ainda. Seja no pequeno apartamento onde Beau vive, e que está em perfeita ordem – tal qual seus pensamentos no início da produção -, ou na casa da família que o sequestra após o atropelamento, Aster dirige cenas utilizando todo o espaço das locações como se fossem também um personagem do roteiro.
Com enquadramentos inteligentes, e que aproveitam os acontecimentos ao redor para complementar o deterioramento mental de Beau, o filme é uma odisseia nonsense que empurra o espectador aos limites do absurdo, subvertendo o esperado a cada nova cena.
Entretanto, mesmo com diversos elogios à capacidade de Aster de construir filmes incômodos, acredito que em determinado momento Beau tem Medo se torna muito cheio de situações. Perto do término do longa há uma sequência que beira o besteirol, estressando um pouco o limite do aceitável.
Veredito
Beau tem Medo é um filme confuso, que não consegue ser pleno o tempo todo, mas que entrega bons arcos de terapia e análise de personagem. Uma dramédia caprichada com altas doses de nonsense, o longa está pronto para surpreender muita gente por aí.
4,0 / 5,0
Assista ao trailer: