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    CRÍTICA – Ainda Estou Aqui apresenta história profunda e sensível em um dos melhores filmes do ano

    Representante do Brasil na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui é o novo longa do diretor Walter Salles. Baseado no livro homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva, a produção é roteirizada por Murilo Hauser e Heitor Lorega.

    A produção brasileira conta com grandes nomes em seu elenco, entre eles Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Selton Mello, Marjorie Estiano, Antonio Saboia, Humberto Carrão, Dan Stulbach e Daniel Dantas.

    Confira nossa crítica sem spoilers do filme.

    Sinopse de Ainda Estou aqui

    Rio de Janeiro, início dos anos 1970. O país enfrenta o endurecimento da ditadura militar. Os Paiva — Rubens, Eunice e seus cinco filhos — vivem na frente da praia, numa casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens é levado por militares e desaparece. Eunice, cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas, é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos. Baseado no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva.

    Análise

    Num certo dia, Rubens Paiva (Selton Mello) foi retirado do seu lar para prestar um “depoimento” e nunca mais voltou. Sua família passou anos lutando por justiça, e a história foi narrada pelo filho Marcelo Rubens Paiva em seu livro Ainda Estou Aqui, material base para o mais novo longa do cineasta Walter Salles.

    A produção começa em uma tarde ensolarada, com a família aproveitando a praia enquanto a situação do Brasil começa a ganhar contornos estarrecedores após o golpe militar. O espectador é colocado como parte daquele grupo de pessoas, acompanhando suas rotinas, segredos e desejos, antes que toda aquela realidade seja completamente destroçada.

    Um dos grandes trunfos de Ainda Estou Aqui é a capacidade de dividir sua construção de maneira muito efetiva. Ao contrário de outras produções em que é possível sentir que a explicação acontece de forma apressada, e que não há tempo de entender os personagens antes que a situação chegue ao seu ápice, aqui o roteiro toma todo o tempo necessário para estabelecer o cenário antes dos eventos principais.

    A tarde na praia apresenta a personalidade de cada membro da família, inclusive das crianças, fator que será muito importante para a forma como Eunice (Fernanda Torres) conduzirá suas ações nos anos que estão por vir. 

    CRÍTICA - Ainda Estou Aqui apresenta história profunda e sensível em um dos melhores filmes do ano
    Créditos: Divulgação / Sony Pictures Classics

    Falando nela, Eunice e sua determinação conduzem a trama ao longo dos 136 minutos de duração. Rubens está presente o tempo todo, inserido em cada acontecimento, mesmo que Selton Mello não esteja em cena. Sua presença é sentida, sua falta também, e essa dualidade traz contornos profundos e devastadores para a trama.

    Além de lidar com o luto, Eunice precisa abrir mão da vida como conhecia para garantir o futuro de seus filhos. Com a constante ameaça da ditadura militar, que segue monitorando sua casa, sua vida e família, a produção mantém o espectador grudado na personagem, promovendo uma sensação de constante ansiedade e angústia.

    Com uma história tão complexa, Fernanda Torres precisa equilibrar a nuance do luto e da força em tempo integral, algo que ela faz com maestria. Eunice não pode se deixar abater e nem deixar que a realidade ameace seus filhos. Para isso, ela cria uma persona e uma realidade paralela, onde não se fala dos acontecimentos perto de seus filhos, tampouco deixa transparecer suas preocupações.

    Acompanhamos cada pequeno cômodo da casa, a rotina da família e diversas cenas criadas em pequenos espaços, com momentos específicos do mundo externo se infiltrando sem permissão no dia a dia das crianças. Nunca há uma necessidade de trazer cenas chocantes, ou que escancaram algo que está implícito. Ainda Estou Aqui é objetivo em sua proposta, com a dor sendo um elemento constante a cada momento. 

    Como quem reprime o próprio choro e o próprio luto, Eunice vive uma vida em que ela não possui espaço para compreender e assimilar sua raiva e sofrimento. Há uma cena em específico que esse entendimento fica nítido, e tudo é transmitido por um simples olhar de Fernanda Torres.

    Além da atriz, vale ressaltar o ótimo trabalho de todo o elenco, que está em sintonia para consolidar Ainda Estou Aqui em um drama forte e emocionante. A participação de Fernanda Montenegro num momento contido, mas poderoso, demonstra o quão significativa é essa produção para os seus realizadores. 

    Vale salientar também o excelente trabalho de edição e trilha sonora em Ainda Estou Aqui. Há certos momentos em que a história é contada pela câmera de Vera (Valentina Herszage) e embalada por trilhas brasileiras, uma dinâmica interessante e que casa muito bem com os poucos momentos felizes dos Paiva.

    Os pequenos detalhes, portanto, tornam a produção ainda mais envolvente e emocionante. As fotos, os olhares, os momentos compartilhados e a construção desse ambiente constroem uma jornada interessante e cativante, que certamente se consagra como um dos melhores filmes do ano.

    Veredito

    Um trabalho sensível, profundo e realmente cativante, Ainda Estou Aqui tem tudo para se tornar um clássico do cinema brasileiro. Com um tema relevante e, infelizmente, muito atual, a produção nos relembra um momento da história do Brasil que nunca devemos deixar escapar da memória. Fernanda Torres e Selton Mello estão excelentes em cena, assim como todo elenco, e é torcer que a produção receba todos os reconhecimentos merecidos nas premiações mundiais.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

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    Assista ao trailer:

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