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    CRÍTICA – A Sociedade da Neve reconta uma tragédia humana

    A Sociedade da Neve é um filme espanhol que está disponível na Netflix. O cineasta Juan Antonio Bayona assina a direção e o roteiro. O longa está cotado para ser indicado à categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2024.

    Sinopse de A Sociedade da Neve

    Após um acidente de avião no coração dos Andes, os sobreviventes unem forças e contam uns com os outros na luta para voltarem para casa.

    Análise

    É difícil assistir a filmes sobre tragédias reais, visto que revisitar esses momentos pode ser extremamente doloroso, mas A Sociedade da Neve mostra que o cinema muitas vezes atua como uma cura para o que parece ser incurável. Adaptado do livro de Pablo Vierci, que conta a história do acidente do voo 571 da Força Aérea Uruguaia em 1972, na Cordilheira dos Andes; o novo longa de J.A Bayona é uma reflexão angustiante sobre a resiliência e perseverança humana em meio ao horror.

    Um time universitário uruguaio de rugby chamado Old Christians Club, de Montevidéu, freta um avião para uma partida no Chile. Entre os tripulantes estão amigos e familiares. De início, o filme dispensa gastar muito tempo para apresentações.

    Sabe-se através do narrador Numa, interpretado por Enzo Vogrincic, que nem todos os garotos se conhecem. O que esses jovens na casa dos 20 anos têm em comum são os sonhos e toda uma vida pela frente, que é drasticamente interrompida quando o avião cai. 29 tripulantes sobrevivem, e apenas 16 são resgatados após 2 meses perdidos por entre montanhas de neve.

    O diretor Bayona, conhecido por seu outro filme de desastre real, O Impossível (2012), cria uma sequência aterradora para a queda do avião. O que começa com uma turbulência ganha sons de metal se chocando e ossos sendo quebrados quando a cauda é arrancada no ar.

    A cena do ponto de vista de Numa, que vê seus amigos sendo ejetados ou esmagados, é quase como um lembrete que o pior ainda está por vir. Assim como o amedrontador tsunami em O Impossível, a neve e as montanhas em A Sociedade da Neve se tornam ameaçadoras e um cemitério para os rapazes.

    Após assimilarem sua condição em meio a um lugar deserto e de difícil acesso, eles começam a se perguntar o que fazer. Ir atrás da cauda do avião, enfrentar as montanhas por ajuda ou esperar o resgate? O filme explora essas questões, mas coloca uma maior em cima de todas: o que fazer para não morrer de fome?

    É então que os dilemas dos sobreviventes são postos na tela: para sobreviver eles precisam se alimentar dos corpos dos amigos mortos. Para alguns, como Numa, o capitão Marcelo (Diego Vegezzi) e o casal Liliana (Paula Baldini) e Javier (Esteban Bigliardi), o ato parece uma enorme transgressão a Deus, mas como outro personagem lembra, Deus está nas ações dos amigos para mantê-los vivos.

    É interessante que Bayona nunca condene os sobreviventes por seus atos. Os rapazes fazem ponderações sobre o canibalismo em situações extremas, se perguntando se está certo ou não, mostrando que há uma certa culpa católica no ar. Mas o filme escolhe por tratar do estado psicológico dos sobreviventes colocando a relação entre esses amigos como alicerce central para mantê-los unidos. Sendo assim, a direção se dedica a retratá-los como pessoas fazendo de tudo para sobreviver.

    Apesar de tentar abranger todos os personagens, o filme foca em alguns sobreviventes como os primos Strauch (Esteban Kukuriczka e Francisco Romero) que tem a difícil tarefa de cortar a carne, enquanto Nando Parrado (Agustín Pardella) e Roberto Canessa (Matías Recalt) têm a missão de tentarem achar ajuda.

    Veredito

    A Sociedade da Neve se mostra um filme angustiante. Em um momento, a tempestade soterra o grupo em seu abrigo o que leva a cenas de puro desespero. Em outro, personagens estão delirando e gritando em seu leito de morte. É um retrato o mais real possível do que essas pessoas passaram no tempo em que ficaram perdidas e quase sem esperanças, mas encontraram nos amigos a força e amparo para continuarem vivas.

    O roteiro carrega um teor introspectivo a respeito da sobrevivência que dificilmente se vê nas produções que abordam as tragédias humanas. Somado a isso está uma direção sensível que trabalha muito bem o contraste entre paisagem e sobreviventes, mas se isenta das discussões, deixando as escolhas somente para os sobreviventes. Dessa maneira, A Sociedade da Neve opta por não ser um filme sobre julgamentos e faz isso para honrar a memória tanto das vítimas, como dos sobreviventes.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Assista ao trailer de A Sociedade da Neve:

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