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    CRÍTICA – Trilha Sonora para um Golpe de Estado é denso e revoltante

    Trilha Sonora para um Golpe de Estado está indicado a Melhor Documentário no Oscar 2025. Dirigido por Johan Grimonprez, com roteiro de Grimonprez e Daan Milius, o longa estreia nos cinemas no dia 30 de janeiro.

    Sinopse

    Jazz e descolonização se entrelaçam nessa montanha-russa que reescreve um episódio da Guerra Fria. O documentário retrata como os músicos Abbey Lincoln e Max Roach invadiram o Conselho de Segurança da ONU em protesto contra o assassinato de Patrice Lumumba.

    Análise de Trilha Sonora para um Golpe de Estado

    Imagine um líder lutando pela liberdade de seu país. Agora, imagine que esse mesmo líder é vítima de uma grande conspiração que o leva à morte, envolvendo músicos de jazz, potências mundiais e reuniões da ONU. Essa tragédia, ocorrida nos anos 60, é retratada de forma exímia no documentário Trilha Sonora para um Golpe de Estado.

    Considerado o “assassinato mais importante do século XX”, Patrice Lumumba foi a principal liderança na luta contra a dominação colonial belga no Congo. Ele se tornou primeiro-ministro por apenas 12 semanas antes de seu governo ser derrubado por um golpe de estado.

    O documentarista belga Johan Grimonprez lança luz sobre esse fato tenebroso da história por meio de imagens de arquivo, reportagens e documentos. Ele revela como turnês de artistas de jazz pela África, patrocinadas pelo governo dos Estados Unidos, serviam de cortina de fumaça para que agentes da CIA operassem nos países, promovendo a derrubada de governos.

    Grimonprez cria um filme denso que, apesar do ritmo envolvente, exige atenção aos mínimos detalhes para compreender a complexidade da situação. Enquanto o movimento pan-africano crescia e mais países africanos conquistavam sua independência, as grandes potências viam isso como uma ameaça a ser neutralizada.

    O documentário destaca uma análise de Malcolm X, que alerta para o fato de que, se os líderes africanos e asiáticos se unissem, poderiam superar países como Estados Unidos, Grã-Bretanha e Bélgica em votações estratégicas na ONU.

    A Mobilização das Mulheres e a Exploração de Recursos

    O filme ressalta que, antes mesmo de Lumumba, as mulheres africanas já haviam se mobilizado por mudanças políticas, o que evidencia ainda mais a ameaça sentida pelas grandes potências. Além disso, a retomada da África significava o controle total dos recursos naturais.

    Países como os Estados Unidos usavam o urânio extraído do Congo, mas que era comercializado através da Bélgica. Grimonprez nos traz para o presente com comerciais de Tesla e Apple, apontando os resultados dessa exploração desenfreada.

    O Jazz como Pano de Fundo

    Toda essa tensão crescente é sustentada pelo jazz. Grimonprez faz uma junção inusitada, mas que funciona profundamente. Grandes artistas do jazz, como Nina Simone, Abbey Lincoln, Max Roach e Louis Armstrong, aparecem não apenas para emprestar suas vozes, mas também como personagens importantes na narrativa.

    No entanto, o uso excessivo de textos na tela, com trechos de artigos e livros, pode deixar o longa um tanto desbalanceado. Esses textos explicam e contextualizam os acontecimentos, mas acabam interrompendo o fluxo da narrativa.

    A Resolução 1514 e o Papel de Khrushchev

    O ritmo do jazz se intensifica quando o documentarista traz a figura do líder soviético Nikita Khrushchev, que teve papel central na Resolução 1514. Essa resolução declara que a subjugação, dominação e exploração de povos coloniais são uma violação dos direitos humanos e afirma que todas as formas de colonialismo devem ser eliminadas.

    Países como Estados Unidos, Reino Unido e Bélgica se abstiveram na votação, evidenciando seu papel como opressores.

    O Assassinato de Lumumba e o Protesto na ONU

    Após sofrer o golpe de estado com a intervenção da CIA, Lumumba foi preso e posteriormente fuzilado junto com dois companheiros por militares. Seu corpo nunca foi encontrado. Em fevereiro de 1961, os renomados músicos de jazz Abbey Lincoln e Max Roach invadiram uma sessão do Conselho de Segurança das Nações Unidas para denunciar o assassinato de Lumumba, aos gritos de “assassinos”.

    Veredito

    Trilha Sonora para um Golpe de Estado é intenso. Tal como uma aula de história, o documentário nos deixa intrigados, revoltados e horrorizados. Apesar de ser um fato recente, também serve como memória e denúncia.

    Patrice Lumumba foi um estimado líder que morreu nas mãos de seus opressores. O documentário de Johan Grimonprez não nos deixa esquecer disso, resgatando o passado para explicar o presente.

    Nossa nota

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    Assista ao trailer do filme:

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