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    CRÍTICA – Sugarcane e a ferida aberta de um genocídio indígena

    Sugarcane está concorrendo ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Documentário. A produção pode ser conferida no Disney+ e conta com direção de Julian Brave Noisecat e Emily Kassie.

    Sinopse de Sugarcane

    Uma investigação sobre abuso e desaparecimento de crianças em uma escola residencial indiana desencadeia um acerto de contas na vizinha Sugarcane Reserve.

    Análise

    Após décadas de violência e opressão, como uma comunidade pode se curar? Ou melhor, existe cura para o inimaginável?

    Esses são alguns dos questionamentos que Sugarcane levanta ao contar a história de um povoado indígena no Canadá que foi brutalmente vitimado pela Igreja Católica. Catártico e avassalador, o longa de Julian Brave Noisecat e Emily Kassie é um grito sufocante em busca de justiça, mas também de paz espiritual.

    Indicado ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Documentário, Sugarcane se aprofunda nos horrores ocorridos na Escola Residencial Indígena de São José entre 1891 e 1981. A instituição operava como um internato sob a promessa de oferecer educação e uma vida cristã às crianças indígenas, que, muitas vezes, eram arrancadas à força de suas famílias.

    Mais do que uma imposição religiosa, tratava-se de um projeto sistemático de apagamento cultural. Como se não bastasse essa violência simbólica, as crianças foram submetidas a abusos sexuais e físicos por parte dos padres, perpetuando um ciclo de dor que atravessou gerações.

    Para muitas das pessoas entrevistadas, revisitar esse passado é tão perturbador quanto abrir um baú de memórias trancado a sete chaves dentro de um sótão mofado. O documentário se divide em duas narrativas que convergem para o mesmo ponto: de um lado, Julian Brave Noisecat e seu pai, Ed Archie Noisecat, tentam compreender como Ed foi o único bebê a sair vivo da escola; do outro, duas investigadoras descobrem covas não identificadas de crianças desaparecidas na época, enterradas dentro do terreno da instituição.

    Os dois eixos — justiça e cura — atravessam o documentário do início ao fim, mas sem jamais se concretizarem de fato. A breve declaração do Papa Francisco sobre o caso escancara o descaso da Igreja, que se exime de qualquer responsabilidade sempre que pode.

    Da mesma forma, a aparição do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, ilustra como o Estado só parece se importar quando o assunto ganha as manchetes. Não há uma verdadeira reparação para o povo Dakelh, assim como nunca houve para os povos indígenas da América Latina convertidos à força e submetidos à violência colonial.

    Sugarcane toca na ferida. Quer saber a verdade, expor o trauma geracional que, por culpa e vergonha, foi silenciado por tanto tempo. O filme é potente, e ao mostrar a cultura e as tradições do povo Dakelh, revela uma forma de resistência que se contrapõe à dor e à angústia.

    Mas pode uma comunidade sobreviver a tudo isso? A resposta é sim — porque sobrevive apesar disso.

    Veredito

    Sugarcane expõe, de maneira brutal e comovente, como uma comunidade indígena sofreu anos de abusos nas mãos da Igreja Católica. Negligenciados por todos, dezenas de crianças foram submetidas a violências que desencadearam um trauma geracional irreparável. Julian Brave Noisecat, que além de codiretor é filho de uma das vítimas, conduz um relato pessoal sobre a busca pela cura, mas sem jamais perder de vista a necessidade de justiça.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

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    Assista ao trailer:

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