Sem Chão é um documentário palestino vencedor do Oscar de 2025 e que está disponível nos cinemas brasileiros. Na direção, temos Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor.
Sinopse
Sem Chão documenta a luta de Basel Adra e sua comunidade em Masafer Yatta contra a ocupação israelense. Filmado sob risco de vida, o longa é um testemunho cru da limpeza étnica palestina — e um desafio ao mundo: assistir não é suficiente. É preciso escolher um lado.
Análise de Sem Chão
É difícil escrever sobre Sem Chão, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2025. O longa não apenas denuncia o massacre perpetrado pelo exército israelense contra a comunidade de Masafer Yatta, no sul da Cisjordânia, mas consolida-se como um documento histórico — prova viva de um crime que permanece impune.
Uma obra assim dispensa análises técnicas. É cinema, mas, antes de tudo, é um ato de resistência, sobrevivência e memória de um povo que está sendo apagado diante da indiferença global.
Na direção, estão quatro cineastas palestinos e israelenses — Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor —, mas é Adra quem personifica a narrativa.
Desde os 15 anos, o ativista documenta a ocupação israelense em sua vila, registrando o cotidiano de destruição como quem preserva a única evidência de um crime antes que seja obliterada.
Com uma câmera na mão, ele captura soldados armados expulsando famílias com documentos que servem de justificativa burocrática para o roubo de suas casas. Em seguida, escavadeiras reduzem tudo a escombros, e os moradores são forçados a viver em cavernas, sob condições desumanas.
A estética do documentário é crua, fragmentada e deliberadamente caótica. Adra filma a violência como ela é: abrupta, desestruturada, ilógica.
Sua narração, intercalada com gravações feitas por seu pai nos anos 1990, reconstitui a história da resistência em Masafer Yatta e expõe o descaso de governos e da mídia.
Desde 1980, o Estado israelense classifica a região como “área fechada para treinamento militar” — um eufemismo para limpeza étnica.
A comunidade palestina lutou por décadas na Justiça, mas, após 22 anos de batalha legal, o tribunal israelense, como era previsível, decidiu a favor dos despejos.
Sem Chão é tanto um relato íntimo de Adra — revelando suas angústias e medos — quanto um espelho de nosso fracasso coletivo como sociedade, que assiste passivamente à destruição de vidas em nome de conflitos geopolíticos.
Em cenas chocantes, vemos Adra fugindo para salvar a própria vida, sendo agredido e testemunhando ameaças contra sua família. A insegurança é uma constante em uma terra que lhes pertence.
Um dos momentos mais poderosos do documentário é a dinâmica entre Adra e o jornalista israelense Yuval Abraham.
Eles têm a mesma idade e compartilham a luta por visibilidade à causa palestina, mas suas realidades são diametralmente opostas: Abraham, como israelense, transita livremente por fronteiras, enquanto Adra vive sob o jugo militar.
O apoio de Abraham é vital, mas não apaga o abismo de privilégios entre eles — ele jamais experimentará o terror cotidiano que define a existência palestina.
A força de Sem Chão reside em sua recusa ao distanciamento. Não é um filme para reflexão passiva; é um chamado à ação.
O massacre palestino segue em curso, e o que os diretores capturam é apenas um fragmento de uma catástrofe muito maior.
O Oscar não protegeu Masafer Yatta nem os cineastas, que continuam sofrendo represálias. Os opressores já nem se escondem.
A coragem de Adra ao documentar a destruição de sua vila e compartilhá-la nas redes é comovente, mas, para que o mundo mude, Sem Chão precisa ser visto, debatido e reconhecido pelo que é: um testemunho indignante de um crime que ainda não terminou.
Veredito

Sem Chão, vencedor do Oscar de Melhor Documentário, expõe com brutalidade os ataques do exército israelense contra uma comunidade palestina, em um processo sistemático de apagamento e limpeza étnica.
O ativista e cineasta Basel Adra narra sua própria história enquanto assiste à expulsão de amigos, vizinhos e familiares de suas terras. Um filme que choca, emociona e denuncia — mas, sobretudo, que incendeia a consciência.
5.0/5.0
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