Dirigido por Ian SBF e escrito em parceria com Deive Pazos e Alexandre Ottoni, A Própria Carne é o novo terror brasileiro que aposta em intensidade, simbolismo e um elenco afiado com Pierre Baitelli, Jorge Guerreiro, George Sauma, Luiz Carlos Persy e Jade Mascarenhas.
A produção foi lançada nos cinemas brasileiros no dia 30 de outubro e retrata três soldados desertores que encontram refúgio numa casa isolada na fronteira durante a Guerra do Paraguai. Lá vivem apenas um fazendeiro e uma jovem mulher. O que parecia ser salvação logo se revela mais terrível que a própria guerra.
Está entre nós uma das produções mais ousadas do cinema brasileiro, não apenas pelo seu enredo aterrorizante e intenso, mas também pela sua trajetória até chegar aos cinemas de todo o Brasil. A Própria Carne, filme produzido por Deive Pazos e Alexandre Ottoni, do Jovem Nerd, é um filme de guerrilha feito por pessoas apaixonadas pela arte cinematográfica, por contar histórias e, principalmente, pelo seu público.
Um filme independente situado durante a Guerra do Paraguai, um dos episódios mais assombrosos da história brasileira, que traz em seu cerne um terror psicológico, enigmático e cheio de mistérios. Na história, acompanhamos três desertores que, fugindo da guerra, encontram uma fazenda habitada por um fazendeiro e uma garota. Para os soldados Gabriel (Pierre Baitelli), Gustavo (Jorge Guerreiro) e Anselmo (George Sauma), o local é a única opção de refúgio, ainda mais com um deles ferido.
O que começa como um retrato de uma época de mazelas vai, aos poucos, ganhando uma atmosfera mais pesada, já que quanto mais tempo os três forasteiros passam ali, mais se dão conta de como seus anfitriões podem ser perigosos. Ajuda muito que Luiz Carlos Persy, vivendo o Fazendeiro, seja essa espécie de antagonista. Sua voz extremamente marcante de dublador experiente ganha em A Própria Carne uma caracterização igualmente perturbadora; seus monólogos durante o filme são como facas afiadas na mente dos protagonistas.
Como um todo, o elenco do longa se consagra pelas atuações. Jade Mascarenhas, como a Garota, está arrepiante – com um sorriso escrachado e demoníaco – mas, querendo ou não, a atriz é mal aproveitada; sem dúvida havia mais espaço para sua personagem na trama.
Do mesmo modo, falta uma coesão entre roteiro e direção. Ian SBF faz um trabalho árduo, aproveitando ao máximo o ambiente ao redor, porém, quando se trata dos personagens, um direcionamento mais assertivo seria válido para que a emoção em tela transbordasse e não ficasse apenas nas palavras. Um exemplo disso é a cena em que um personagem vai ser torturado, mas o que seria o clímax do filme chega atrasado devido a tanto diálogo expositivo.
Se por um lado a direção hesita, por outro o som é um triunfo técnico, usado principalmente para dar ritmo à história. Muito do que é apresentado em termos de trilha sonora vem, com certeza, dos anos em que as produções do Jovem Nerd trabalharam com sonorização. Há um quê de audiodrama, com sons que vêm ora de um lado, ora de outro – o que pode desagradar alguns, mas também evoca a identidade dos produtores. Em especial, vale citar uma das melhores cenas do filme: o som abafado de alguém batendo a cabeça na parede enquanto o plano está fechado no rosto do personagem revela como o terror pode ser intensamente herético.
A Própria Carne é um filme que traz esse olhar para dentro do Brasil, referenciando nossa história e cultura, mas também expande nosso olhar para o macro, revelando o quanto podemos ser grandes quando criamos histórias originais que mostram o potencial brasileiro.
Veredito
A Própria Carne é um filme intenso que traz o terror psicológico e visceral para o centro de sua narrativa a partir de um período tenebroso da história brasileira. Acompanhamos três desertores da Guerra do Paraguai que cruzam o caminho de um fazendeiro e uma garota extremamente estranhos, mas o pior sempre está por vir. Entre falhas e acertos, A Própria Carne é um exemplar de terror nacional que entende o Brasil como palco do horror. Catártico, bestial e empolgante.
3,0 / 5,0
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