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    Coração de Lutador: Dwayne Johnson fala sobre como empatia radical, dores físicas e psicológicas moldaram o filme

    Coração de Lutador (The Smashing Machine) estreou nos cinemas brasileiros no dia 2 de outubro, com Dwayne Johnson e Emily Blunt nos papéis principais. Dirigida por Benny Safdie, a produção conta a história real de Mark Kerr, explorando os altos e baixos da trajetória do lendário lutador de MMA.

    A Emerald Corp teve a oportunidade de participar de uma entrevista coletiva com Dwayne, espaço em que o ator comentou sobre as semelhanças entre sua história e a de Kerr, os desafios físicos e emocionais do papel e a importância da empatia.

    Confira a seguir os principais pontos abordados pelo ator.

    Seu papel neste filme é muito detalhado e realista, e eu gosto como a produção adota uma abordagem quase documental, sendo um tipo diferente de cinebiografia. Mark mostra tanto força, quanto vulnerabilidade, especialmente em sua vida familiar. Então, como você equilibrou trazer sua própria essência para o papel enquanto permanecia fiel à história de Mark?

    Dwayne Johnson: Ótima pergunta. Sabe, eu entendo como é isso, Stephanie. Eu sei o que é estar sempre na estrada, e sei o que é tentar equilibrar, como todos nós fazemos, trabalho, vida, relacionamentos e nós mesmos. Mas eu sei, de verdade, o que é estar na estrada e lutar todas as noites em uma cidade diferente. E sei o quanto isso cobra da gente. Não apenas fisicamente, mas devo dizer que o impacto no meu corpo foi enorme ao longo dos anos.

    Porque, no wrestling profissional, não existem temporadas. É toda noite em uma cidade diferente, viajando todos os dias. E isso realmente cobrou um preço alto do meu corpo. Mas, mais importante ainda, cobrou um preço alto dos meus relacionamentos, do meu casamento na época, e também da minha relação como pai. Eu me tornei pai da minha primeira filha aos 29 anos. Sou pai de três meninas, aliás. E tudo isso teve um peso. Então, eu entendo a pressão disso.

    E também entendo, porque vivi isso, a pressão de não conseguir equilibrar tudo. De tentar, mas falhar algumas vezes, e só assim realmente aprender a lição. Então, quando cheguei ao set para interpretar Mark Kerr, eu já sabia como era essa sensação: a pressão de tentar manter um relacionamento com a pessoa que você ama, talvez ter filhos um dia, mas também lidar com a pressão de vencer e ter sucesso.

    E, Steph, eu acho que, quando olho para o Mark, pelo menos no wrestling profissional, tudo é performático, é grande, ousado, teatral. E eu tinha o privilégio de poder dizer: “Ei, vamos tentar não nos machucar hoje à noite. Vamos fazer um bom show, seguir para a próxima cidade amanhã, e de novo, sem nos machucar. Vamos pra casa, ver nossas famílias e pagar as contas”.

    Mas, quando você olha para o Mark Kerr e esses lutadores naquela época, acho que a pressão não era só vencer, mas também manter uma aparência. Esse verniz de que eles são fortes, invencíveis, capazes de tudo, sem nenhum problema.

    Só que, na realidade, ele, como muitos outros, sofria em silêncio. Então, quando eu cheguei ao set, senti que conhecia essa vida, que já tinha vivido isso. A única coisa que eu não conhecia, e que foi muito impactante pra mim, era a questão da dependência química.

    Stephanie, eu ia pro set todos os dias impressionado com o fato de que Mark estava enfrentando um vício pesado enquanto tentava lutar, manter essa aura de campeão, de invencibilidade. Mas, na realidade, ele vivia com muita raiva e vergonha. E isso era pesado. Acho que, todo dia, chegar ao set com essa consciência me trouxe um senso profundo de empatia.

    E o Benny (diretor) disse algo no primeiro dia de filmagem que ficou comigo: “Vamos aplicar empatia radical em cada cena, em cada momento, com todos. Comigo, com a Emily, com os lutadores (em cena)”.

    Ele acreditava que, se conseguíssemos fazer um filme em que as pessoas sentissem uma empatia verdadeira por Mark, talvez elas também conseguissem sentir empatia pelas pessoas ao redor delas.

    Coração de Lutador: Dwayne Johnson fala sobre como empatia radical, dores físicas e psicológicas moldaram o enredo
    Créditos: Divulgação / A24

    A dor como fator determinante em Coração de Lutador

    Ao longo da conversa, Dwayne também falou um pouco sobre a dor como um fator determinante em Coração de Lutador. Para ele, todos os lutadores têm uma relação muito única e rara com a dor. E isso era algo que ele precisava incorporar nesse papel.

    Confira a seguir uma das respostas do ator.

    Dwayne: Perguntei ao Mark: Mark, naquele momento (na luta no Japão), se você sabia que não podia se mover e estava sentindo tanta dor, por que não desistiu? Por que não falou algo ao árbitro, já que estava consciente?’ Ele disse: “DJ, tinha 30 mil pessoas lá, e eu não ia desistir. Todos estavam lá para me ver. Eu simplesmente não conseguia me mover”. E então ele disse algo realmente profundo: “Eu prefiro ficar lá e suportar a dor até ser nocauteado do que desistir”.

    Quando você fala com alguém em uma situação assim, que está disposto a ir até o limite, percebe que não é só ele, todos esses lutadores realmente estão dispostos a ir até lá. E eu realmente admiro isso nele. Então, sabe, eu tive sorte, e digo sorte porque consegui sustentar minha própria dor, traumas e lutas do passado.

    Eu segurei tudo isso, e por muito tempo não estava realmente disposto a explorar isso diante das câmeras. Sempre senti que era algo íntimo, interno, que eu precisava resolver sozinho — aquela dor, a dor do passado. Mas finalmente percebi: “Espere, na verdade, isso é a maior bênção do mundo. Posso fazer o que amo, que é contar histórias”. A diferença é que agora consigo colocar essa dor no meu trabalho, e antes eu não estava disposto a fazer isso.

    Então, realmente, isso abriu um mundo completamente novo para mim. Agora posso me sentir confiante, ainda é assustador, mas confiante, em pegar essa dor, explorá-la e aplicá-la em personagens como em Coração de Lutador.

    Confira o trailer de Coração de Lutador:

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