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    CRÍTICA – O Problema dos 3 Corpos é ficção científica como há muito tempo não se fazia

    O Problema dos 3 Corpos (3 Body Problem) é uma série original da Netflix idealizada pela dupla David Benioff e D.B. Weiss cujo trabalho mais lembrado é a produção da série Game of Thrones.

    Roteirizada por Alexander Woo, a produção conta com oito episódios e direção realizada por Derek Tsang, Minkie Spiro, Andrew Staton e Jeremy Podeswa. O elenco é formado por Zine Tseng, Jess Chong, Marlo Kelly, Benedict Wong, Jovan Adepo, Alex Sharp, além das participações de Liam Cunningham, Jonathan Pryce e Rosalind Chao.

    A série O Problema dos 3 Corpos é uma adaptação do livro escrito por Cixin Liu publicado em 2007 com o mesmo nome, vencedor do Prêmio Hugo de Melhor Romance, além da indicação ao prêmio Nebula na mesma categoria. A obra faz parte de uma trilogia que se completa com os títulos A Floresta Escura e O Fim da Morte.

    A série da Netflix é a segunda adaptação realizada da obra, que antes ganhou vida no formato de um C-Drama de 30 episódios lançado em 2023, atualmente disponível nas plataformas Viki Rakuten e Peacock.

    Confira nossa análise sem spoilers de O Problema dos 3 Corpos logo após a sinopse.

    Sinopse de O Problema dos 3 Corpos

    Um grupo de cientistas faz descobertas revolucionárias ao longo das décadas. Ao mesmo tempo, as leis da ciência começam a cair por terra.

    Análise

    O Problema dos 3 Corpos inicialmente se passa na China em meio à sua Revolução Cultural, que ocorreu durante a década de 1960 e um grupo de astrofísicos, militares e engenheiros decidem realizar um projeto para se comunicar com possíveis vidas fora da Terra. A decisão tomada por um deles repercute na humanidade após cinquenta anos, ameaçando-a por forças desconhecidas.

    No tempo atual, eles terão que sobreviver aos acontecimentos em torno disso enquanto cientistas do mundo todo se reúnem para tentar desvendar os segredos e mistérios do projeto realizado no passado, ao mesmo tempo em que se preparam para a chegada dessa civilização avançada.

    Eu considero literalmente um problema bem agradável analisar a série porque é uma produção que toma muitas liberdades como adaptação e poderia ser considerada ruim. Entretanto, qualitativamente como uma produção serializada para streaming o resultado é excelente, ficando um sentimento misto a respeito de ter um verdadeiro veredito da série.

    Como na maioria das produções ocidentais que adaptam uma obra do oriente, existe um esvaziamento cultural em relação ao material de inspiração. É comum que isso ocorra como uma tentativa de ser tornar as obras orientais em algo “mais global”, mais “palatável” para o ocidente.

    O livro tem críticas importantes à sociedade e à política da China através de Ye Wenjie. Essa base poderia enriquecer e ampliar a adaptação da Netflix, dando uma profundidade maior à personagem, a sua participação nos acontecimentos, além de conectar de forma mais intensa a sua relação com os outros personagens da história. Mas infelizmente essa essência se perder na produção para o streaming.

    Na série, esse período é abordado de forma muito superficial, não dando essa profundidade para a motivação da cientista em seus atos e colocando um tom vilanesco que não se encaixa com a compreensão que sua contraparte possui no livro.

    Por outro lado, nesse sentido a forte camada de ciência do livro, especificamente nos campos da física e astrofísica, é um ponto muito bem adaptado pela produção. Isso é representado com grande qualidade na estrutura do roteiro, direção com um excelente trabalho em efeitos especiais e nos figurinos, que representam alguns momentos históricos do Ocidente e Oriente.

    Por essa razão isso acaba formando um contraponto para a série que, em aspectos técnicos, é muito bem executado: desde um roteiro com excelentes diálogos proporcionando núcleos narrativos que se encerram e preparam para o que pode vir a seguir em uma possível sequência da série, até ótimas atuações por parte do elenco que passa a emoção necessária proposta pelo seriado.

    Na adaptação para streaming o tom mais apocalíptico, as questões morais e emocionais  em torno dos aspectos humanos ganham um destaque muito maior na narrativa.

    “A última vez que reunimos os maiores cientistas do mundo tivemos Hiroshima”

    Diferente de outras produções que tratam o tema de invasão extraterrestre como algo muito mais voltado para ação e confronto, na série o foco é totalmente a ficção científica utilizando conhecidos cientistas e conceitos da ciência, uma escolha pensada para que pessoas não familiarizadas com esse campo do conhecimento não sintam algum estranhamento, considerando que poderia passar uma sensação de monotonia por ser um seriado muito mais voltado a diálogos (que em muitos momentos são mais do que necessariamente a ação com discursos patrióticos).

    Pelo contrário, existe uma percepção realista muito interessante que abrange até o místico quando se desenrola a narrativa dessa adaptação de O Problema dos 3 Corpos.

    A 1ª temporada da série 3 Body Problem adapta o primeiro livro da trilogia criada por Cinxin Liu. Crítica sem spoilers
    Créditos: Netflix / Divulgação

    Particularmente acredito que é uma forma de encarar esse gênero que faz muita falta nas produções modernas, principalmente por despertar a curiosidade sobre outros campos de estudo e reacender debates sobre as próprias relações humanas em si.

    Conceitualmente a série sintetiza amplamente os fatos do primeiro livro da trilogia, utilizando elementos do segundo livro para preparar o terreno para uma possível sequência, que não é impossível dada a qualidade apresentada no primeiro ano do seriado.

    Veredito

    Entre acertos e erros, O Problema dos 3 Corpos é uma produção interessante para conhecer o material original, enquanto aproveita uma excelente opção mais clássica do gênero de ficção científica.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Assista ao trailer de O Problema dos 3 Corpos:

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