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    CRÍTICA – Assassinos da Lua das Flores é obra-prima de Scorsese

    Assassinos da Lua das Flores é o mais novo filme do lendário cineasta Martin Scorsese em mais uma parceria com Robert De Niro e Leonardo DiCaprio e é uma adaptação de um livro escrito por David Grann.

    Sinopse

    A tribo Osage consegue prosperar após encontrar uma fonte vasta de petróleo.

    Junto com a riqueza, eles recebem a ganância do homem branco, pagando caro por tentar ter uma vida que nunca conseguiram e sendo dizimados de formas misteriosas, mas planejadas.

    Análise de Assassinos da Lua das Flores

    “Pisar na pata de um cachorro dá mais problemas do que matar um indígena…”

    Assassinos da Lua das Flores veio com algumas ressalvas de minha parte, uma vez que seria adaptado pelo mito Martin Scorsese, um homem branco que mesmo sendo meu diretor favorito possui uma estética parecida em seus filmes, contando sempre suas histórias com algum ator caucasiano como o grande protagonista em um mundo sempre formado e dominado por eles como os grandes heróis ou anti-heróis.

    Entretanto, ao longo de quase suas 03h30min, a obra foi me dominando e mostrando que nunca devo suspeitar do absurdo talento do cineasta, uma vez que aqui ele teve uma sensibilidade gigantesca e ainda conseguiu subverter sua assinatura, colocando os indígenas como as pessoas ricas e de classe e os brancos como subservientes e gananciosos, sendo os principais antagonistas da dura trama contada.

    A direção é um primor estético, com contrastes fortes entre os vívidos Osages e suas tradições, trajes vistosos enquanto os “invasores” possuem a cor cinza como o tom para eles, além de termos muitas cenas com uma entrega gigantesca do elenco, planos sequências secos, com violência bruta e uma montagem elaborada que entrega quase uma espécie de “causa e consequência” das ações e contramedidas dos “heróis e vilões”.

    Sobre as atuações, De Niro e DiCaprio estão fabulosos e mostram bastante seu talento com personagens mesquinhos, gananciosos e que causam repulsa.

    Ernest Burkhart, vivido por Leo, é um homem sem intelecto e obcecado por dinheiro. Ele é um membro valioso da máfia de William Hale, interpretado brilhantemente por De Niro, pois possui um laço sanguíneo e consegue se infiltrar de forma bastante eficaz e sutil na vida de Mollie Burkhart, que tem em Lily Gladstone talvez o melhor trabalho do longa. Sua maldade vem muito mais de sua ignorância do que de fato por ser asqueroso, o que não o isenta de culpa no genocídio indígena causado por Hale e seus asseclas.

    De Niro nos dá ojeriza ao compor um subxerife que quer a todo o custo tomar tudo que os Osage conquistaram, mostrando uma falsa subserviência e compaixão, travestida de puro ódio por aquele lugar e pessoas, passando por cima de quem for preciso para ter o que quer.

    Falando um pouco mais de Lily Gladstone, o filme é dela, uma vez que sua atuação traz uma carga dramática gigantesca com expressões calculadas, passando todo seu sofrimento e dor com um olhar distante e com uma imponência física de uma mulher batalhadora e digna de sua posição. A esperança e o amor pelas pessoas vai sumindo no olhar de Mollie, e Lily nos passa tudo que ela está sentindo em cada detalhe.

    A trilha sonora encaixa muito bem com os sons naturais. Scorsese aproveita o melhor de seu elenco em alguns momentos apenas com o que temos em tela, sem a necessidade de uma trilha, deixando o momento ímpar e cheio de dramaticidade.

    A crueldade daqueles homens que se infiltraram e destruíram a tribo Osage de dentro para fora é mostrada de forma detalhada, sem poupar detalhes, tampouco justificar seus atos. O próprio FBI, que fora criado na ocasião de escalada da violência, só age por conta de dinheiro e influência dos indígenas, que foram dizimados mesmo com a ajuda do governo.

    Por fim, há ainda um momento que deveria ser uma catarse ao público, mas de forma brilhante, Scorsese consegue transformar aquele genocídio em entretenimento aos brancos afortunados em uma apresentação teatral, o que fecha com chave de ouro o tom de Assassinos da Lua das Flores que é brutal do início ao fim.

    Veredito

    assassinos da lua das flores

    Doloroso, cruel e sensível, Assassinos da Lua das Flores é uma obra-prima do maior diretor da atualidade, que consegue por sua lente nos mostrar o pior do ser humano.

    Com um elenco estelar, liderado pela surpreendente Lily Gladstone, o longa tem tudo para ser um estrondoso sucesso nas premiações, pois tem inúmeras qualidades e, de fato, merece todo o reconhecimento necessário.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Confira o trailer do filme:

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