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    CRÍTICA – Barry termina com um duro golpe no espectador

    Barry chegou ao fim em sua quarta e última temporada no serviço de streaming HBO Max. A série conta com a direção e protagonismo de Bill Hader, além do premiado ator Henry Winkler no elenco.

    Sinopse

    Depois de ser pego pela polícia, Barry (Bill Hader) tenta lidar com seus monstros internos por conta de seus terríveis crimes.

    Gene (Henry Winkler) e Sally (Sarah Goldberg) sofrem com as repercussões dos fatos ocorridos e buscam viver em paz, mesmo que por pouco tempo.

    Análise da quarta temporada de Barry

    Em 2018, Bill Hader iniciou um projeto ousado que unia duas ideias distintas que construíram uma narrativa surpreendente na construção de um protagonista subestimado e extremamente cativante.

    Como um assassino de aluguel poderia se tornar um ator? Como isso se encaixaria em uma história que mistura ação, drama e comédia de um jeito único e surreal? Hader fez improvável dar certo.

    Barry é uma aula de construção de narrativa, uma vez que conta com um elenco afiado, um texto forte e uma direção inspirada que não tem medo de chocar seu público quando necessário.

    A forma crua e sem rodeios como o texto se desenvolve é algo notável, visto que o usual em séries é vermos uma trama enrolada para termos algo sendo entregue. A última temporada de Barry consegue ter urgência e a cadência para respirarmos um pouco é incômoda.

    A comicidade continua em seu nonsense com momentos estapafúrdios como, por exemplo, uma tentativa frustrada de assassinato com um lança-foguetes ou uma conversa sobre execuções brutais como se fosse algo corriqueiro na vida de civis.

    Cada personagem possui camadas profundas e as construções inspiradas dos atores trazem o melhor deles.

    Winkler consegue fazer de Gene Cousineau um homem mesquinho e egocêntrico que mesmo sendo a grande vítima ainda é passível de desgosto. Há um misto de culpa com egoísmo na atuação de dele, o que nos faz ter sentimentos mistos. Sally tem a mesma pegada, com uma fúria em seu olhar que faz uma fusão entre medo, indiferença e raiva com um excelente trabalho de Sarah Goldberg.

    Entretanto, três personagens são os grandes astros de Barry: Fuches (Stephen Root), NoHo Hank (Anthony Carrigan) e o homem-título interpretado brilhantemente por Hader.

    O mentor de Barry é um personagem curioso, pois suas motivações giram em torno de seu pupilo. Mesmo conseguindo ser feliz, pelo menos aparentemente, Fuches não consegue se desvincular do protagonista. Seu amor por ele é paterno e há uma eterna dívida com o assassino/ator, com uma relação quase que parasitária. É quase como se Fuches não existisse sem Barry.

    Já NoHo é um dos alívios cômicos mais bem construídos da história da TV. A atuação brilhante de Anthony Carrigan que com sua aparência esquisita dá um toque sutil ao chefe do crime mais amoroso de todos os tempos. Sua jornada é uma das mais curiosas e divertidas de acompanhar e quando é necessária uma intervenção mais dramática, o ator consegue ser sublime em seus momentos. A relação entre NoHo e Cristobal (Michael Irby) é uma das mais inventivas e legais de se ver.

    Por fim, temos o grande astro do show: Barry.

    Bill Hader conseguiu finalizar de forma cruel e dura a jornada de seu anti-herói que é uma bomba-relógio psicológica. O personagem vai de 0 a 100 e suas emoções, com muita dor, ódio e culpa por ter medo de ser o seu demônio interior.

    A busca por amor de Barry também é sua ruína, visto que de forma atabalhoada e completamente tóxica ele vai destruindo as vidas ao seu redor. Mesmo que coloque as pessoas que ama em uma prisão mental, ele não se importa, tampouco mede as consequências de seus atos.

    Hader consegue fazer uma composição perfeita, entregando cenas memoráveis de explosão, sofrimento e cômicas com uma fisicalidade absurda. Seu jeitão de bom moço cria uma persona peculiar que passa a veracidade da sua incrível habilidade de matar seus inimigos. Mentalmente instável, ele se torna ainda mais perigoso, até porque boa parte das pessoas da sua atual rotina são comuns, quase como se um elefante entrasse em uma loja com vários artigos de vidro.

    De negativo, apenas uma que outra conveniência para o roteiro andar, contudo, nada que atrapalhe a louca experiência que é assistir a essa comédia de erros sufocante e intensa.

    Veredito

    Barry termina de forma brutal e satisfatória, sendo uma das melhores séries de dramédia dos últimos tempos. Subestimada pelo público, certamente deve trazer muitas estatuetas do Emmy com suas excelentes composições, roteiro e direção que tiveram o cuidado para fazer algo memorável e terminar do jeito certo e no momento certo, sem se arrastar a ponto de ficar maçante.

    Nossa nota

    4,0/5,0

    Confira o trailer da última temporada:

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