Dirigido e roteirizado pela estreante Charlotte Wells, Aftersun traz em seu elenco principal os atores Paul Mescal e Frankie Corio. Vencedor do prêmio dos críticos no Festival de Cannes de 2022, o longa foi indicado na categoria de Melhor Ator no Oscar 2023.
Aftersun está disponível na plataforma de streaming MUBI. Confira abaixo nossa crítica sem spoilers.
Sinopse de Aftersun
Sophie reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela tirou com seu pai 20 anos antes. Memórias reais e imaginárias preenchem as lacunas enquanto ela tenta reconciliar o pai que conheceu com o homem que desconhecia.
Análise
Aftersun é, certamente, um dos filmes mais sensíveis da temporada de premiações. Baseado em algumas experiências reais de Charlotte Wells, o longa possui uma trama fictícia com traços de autobiografia.
O filme retrata uma viagem de férias entre Sophie (Frankie Corio) e seu pai Calum (Paul Mescal) em um hotel na Turquia. Durante o período, Sophie tenta entender as atitudes de seu pai, um homem muito jovem, afetuoso e um tanto introspectivo. Devido ao término entre ele e sua mãe, e a mudança de Calum para outro país, Sophie passa pouco tempo com o pai, o que acaba o tornando uma incógnita.
A produção utiliza gravações de câmeras antigas, feitas durante a viagem, para reviver as memórias de Sophie e tentar preencher as lacunas do último momento em que ela esteve com seu pai. Essa dinâmica rende ótimas escolhas, tanto de fotografia quanto de montagem, com momentos impactantes lapidados em situações triviais.
Paul Mescal e Frankie Corio possuem ótima química e não são apenas os momentos de óbvio carinho entre pai e filha que retratam isso, como também os pequenos atritos criados ao longo da trama. A constante busca de Calum por se mostrar um pai presente e compreensivo, criando momentos de descontração e diversão durante a viagem, mascaram todos os problemas que esse personagem está vivendo dentro de sua própria cabeça.
Essa divisão entre o que ele mostra para a filha, e como realmente se sente quando ela não está olhando, é a parte mais poderosa de Aftersun. Há pequenos indícios, entre um diálogo e outro, que também evidenciam a diferença do pai que ele quer ser para os pais que ele teve. Mesmo com o investimento em se manter próximo da filha, existe uma distância invisível, mas palpável, que permeia toda a produção.
A atuação de Mescal consegue abranger todas essas pequenas nuances, transitando entre os momentos de afeto e o desespero que o envelhecer lhe proporciona. Mesmo com uma atuação contida, em sintonia com contexto em que o filme é construído, sua presença é sólida e bem construída, fruto do ótimo trabalho em parceria com Frankie Corio.
O roteiro criado por Wells é arrebatador em diversos momentos, se valendo da simplicidade das crianças na busca por tentar entender os adultos, mesmo que a complexidade desse mundo seja completamente diferente do que elas vivem.
A avaliação de Sophie das gravações quando adulta traz a ela uma visão diferente do que, quando criança, ela tinha de seu pai, e esse jogo de antes e depois funciona muito bem na finalização da produção.
Com 102 minutos, Aftersun apresenta uma trama simples, mas que consegue gerar em sua audiência momentos de autocrítica e melancolia. Há de se reconhecer que o debut de Wells é muito bem executado, tanto na direção, quanto no roteiro, sendo um dos filmes mais intimistas e interessantes da temporada.
Veredito
Aftersun apresenta uma última dança entre a infância e a adolescência. Um período de descobertas tanto sobre si próprio, quanto ao mundo e pessoas à sua volta. A relação entre pai e filha, e as nuances de uma viagem de férias, criam uma trama intimista e repleta de sentimentalismo. Um grande acerto de Charlotte Wells, que coloca seu debut como um dos mais interessantes dos últimos anos.
4,4 / 5,0
Assista ao trailer: