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    CRÍTICA – Scott Pilgrim: Takes Off desconstrói clássico teen

    Scott Pilgrim: Takes Off (Scott Pilgrim: A Série) é o anime oficial da franquia que chegou na Netflix no último dia 17 de novembro. Composto pelo elenco de Scott Pilgrim Contra o Mundo, a nova produção é composta por grandes nomes de Hollywood.

    Com criação do estúdio japonês Science Saru, o anime conta também com o retorno de Edgar Wright, diretor do live-action e que é produtor executivo dessa adaptação. Leia nossa crítica da série.

    Confira nossa crítica que possui pequenos spoilers da trama.

    Sinopse Scott Pilgrim: Takes Off

    As aventuras de um roqueiro de Toronto de 20 e poucos anos em conseguir e manter empregos, evitar ser expulso de seu apartamento e sobreviver aos encontros com as sete ex-namorados malvados da nova garota por quem ele está apaixonado.

    Análise

    Quando o filme Scott Pilgrim Contra o Mundo foi lançado em 2010 havia uma onda de romances com personagens femininas servindo mais de base para a reafirmação de personagens masculinos do que necessariamente sendo co-protagonistas de suas próprias histórias. Longas como (500) Dias com Ela (2009) e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), considerados grandes cults do cinema, expressam essa falta de tato com figuras femininas.

    As mulheres desses filmes normalmente são vistas como disruptivas, “diferentes da maioria”, mas capazes de fazer estragos no coração de jovens rapazes ingênuos. Como fruto do seu próprio tempo, o filme de Edgar Wright também surfou nessa onda, ainda que, trazendo elementos de HQs e vídeo games para dar uma quebra na invisibilidade feminina.

    Mas, o que isso tem a ver com o novo anime da Netflix? É simples, Scott Pilgrim: Takes Off é tudo o que o filme e antes disso, a história em quadrinhos de Bryan Lee O’Malley, não foram. E ainda bem! Buscando não repetir suas premissas anteriores, a série se atualiza para o público atual ao mesmo tempo que apresenta novas visões aos fãs nostálgicos. 

    É preciso dizer que no filme a figura de Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead), como essa personagem passiva, que não toma a frente por suas ações, sendo somente uma idealização da mulher ideal para Scott (Michael Cera), me incomodava profundamente. Mas, ao final do primeiro episódio do anime (e talvez isso seja um spoiler), quando Scott some durante a luta com Matthew Patel (Satya Bhabha), o primeiro ex-namorado do mal, o show ganha outro rumo e é uma quebra de expectativa bastante satisfatória.

    CRÍTICA - Scott Pilgrim: Takes Off desconstrói clássico teen
    Créditos: Divulgação / Netflix

    A partir disso, vemos Ramona encarando a Liga dos Ex-Namorados do Mal não somente para achar Scott, mas também para encontrar a si mesma e finalmente tomar ciência de suas próprias ações. É uma jornada para a personagem, que a cada episódio cresce em tela, a medida que entende seus erros e tenta corrigi-los.

    Fazendo um paralelo com a personagem do filme, Ramona não é mais aquela garota de cabelos coloridos que tem como única função ser o foco de desejo de Scott e seus exs, agora ela assume sua própria missão, ganha nuances enquanto reavalia seus antigos relacionamentos.

    Dessa forma, Takes Off trata sobre responsabilidades afetivas e o trauma de se relacionar de novo quando já se sofreu inúmeras vezes. Ainda mais quando se está entrando na fase adulta, onde se torna extremamente difícil falar ou expressar sentimentos com medo de julgamentos e abandonos. Logo, a nova série sobre o universo de Scott Pilgrim entende essa apreensão comum e faz disso uma produção potente.

    Destaque para personagens e animação icônica

    É estranho que a série que leva o nome de Scott Pilgrim não tenha o protagonista em sua maior parte, mas a decisão do criador Bryan Lee O’Malley e do escritor BenDavid Grabinski foi bastante assertiva. Com espaço para outros personagens, como Knives Chau (Ellen Wong) que ganha todo um arco dentro da banda Sex Bob-omb e vai além da namorada do ensino médio de Scott, a série consegue ser inovadora sem sair de seu próprio universo.

    O mesmo acontece com os ex-namorados, Gideon Graves (Jason Schwartzman) tem um história de origem; enquanto Roxy (Mae Whitman) recebe um encerramento adequado para sua relação com Ramona. São tramas interessantes e que levam o espectador a notar outro lado desses personagens que antes eram considerados vilões.

    CRÍTICA - Scott Pilgrim: Takes Off desconstrói clássico teen
    Créditos: Divulgação / Netflix

    Como animação, Scott Pilgrim: Takes Off também é um antro de boas escolhas. A série entende suas referências passadas e as utiliza para criar um novo design que mistura traços de anime com aspectos de vídeo game. Todas as batalhas entre os personagens funcionam como uma espécie de jogos de luta com direito a botão de start, barra de vida e moedas a serem coletadas.

    Na cena em que Lucas Lee (Cris Evans) enfrenta diversos paparazzi ninjas, o estilo é bastante nítido, combinando ação com humor. Essa animação icônica pertence ao estúdio japonês Science Saru que soube traduzir os quadrinhos para um outro formato sem perder a originalidade que só Scott Pilgrim tem.

    Veredito

    Scott Pilgrem: Takes Off subverte seu próprio universo para criar histórias mais interessantes que entregam complexidade e autoconsciência sem perder o seu lado divertido.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Assista ao trailer:

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