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    CRÍTICA – Pluribus é ótima série de sci-fi com a identidade marcante de Vince Gilligan

    Vince Gilligan dispensa apresentações. Um dos grandes nomes da televisão mundial, o criador de Breaking Bad embarca em uma nova aventura com Pluribus, sua série de sci-fi que foi lançada em 7 de novembro e já está com dois episódios disponíveis no Apple TV.

    Pluribus é uma proposta bem incomum para o que vem sendo a carreira de Gilligan nos últimos anos. Afinal, para quem viveu no universo de Breaking Bad por tantos anos seguidos, um sci-fi com um mundo distópico parece ser uma grande mudança de rota. 

    Entretanto, a maneira profunda e provocativa de contar histórias, uma marca registrada de Gilligan, segue firme e forte aqui e há como traçar diversos paralelos entre seus personagens principais.

    Nesta jornada acompanhamos Carol Sturka, interpretada brilhantemente por Rhea Seehorn, enquanto ela enfrenta um mundo dominado por um estranho vírus. Uma escritora de livros best-seller de romance, Carol vive uma vida de aparências e frustrações, algo minimizado por seu relacionamento com Helen (Miriam Shor).

    Isso tudo muda com a chegada do vírus, e Carol se vê obrigada a repensar sua própria existência. Nos seis episódios a que tivemos acesso, a personagem navega pelas dificuldades dessa realidade caótica, conhecendo um luto que engloba a perda do mundo que ela conhecia.

    Esse peso é carregado por ela ao longo de todos os episódios, algo que se divide entre a solidão de se ver sozinha em um mundo de “positividade”, por assim dizer, e a ânsia por encontrar uma cura para essa situação. A personagem é um grande estudo de caso, que se concentra no que faz de nós, humanos, algo tão único e como nossa individualidade é importante.

    Há também o subtexto de uma mulher que não pode se permitir, nem em meio ao fim do mundo, surtar e expor seus sentimentos. Seu “temperamento difícil” é um ponto que, vez que outra, se torna um elemento importante da história, colocando a personagem muitas vezes como uma pessoa difícil de lidar ou descontrolada.

    Toda essa situação, para além da ideia do mundo distópico e tudo o que acompanha essa pandemia, impacta na experiência ao longo dos episódios, nos mantendo em um estado de raiva junto com Carol.

    Essa habilidade de mover emoções e manter o espectador na beirada do sofá é um dos grandes méritos de Gilligan, que consegue extrair o melhor de suas produções junto a sua equipe de roteiristas. Pluribus tem tudo para arrebatar uma legião de fãs e, talvez, se tornar mais um grande clássico na carreira do showrunner.

    Mas nada em Pluribus teria efeito se não fosse a grande entrega de Rhea ao papel. Ela é, certamente, o grande ponto alto da série e consegue transitar entre a raiva, a angústia e alguns momentos de desequilíbrio cômico de maneira exemplar. Há muito tempo eu não me surpreendia tanto com uma personagem como com Carol. É certamente uma das grandes surpresas de 2025.

    E é impossível falar de Pluribus sem pontuar o excelente trabalho de direção e design de produção. O piloto da série serve como base para o tom que iremos acompanhar ao longo de todos os seis primeiros episódios, entregando uma catarse que, ao mesmo tempo em que surpreende por sua execução, gera curiosidade para os próximos passos da trama.

    Os cenários, e o mundo de Pluribus em si, também chamam muito a atenção, pois são quase como personagens da história, especialmente a cidade de Albuquerque. É tudo muito bem feito e atento aos detalhes, tornando toda a experiência ainda mais imersiva.

    Além de Rhea, Karolina Wydra e Samba Schutte são dois outros atores que se destacam em seus papéis, todos com subtextos que, apesar de não explícitos, navegam por contradições e a hipocrisia de um mundo dominado pela “felicidade” onde não há espaço para escolhas.

    Entretanto, apesar da excelente condução, acredito que Pluribus minimiza alguns momentos que poderiam gerar um perigo maior. Há algo que impede que as situações cresçam demais, provavelmente uma escolha que será justificada ao término da temporada, mas que até aqui pode gerar, por vezes, algum nível de frustração.

    Esse passo lento do roteiro é, também, uma marca das séries de Gilligan, que tomam tempo para construir a psique de seus personagens antes de apresentar o caminho que eles vão seguir. Tenho grandes expectativas para finale e acredito que pode surpreender bastante, mas mesmo sem os episódios finais, a jornada até aqui foi bem recompensadora.

    Veredito

    Ao mesmo tempo que inova ao investir em um sci-fi, Vince Gilligan mantém em Pluribus as características que fazem de suas produções tão famosas: um grande estudo de personagem, suspense crescente e uma direção poderosa. Rhea Seehorn é certamente o destaque desses seis primeiros episódios a que tivemos acesso e o seriado, em si, já é um dos grandes títulos de 2025.

    Nossa nota

    4,5 / 5,0

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