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    CRÍTICA – Papagaios explora o lado obscuro da busca pela fama

    Até onde você iria para ser famoso? Esse é um dos temas de Papagaios, longa dirigido e roteirizado por Douglas Soares, que teve sua estreia no 53º Festival de Cinema de Gramado. A produção conta com Gero Camilo, Ruan Aguiar, Leo Jaime e Angela Paz no elenco principal.

    A produção explora o conceito dos “papagaios de pirata”, pessoas que aparecem no fundo das matérias de jornais, televisão e revistas, a fim de conquistarem a tão almejada fama. Essa, que é quase uma profissão de tempo integral, serve como argumento para contar a história de Tunico (Gero Camilo), uma subcelebridade que não perde a oportunidade de aparecer.

    Após um acidente trágico em um parque de diversões no Rio de Janeiro, Tunico conhece Beto (Ruan Aguiar), um homem misterioso e reservado que logo se torna peça-chave na vida do papagaio. A relação dos dois é o fio condutor de toda a trama, que navega por entre o suspense e a comédia de maneira muito natural.

    A história da dupla inusitada funciona e é potencializada pelos segredos que envolvem o personagem Beto. Com uma ótima cadência entre o relacionamento dessas duas figuras e sua evolução como parceiros no mundo da fama, a produção passa por eventos que escalonam a tensão e mantêm o espectador ansioso pela próxima reviravolta.

    Por ser um thriller com ótimos elementos de comédia, Papagaios cria espaço para que Gero domine a tela em todos os momentos que está em cena. O ator veterano empresta a seu personagem não só um grande carisma, mas também uma perspicácia característica de quem vive (e faz parte) dos grandes acontecimentos da cidade há décadas.

    Tunico é tão empenhado em sua profissão como papagaio que dedica seus dias a monitorar rádios, TVs e jornais a fim de encontrar sua próxima chance de brilhar. Acompanhado por um grupo de amigos, que são quase um sindicato de papagaios, Tunico é o centro de toda a ação, e Beto se vê completamente atraído por isso.

    Já Tunico vê no menino a possibilidade de um laço quase familiar, tornando o sujeito em um herdeiro de seu trono como o principal amigo dos repórteres. Mesmo que o longa não tome muito tempo para explicar um pouco mais sobre Beto, a escolha criativa é acertada, mantendo a aura misteriosa do personagem por quase toda a duração da produção. 

    Papagaios também reserva algumas surpresas por meio de suas participações especiais, muitas delas utilizadas como elementos cômicos e que trazem mais dinamismo para a trama. Claudete Troiano, Leo Jaime e Babi Xavier, por exemplo, têm inserções muito fluidas ao longo da história e que arrancaram risadas do público presente na sessão.

    O trabalho de construção do universo de Tunico também chama atenção. Sua casa é recheada de recortes de jornais e itens de coleção que constroem a fama que o personagem acredita ter. Os detalhes de sua roupa, cabelo e presença também são pontos que acrescentam a esse tema, muito bem costurado pela equipe do filme.

    Esses espaços são a representação viva do legado construído por Tunico, servindo também como uma materialização visual de um objetivo maior que a trama apresenta em seu desenrolar. 

    Falando em desenvolvimento, Papagaios peca em não se aprofundar mais na vida e personalidade de seus ótimos personagens principais. Entretanto, seu quarto capítulo surpreende com uma boa proposta, o que acaba compensando e permitindo um fechamento muito satisfatório.

    Veredito

    Papagaios conta com uma trama direta e divertida, que consegue combinar de maneira efetiva elementos de suspense e de comédia. Gero e Ruan estão ótimos em seus papéis e formam uma dupla cativante, o que potencializa ainda mais o roteiro e a direção de Douglas Soares.

    Assista ao trailer:

    Esse texto faz parte da cobertura do 53º Festival de Cinema de Gramado. Acompanhe tudo sobre o evento no nosso Instagram, TikTok e YouTube.

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