Quando o cineasta mexicano Guillermo del Toro anunciou que estava produzindo uma nova versão de Frankenstein, criou-se uma certa expectativa em torno da produção. Um dos principais motivos era a paixão do diretor pelo romance de Mary Shelley.
Del Toro já disse várias vezes que era seu sonho adaptar a história escrita há quase 200 anos e que, durante seus 30 anos de carreira, estava se preparando para esse momento. A questão é que, quase sempre, nossos sonhos mais profundos podem se transformar em realidades decepcionantes.
O que acontece em Frankenstein de del Toro é uma mistura de sentimentos. De fato, o diretor traz um olhar genuíno e único para a trama, com uma direção criativa que certamente entende a profundidade da obra e quer a todo custo mostrar que domina a história. E talvez seja isso que torne o longa um tanto monótono. O que falta a Frankenstein é um estopim que o faça mais enfático ou até mesmo memorável.
O elenco é grandioso, com nomes como Oscar Isaac interpretando Victor Frankenstein, um cientista que busca desafiar a morte ao dar vida a um ser a partir de outros corpos. Jacob Elordi faz o papel da Criatura criada por Victor, e Mia Goth interpreta Elizabeth, uma jovem que se casa com o irmão de Victor e desperta o interesse de ambos os protagonistas. Ainda compõem a história Christoph Waltz como Harlander, tio de Elizabeth e principal financiador de Victor, além de outras estrelas como Charles Dance, David Bradley, Felix Kammerer e Ralph Ineson.
Com um time tão afiado, Frankenstein se sobressai quando o assunto é atuação. Em especial Elordi, que traz para seu personagem uma delicadeza assombrosa. Sua Criatura começa como um ser frágil, que necessita de Victor para entender a vida, mas, à medida que é rejeitado pelo seu criador, começa a ter curiosidade pelo mundo e buscar o que ou quem realmente é.
Muito se questionou por que del Toro buscou um ator considerado um galã para o papel de um monstro, ou até mesmo por que a maquiagem não é tão assustadora como nas outras reimaginações de Frankenstein. O que fica visível é que Elordi tem talento suficiente para segurar esse personagem e trazer o que há de mais belo e assustador na Criatura. Já, quanto à construção, o diretor busca uma identidade própria para sua versão, deixando de lado a ideia de um ser que se parece mais com um zumbi, como foi adaptado no filme de 1931 com Boris Karloff.
Do outro lado, é indiscutível que Isaac é um grande ator, trazendo sempre um olhar próprio para seus personagens, e com Victor não é diferente. O personagem pede algo mais exagerado, mas que, felizmente, fica no limiar. Goth também faz uma atuação concisa e é até um pouco estranho vê-la em um papel mais calmo e centrado, diferente de suas atuações na trilogia X. Por último, Christoph Waltz tem um papel menor, mas que traz relevância para a trama, o que torna sua morte um tanto desperdiçada e sem consequências.
Nesse sentido, a Criatura é o que mais faz jus à filmografia do diretor, que sempre trouxe para o cinema monstros que geram estranhamento e medo, mas que, em seu âmago, são seres que buscam aceitação e pertencimento. Desde O Labirinto do Fauno, Hellboy, A Forma da Água (que inclusive lhe rendeu o Oscar), até Pinoquio, sua animação mais recente, del Toro é um contador nato de histórias, utilizando efeitos práticos e maquiagens impressionantes para criar obras magníficas.
Então, se Frankenstein tem todo esse aparato, o que falta ao filme para ser espetacular? A resposta não é simples; com certeza, há o fator expectativa, mas mais do que isso, seu novo longa tem pouco apelo popular, talvez por ser uma história já contada outras vezes ou por ser um filme bastante polido. É difícil se identificar com a Criatura, com Victor ou com Elizabeth, e isso é algo primordial nas obras do diretor: o reconhecimento do público nos personagens.
Ainda assim, Frankenstein de del Toro é um espetáculo visual, com cenários que abraçam a estética gótica e esse romantismo sombrio que ele domina com facilidade. O triste é ver uma produção desse porte presa ao streaming, estreando quase escondida, quando tudo nela pede a imensidão da tela grande. Ao mesmo tempo, dá para entender: um filme desse tamanho exige um orçamento que poucos estúdios topam bancar hoje, e isso acaba engolindo o alcance que a obra poderia ter.
Veredito
Se Frankenstein foi um sonho realizado ou uma realidade dura para del Toro, só saberemos no futuro. Mas o longa consegue se consagrar como uma obra única, que traz à tona suas próprias discussões sobre pertencer, a vida e a morte, nutridas também por uma produção riquíssima visualmente. O que falta é um pouco mais de emoção para que os temas não fiquem apenas no papel. Destaque para Jacob Elordi, que realmente se empenha no papel e faz de sua Criatura um ser magnífico.
3,5 / 5,0
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