O Agente Secreto (The Secret Agent), novo longa do diretor Kleber Mendonça Filho lançado oficialmente no Brasil em 6 de novembro de 2025, tem a sua trama situada no nosso país em 1977, durante a ditadura militar. Seu personagem principal, interpretado por Wagner Moura, é apresentado à audiência nos primeiros minutos quase como um ícone de um faroeste antigo. Toda a cena tem uma tensão palpável, que flerta com o inesperado, o que já antecipa o desenrolar de um dos filmes mais interessantes do ano.
Acompanhamos a jornada de Marcelo (Wagner Moura), um homem que retorna para a sua cidade natal por um motivo que ainda não sabemos, fugindo ou buscando algo inicialmente não revelado. Esse fio de mistério permeia todo o roteiro, que é assinado por Kleber, e se mantém constante mesmo nos momentos em que o realizador busca explorar outros detalhes de Recife daquela época.
E por falar de época, um dos primeiros pontos que quero destacar desse filme é a reconstrução visual feita para ele. A produção nos leva diretamente para Recife de 1970 de uma forma muito convincente, com um trabalho técnico que enche os olhos. Há um cuidado primoroso na reconstrução desses lugares e na forma como essa parte histórica é apresentada em tela.
Evgenia Alexandrova, diretora de fotografia do filme e que também foi responsável pelo belíssimo Sem Coração de 2023, faz um excelente trabalho aqui. O Agente Secreto tem uma beleza visual que, muitas vezes, acaba roubando a nossa atenção, fruto de sua ótima condução técnica.
Para além da construção de seu mundo, a cidade é parte viva de todas as reviravoltas da trama, e a câmera passeia por esses lugares como se estivesse realmente fazendo um tour para aqueles que ainda não a conhecem.
O passeio engloba também o núcleo de personagens que embarcam nessa caçada a Marcelo. Bobbi (Gabriel Leone) e Augusto (Roney Villela) são contratados por Henrique Girotti (Luciano Chirolli) para dar cabo dele, e a história se mistura com a de figuras sinistras, como o corrupto Euclides (Robério Diógenes).
Paralelamente a isso, acompanhamos a história de outros perseguidos pela ditadura, um núcleo repleto de sentimento e que tem uma figura principal como norte: Dona Sebastiana, interpretada por Tânia Maria. Mesmo que suas realidades sejam tão tristes, é aqui que sentimos mais proximidade com os personagens, criando um laço afetivo que realmente causa impacto.
E Kleber ainda acha espaço para utilizar o gancho de uma perna engolida por um tubarão para criar um segmento inteiro dedicado à perna cabeluda que “ataca” pessoas na rua. Tudo isso, claro, com sagacidade de deixar uma mensagem a ser entendida pelo público.
Quando colocamos tudo isso em perspectiva, desde a investigação até a condução dos outros núcleos, O Agente Secreto utiliza muito bem sua duração (afinal, são duas horas e 38 minutos de filme), para desenvolver de forma consistente cada um desses segmentos.
O único ponto que talvez não tenha conseguido aproveitar da mesma profundidade está nas cenas no presente, que envolvem duas personagens fazendo a sua investigação (e que aqui são as responsáveis por conduzir os “próximos passos” da história). Ao aparecerem pouco e como pequenos inserts entre grandes momentos, acabam somando mais perguntas do que respostas.
Em sua construção textual, O Agente Secreto é um filme que tem em Wagner Moura o seu ponto de luz, e o ator domina todos os desafios que são apresentados em cena. Um dos maiores atores do Brasil, um dos grandes de sua geração, Wagner entrega ao personagem o peso, o charme e a complexidade necessários para ganhar o carisma do público de imediato.
Não é por menos que as frases “raparigou ou não raparigou?” e “o novato é casado e/ou aprecia a companhia de mulheres?” estão por toda a parte da internet. Um contexto e tanto que já marcou esse filme no imaginário popular.
Mas além de Wagner, Tânia Maria, Maria Fernanda Cândido e Thomás Aquino também estão excelentes em cena. Alice Carvalho possui uma aparição breve, mas com tempo suficiente para encantar e tomar conta da cena para si. Realmente um alinhamento de elenco que garante uma ótima fluidez para a história de Kleber.
Ao final, somos levados para um outro tempo, para uma outra realidade, que se conecta a aquelas pequenas cenas mencionadas antes. Elas amarram todos esses segmentos e encaminham o espectador a um encerramento pouco esperado e considerado por alguns um tanto polêmico. Mas a escolha é uma forma diferente de mostrar que a história não se encerra ali, com os protagonistas, e que as consequências do terror perduram por muitos anos.
Veredito
Um clássico instantâneo, O Agente Secreto equilibra elementos de drama, suspense e comédia em uma trama envolvente e com personagens extremamente carismáticos. Wagner Moura está excelente, e a direção de Kleber Mendonça Filho, atrelada ao trabalho de Evgenia Alexandrova, tornam o filme um mergulho profundo e cativante na história de Recife dos anos 1970.
5,0 / 5,0
Receba um resumo das principais notícias do entretenimento e uma curadoria de reviews e listas de filmes, séries e games todas as quartas-feiras no seu e-mail. Assine a Newsletter da Emerald Corp. É grátis!
Assista ao trailer:
