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    CRÍTICA – Faça Ela Voltar transforma o luto em agonia

    Faça Ela Voltar é o mais novo projeto dos irmãos Philippou. O longa é mais um acerto da A24 e está em cartaz nos cinemas brasileiros.

    Há uma teoria de que o filme faz parte do mesmo universo de Fale Comigo, primeira obra dos diretores. Entretanto, não há sequer nenhuma menção ao longo das 01h39min.

    O luto tem sido extremamente explorado na atualidade, uma vez que estamos cada vez mais saudosistas e com saudade de um tempo e de pessoas que se foram após a pandemia.

    Mesmo que obras antecessoras a um dos períodos mais sombrios da nossa história já trabalhem esta temática aos borbotões (Hereditário, Vingadores Ultimato, Fale Comigo e tantos outros são exemplos concretos disso), há sempre um lugar para quem busca uma narrativa instigante e que traga frescor, seja por meio de homenagens para aquecer o coração ou para destruí-lo.

    Em Faça Ela Voltar, o buraco é mais embaixo, visto que este processo tão doloroso é executado de forma brutal, agoniante e sufocante.

    É difícil de não sair se sentindo mal após os eventos do filme dos Philippou, que se consolidam de vez com esse projeto.

    É impressionante como os dois conseguem apertar os botões certos ao criar uma atmosfera sombria e violenta, seja com fisicalidade ou, principalmente, por meio de agressões psicológicas por conta de uma mulher que não aceita a perda de sua filha e prefere se afundar e jogar os outros no mesmo buraco que ela se encontra de sofrimento e autopiedade.

    Sally Hawkins, que fez aqui mais um trabalho brilhante, dá vida a Laura, uma mulher que viu sua filha perder a vida afogada em sua piscina. Ela tenta trazer sua garotinha de volta por de um ritual sombrio ao receber em sua casa como cuidadora os jovens Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong), uma jovem com problemas de visão severos.

    Laura não consegue lidar com sua dor sozinha e tem até um certo prazer em trazer outras pessoas para seu buraco emocional. Não importa se ela vai destruir a vida do outro, e sim, sanar seus problemas arrastando os demais consigo.

    Hawkins consegue ser doce e, ao mesmo tempo, assustadora e voraz, criando um inferno mental para seus novos protegidos. A vilã faz da vida de Andy um caos, gerando terror de formas bastante absurdas e até cômicas em dado momento, virando um irmão contra o outro.

    Já os meninos Billy Barratt e Sora Song se completam em características parecidas, mas que são trabalhadas de formas distintas pelos jovens.

    O primeiro apresenta um misto de fragilidade e ingenuidade emocional com força bruta com sua fisicalidade. Andy é mais forte do que Laura na questão corporal, mas extremamente fraco mentalmente, assim como qualquer adolescente. Ele tenta a todo custo proteger sua irmã dos males do mundo com seu otimismo falso, contudo, não acredita nem um pouco nisso. Laura se aproveita da fraqueza da mente de Andy para manipulá-lo com muita frieza.

    Piper é frágil fisicamente, todavia, forte em seu mental, mesmo que também caia nas armadilhas da antagonista adulta. Por mais que sua condição a limite, nunca a protagonista é uma vítima, conseguindo se defender quando necessário. Uma espécie de final girl improvável para a trama, muito bem conduzida por Song em sua atuação.

    O grande destaque vai para Jonah Wren Phillips, que tem uma visão assustadora e consegue dar medo com sua postura.

    O garoto tem o duro trabalho de trazer o aspecto do horror corporal e visual de Faça Ela Voltar, executando com maestria sua tarefa. As cenas em que ele aparece sempre nos dão um frio na espinha, principalmente uma que envolve uma faca, que nos deixa perplexos.

    Por mais que tenha poucas falas, o ator deixa sua marca no longa com seus olhos marcantes e fisicalidade absoluta nos momentos de tensão, principalmente no ato final.

    Por fim, mas não menos importante, temos a dupla dos Philippou que mais uma vez conduz com maestria a trama e direção de Faça Ela Voltar.

    Todos os movimentos de câmera são perfeitamente encaixados, dizendo muito mais do que está me tela, com uma fotografia impactante e lavada, além de trabalhar bem os focos certos em objetos ou dar peso ao que acontece em cada minuto do filme.

    A trilha sonora pesada, os momentos que misturam tensão, terror e um pouco de fôlego para o próximo soco são orquestrados de forma bastante criativa, parecendo, de fato, uma ópera visual.

    Nada aqui é à toa e, ao final, apenas o que queremos fazer é respirar aliviados de que esta experiência sombria e dolorosa acabou, não por ser ruim, mas sim, por ser intenso demais.

    Veredito

    Faça Ela Voltar é brutal, assustador e sem firulas, o que me faz acreditar que seja o melhor filme de terror do ano.

    Os irmãos Philippou se consolidam como grandes diretores e roteiristas, pois conseguem contar histórias surpreendentes mesmo com temas batidos de maneira bastante dinâmica e inovadora.

    Nossa nota

    5.0/5.0

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    Confira o trailer:

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