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    REVIEW – Hell Clock: desafiador, intenso e motivo de orgulho para o Brasil

    Uma mistura de RPGs de Ação como Diablo e Path of Exile com roguelikes tipo Hades. Essa é a proposta de Hell Clock, novo jogo brasileiro desenvolvido pelo estúdio Rogue Snail e lançado pela publicadora Mad Mushroom neste dia 22 de julho.

    O game disponível para PC conta uma versão de fantasia sombria da Guerra de Canudos, ocorrida no Brasil no século XIX. Em Hell Clock, controlamos Pajeú, guerreiro que conquistou sua liberdade em batalha, lutando para resgatar a alma de Antônio Conselheiro, seu mentor e líder espiritual de Canudos.

    A jogabilidade de exploração de masmorras (no caso, andares do inferno) e a visão isométrica parecem saídas dos clássicos Diablo e Path of Exile. Os elementos de roguelike, como builds montadas escolhendo opções aleatórias ao longo das runs e mortes permanentes, tornam a experiência ainda mais intensa e viciante.

    Isso porque o tempo volta a cada descida, e os poderes aumentam conforme enfrentamos terrores cada vez mais perigosos comandados pelas forças malditas que clamaram a cabeça de Conselheiro e aprisionaram sua alma.

    Cada run dura 7 minutos por padrão, embora a evolução da árvore de habilidades possibilite aumentar esse tempo conforme coletamos níveis de memórias, pontos que devem ser trocados para expandir uma árvore de habilidades passivas e benefícios no totem chamado de O Grande Sino, em Quixeramobim, o lobby do game.

    As builds de Hell Clock são bem amplas e ricas. Elas são compostas por habilidades ativas, passivas, armamento, vestuário, relíquias que garantem boosts e condições especiais nos status do Pajeú e de suas armas. Os status e recursos do personagem são complementados pelas melhorias adquiridas ao longo de cada run em totens e dropadas pelos inimigos.

    Essa grande variedade é um fator determinante para manter a experiência sempre interessante, estimulando que você experimente novas builds a cada descida.

    Referências lendárias são a base para criar uma identidade marcante

    Apesar de beber de fontes de alta qualidade e consolidadas no mundo dos games, Hell Clock também brilha por méritos autorais, pois constrói uma forte identidade não apenas pela sua abordagem a um capítulo sombrio da história brasileira, como também pelo seu estilo artístico e sua trilha sonora inspirada pelos elementos do sertão.

    E mais: a mistura entre RPG de Ação, roguelike e hack and slash deu muito certo.

    Um ponto muito positivo de Hell Clock é a possibilidade de facilitar um pouco sua gameplay com o modo tranquilo, ou dificultá-la ao extremo com o modo hardcore. Na primeira opção cada run pode ser feita até morrer, sem correr contra o relógio. Digo que facilita um pouco porque mesmo assim a experiência é cheia de desafios.

    Por sua vez, o hardcore é realmente para quem quer se desafiar, fazendo com que toda morte seja permanente e você precise iniciar um novo jogo.

    Existe ainda a opção de permitir pausar no meio da run em qualquer estilo que você quiser jogar, o que eu também gostei muito.

    O ritmo de aprendizado em Hell Clock é bastante agradável. Os tutoriais explicam bem os comandos e a grande variedade de possibilidades com a sua build. O desbloqueio dos andares e depois de recursos no lobby, como o Relicário e O Grande Sino, também acontecem de uma maneira muito boa.

    É também muito satisfatória a cadência para obter pontos que ampliam as árvores de habilidades, e também para conseguir o Fragmentos de Alma (o dinheiro do jogo) que permite comprar armas, vestuário e relíquias no Canto Abençoado de João Abade (a loja do game).

    Os primeiros passos em Quixeramobim apresentam recursos como a loja de armas e o Livro de Habilidades
    Primeiros passos em Quixeramobim, o lobby do jogo | Créditos: Emerald Corp

    Hell Clock oferece uma gameplay intensa e viciante

    Se você não for pro player em jogos do gênero, certamente vai perceber quando é hora de realmente dedicar um tempo para experimentar novas combinações de builds, pois a que você está usando já não está sendo suficiente para o nível dos desafios enfrentados naquele momento. E esse sentimento agrega um fator viciante para a gameplay, pois é provável que depois de uma longa run você se perceba dizendo “tá bom, essa é a última rodada e depois vou dormir”, mas na verdade não vai resistir à tentação de adiar algumas vezes a saideira…

    Dessa vez eu vou até o andar 10…

    Tá bem, se eu não for até o andar 15 é porque realmente é hora de parar (spoiler: não vai querer parar de jogar).

    Prepare-se para se viciar na gameplay de Hell Clock e dizer frases como essa.

    As builds também estão divididas em atos. Cada ato do jogo dá acesso a uma combinação específica de habilidades, que devem ser acessadas pelo Livro de Habilidades no lobby. Há uma mistura de ataques de curta e longa distância, bem como também de técnicas de defesa e esquiva.

    As relíquias também são parte importante da build, e podem ser encontradas ao longo das runs, ou também compradas conforme aparecem aleatoriamente no Canto Abençoado de João Abade. Os espaços para equipá-las são limitados, mas podem ser expandidos pouco a pouco. Essa limitação é também um convite ao experimento de diferentes combinações, o que acrescenta uma dose de desafio que te faz frequentemente quebrar a cabeça em situações em que se torna muito importante misturar características de determinados artefatos, mas o espaço não permite.

    Importante destacar que a performance de Hell Clock é sólida, e os movimentos são plenamente responsivos. O trabalho técnico feito pela Rogue Snail realmente merece os parabéns, pois é comum que o combate se torne muito intenso com diversos inimigos em tela, mas mesmo assim o jogo tanka.

    Eis que tudo isso está bem complementado por cutscenes animadas com uma linda ilustração que pouco a pouco contextualiza a brutalidade da Guerra de Canudos e os mistérios que permeiam essa aventura fantasiosa e sombria. A dublagem em português e a trilha sonora são excelentes pontos fortes de Hell Clock, e se destacam não apenas nas animações de transição, como também ao longo da gameplay.

    Apesar dos diversos aspectos positivos, o jogo também tem alguns pontos que poderiam ser um pouco melhores. Um deles é a explicação da opção Recuar no modo de jogo tranquilo. Na primeira vez que recebi um aviso em tela sobre esse recurso estava no 8º piso, e a cada novo andar o aviso aparecia tentando me convencer a voltar a Quixeramobim para mudar a build e retornar mais forte.

    Estilo artístico de Hell Clock é lindo e vai encantar quem é fã de Diablo
    Retorne Mais Forte de certa forma te induz à morte | Créditos: Emerald Corp

    A maneira como é explicado o Recuar dá a entender que você vai voltar ao lobby e podendo retornar mais forte ao piso em que está, mas na verdade o recurso é o mesmo que morrer, pois o jogo considera que você desistiu e termina a run dizendo que você foi derrotado, obrigando a voltar desde o andar inicial. Isso é um tanto frustrante, especialmente se o game te convencer a testar essa opção quando você estiver pela primeira vez num andar que ainda não tinha chegado.

    Outro ponto que poderia ser melhor é em relação à seleção de itens pro inventário e relíquias durante as runs ao encontrar totens e derrotar chefes. Não há um indicativo do que você já possui, e isso poderia facilitar muito a gameplay, evitando pegar algo repetido quando não for essa a intenção.

    Planos futuros

    O jogo já conta com três longos e desafiadores atos, além do modo Endgame Ascensão, com uma proposta mais “roguelike tradicional”, mas com uma abordagem única. No lançamento, esse recurso estará em fase beta, com planos do lançamento completo ainda a serem divulgados, mas com expectativa de chegar em 2026.

    A Ascensão é o reinício completo do seu mundo de jogo, como se fosse uma nova liga ou temporada em um ARPG, em que você perde todos os níveis, relíquias, equipamentos e Pedras da Alma adquiridos, e começa uma nova jornada de endgame do zero. Dessa forma, você pode personalizar a dificuldade e as mecânicas do novo mundo por meio de uma nova Árvore de Habilidades, para tentar vencê-lo com um número limitado de tentativas.

    É uma nova oportunidade para testar builds, relíquias e constelações ao longo do caminho. Mais detalhes do endgame estão disponíveis aqui.

    O jogo já conta com muitas horas de diversão e desafios, mas é bastante positivo ver que a Rogue Snail e a Mad Mushroom planejam um roadmap com novos conteúdos para manter a comunidade engajada. Esse é um atributo interessante também para quem está acostumado a jogar temporadas de Diablo, por exemplo, possibilitando renovar a experiência de RPG de Ação com visão isométrica e temática infernal em um game que realmente honra o que há de melhor no gênero.

    Veredito

    Hell Clock valoriza a essência de jogos como Diablo e acrescenta boas doses de desafios com elementos de roguelike para criar uma gameplay intensa e viciante. O título indie traz uma história genuinamente brasileira com trilha sonora engajante e típica do sertão, fortalecendo sua própria identidade entre os jogos do mesmo estilo.

    Com certeza é um jogo que deve servir de orgulho para a comunidade brasileira e também tem potencial para encantar (e viciar) pessoas de todo o mundo.

    Nossa nota

    4,8 / 5,0

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    Assista ao trailer:

    Ficha técnica de Hell Clock

    Lançamento: 22 de julho de 2025

    Desenvolvido por: Rogue Snail

    Publicado por: Mad Mushroom

    Plataforma: PC (via Steam)

    Número de jogadores: 1

    Gêneros: Explorador de Calabouços (Dungeon Crawler), Hack and Slash, RPG de Ação, Roguelike

    Idiomas: Português (Brasil), Inglês, Francês, Alemão, Japonês, Polonês, Russo, Chinês simplificado, Espanhol (América Latina)

    Preço: R$ 59,99. Uma demo está disponível gratuitamente no Steam.

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